Kuma Kuma Kuma Bear Volume 3 – Capítulo 56

A Ursa Briga com a Irmã Mais Velha da Noa

– Bem, Yuna, Fina, vamos entrar – disse Noa, nos guiando para dentro da casa.

Tmp-tmp-tmp-tmp-tmp-tmp-tmp-tmp-tmp-tmp…

Ouvimos passos apressados vindo de algum lugar.

Tmp-tmp-tmp-tmp-tmp-tmp-tmp-tmp…

Os passos se aproximavam rapidamente por trás. Quando me virei, uma garota loira correu em nossa direção.

– Noooaaaah!

– Mamãe!

– Noa, que saudade de você! – A mulher apertou a bochecha de Noa contra a sua. Ambas tinham o mesmo cabelo dourado. Ela parecia ter uns vinte e cinco anos, o que era jovem demais para ser mãe da Noa. Comparando os rostos lado a lado, percebi que eram bem parecidas. Fiquei me perguntando com quantos anos ela teve a Noa.

– Cliff não veio?

A mãe da Noa olhou ao redor.

– Papai ainda está trabalhando na cidade. Ele me mandou vir para a capital sozinha.

– É mesmo? Não acredito que ele deixou você vir sozinha.

– Ele deixou porque a Yuna me escoltou.

– Yuna? Você quer dizer aquela garota com roupas engraçadas?

“Engraçadas”? Já me chamaram de “estranha”, mas nunca de “engraçada”. Acho que no fim dava na mesma.

– Essa pessoa vestida de urso é a aventureira Yuna. Ela me escoltou até a capital. E essa é a Fina. Ela é… amiga da ursa.

Amiga da ursa? Desde quando isso?

Enfim, deixando isso de lado, cumprimentei a mãe da Noa.

– Yuna. Muito prazer.

– Eu sou Fina. A Yuna me trouxe nessa viagem – disse Fina, me imitando.

– Mas que crianças adoráveis. Sou Ellelaura, mãe da Noa. Vamos entrar para que me contem os detalhes.

– Mas mãe, como soube que eu viria para a capital?

– Ah, pedi ao guarda do portão que me enviasse uma mensagem urgente quando você e Cliff chegassem. Assim que recebi a notícia, larguei todo o meu trabalho para Sua Majestade e corri até aqui.

Uma mensagem urgente? Será que mandaram alguém ao castelo antes mesmo de chegarmos? E tão rápido? E ainda por cima ela disse que largou tudo pro rei? Isso era mesmo aceitável? Bom, talvez não conseguisse evitar, depois de tanto tempo sem ver a filha.

Ellelaura nos guiou para o interior da enorme mansão. Criadas vieram nos receber. Algumas não esconderam o espanto ao me verem, mas nenhuma riu. Fomos levadas a uma sala espaçosa.

– Sentem-se onde quiserem. Devem estar exaustas.

Havia dois sofás luxuosos para cinco pessoas cada, um de cada lado de uma mesa. Fina não saía do meu lado desde antes; parecia copiar tudo o que eu fazia. Quando me sentei no meio de um dos sofás, ela se sentou à minha direita e Noa à esquerda. Assim que nos acomodamos, uma criada trouxe bebidas. Eu estava com sede, então bebi com gratidão. Era gelado e delicioso. Fina também pegou seu copo e tomou tudo de uma vez.

Depois de saciar a sede, olhei novamente para Ellelaura.

– Lorde Cliff me pediu que guardasse isso, senhora.

Tirei da bolsa do urso a carta e a caixa com a espada do rei goblin.

– Ah, então esse urso na sua mão é uma bolsa mágica – comentou Ellelaura, abrindo a carta. Ela assentiu várias vezes enquanto lia, depois me olhou. Quando terminou, fechou a carta com cuidado.

– Então essa é a espada do rei goblin. Ele encontrou algo raro. E parece que você deixou ele ficar com ela.

– Ah, não foi nada demais, senhora.

– Pare de ser tão formal.

– Tem certeza?

– Claro. Está tudo na carta.

Agora eu queria saber o que o Cliff escreveu sobre mim…

– Diz que é melhor não se preocupar com seu jeito de falar. Que também é melhor não comentar sobre sua roupa. Diz que você é mais forte do que parece. Que se mete em encrenca por causa do traje, então para que eu a apoie se necessário… Tem muito mais aqui – leu Ellelaura.

Sim, ele me fez parecer uma completa encrenca. O pior era que tudo era verdade, então nem podia reclamar.

– Ele também escreveu que você é gentil, e que Noa gosta muito de você. Parece que Cliff confia bastante em você.

– Sério? – Ele confiou a segurança da Noa a mim, mas ouvir isso em voz alta era constrangedor. Não acreditava que confiava tanto assim numa garota que andava por aí de pijama.

– O fato de ele confiar a segurança da nossa filha a você diz muito. No começo, eu duvidei que conseguiria protegê-la sozinha, mas você matou cem goblins, um rei goblin, orcs, lobos-tigre e uma víbora negra. Quase achei que fosse uma piada.

– Sim! A Yuna é incrível! No caminho para a capital, ela derrotou orcs e capturou um bando de bandidos sozinha! – disse Noa.

Ellelaura ficou chocada.

– Sério?

– Sim, o Lorde Gran também estava presente. Ele pode confirmar tudo.

Noa contou animadamente tudo o que aconteceu. Devia estar feliz por rever a mãe.

– Bom, veja só a hora. A Shia deve estar chegando.

– Shia? – Mais um nome pra lembrar.

– É – disse Noa –, minha irmã mais velha. Ela estuda na academia real.

– Noa, você tem uma irmã mais velha?

– Tenho. Mas como ela é cinco anos mais velha, não somos tão próximas assim.

Ela tinha quinze? Olhei para Ellelaura de novo. Quantos anos ela tinha quando teve essa filha? Se tivesse vinte e oito, teria engravidado com treze… No Japão isso não seria aceitável, mas talvez aqui fosse diferente?

– Yuna, está com pensamentos estranhos na cabeça, não está?

Ela leu meus pensamentos como um livro aberto. Ou era boa em ler as pessoas, ou meu rosto entregava tudo. Resolvi ser sincera.

– Você parece tão jovem… Fiquei imaginando com que idade teve suas filhas.

– E com que idade acha que pareço? – Ellelaura corou. Parece que mulheres gostam de parecer jovens em qualquer mundo. Eu, por outro lado, odiava quando me achavam mais nova do que sou.

– Achei que tinha uns vinte e cinco, mas aí ouvi que sua filha tem quinze, então fiquei curiosa.

– Que bom ouvir isso. Normalmente não conto minha idade, mas abrirei uma exceção. Tenho trinta e cinco anos.

– Minha mãe é famosa por sua beleza.

– Então a filhinha dela vai crescer linda também, né?

– Espero que sim! Ficaria muito feliz! – disse Noa, contente.

Houve um alvoroço do outro lado da porta, que se abriu revelando uma garota de maria-chiquinha, idêntica a uma Noa mais velha.

– Voltei, mamãe! A Noa está mesmo aqui?

Devia ser a Shia. Estava de uniforme escolar. Então havia uniformes nesse mundo também?

– Shia, você tem visitas – disse Ellelaura.

– Perdão pela falta de educação. Espera, é aquele urso?!

– Sim. E você está sendo rude com ela.

Ellelaura, você também está sendo rude…

– Mãe, não brinca.

– Não é brincadeira. Essa garota vestida de urso é a Yuna, a aventureira que escoltou Noa até a capital. A menina ao lado dela é sua amiga, Fina – explicou Ellelaura.

– Está dizendo que essas três meninas vieram até a capital sozinhas? Só pode estar brincando. Essas garotinhas vieram de Crimonia?

Será que eu era uma dessas “garotinhas”? Eu era mais baixa que ela, sim.

– Ei, você aí, pode se levantar?

Me levantei como mandado.

– Só pode estar brincando. Essa garotinha fofa não pode ser uma aventureira.

“Garotinha fofa”? Com licença, eu tenho quinze anos, mesma idade que você. Só sou mais baixa… e, bom, com menos peito… mas ainda tô crescendo, ok?

– Irmã, a Yuna é forte. Ela é incrível, mas os ursos dela são mais incríveis ainda!

– Ursos?

– Ah sim – disse Ellelaura – que tal um duelo? Assim Shia entenderá.

– Espera aí – Não podiam decidir isso sem me perguntar?

– Yuna, aceitaria lutar contra minha filha? Sem segurar-se, mas sem machucá-la gravemente.

– Tudo bem – disse Shia. – Eu aceito.

Eu não! Isso estava virando uma tremenda dor de cabeça.

A situação evoluiu rápido demais. Quando percebi, o duelo já estava marcado e estávamos no pátio.

– Ela ficou convencida por ser a mais forte da escola – disse Ellelaura –, então derrube esse orgulho dela.

Uh… Não sabia o que fazer. Mesmo sem me segurar, ela era uma nobre. E machucá-la deixaria Noa triste.

– Mãe! Eu não sou convencida.

– Não? E não foi você quem disse que nenhuma garota da escola é mais forte que você?

– Eu disse, mas isso não quer dizer que sou convencida!

– Ha ha, tô brincando.

– Humpf… Seu nome era Yuna, certo? – Shia me lançou um olhar sério.

– Sim.

– Prefere espada ou magia, Yuna? Pode escolher.

– Espada, então.

Uma criada trouxe espadas de madeira.

– Pode começar quando quiser – disse Shia, empunhando a sua. Garotas com espadas realmente pareciam legais, principalmente com aquela postura habilidosa e cabelo dourado ao vento.

– Tem certeza?

– Claro.

– Então, lá vou eu.

Usei o passo do urso e cheguei instantaneamente diante dela, desarmando-a com um golpe. Sua espada voou e parei a minha bem diante de seu rosto.

– Já basta?

Abaixei a espada e recuei.

– E-espera!

– O quê?

– Podemos lutar mais uma vez, por favor? – Seus olhos estavam determinados. Não parecia birra de perdedora. – Por favor.

– Lutarei com você até ficar satisfeita.

Esperei sua investida. Ela atacou primeiro, mas desviei e derrubei sua espada. Ela segurou o braço como se tivesse ficado dormente, mas mesmo assim se recuperou, pegou a espada e atacou de novo. Seus golpes eram lentos e fracos. Eu não conhecia muitas garotas da idade dela, mas não parecia tão forte assim.

Desviei seu golpe e parei minha espada na nuca dela. Ela não pensava nas defesas, nem nos ataques do oponente.

Afastei sua espada e apontei a minha.

– Podemos repetir quantas vezes quiser. O resultado será o mesmo.

– Posso usar magia?

– Permitido.

– Muito obrigada. – Shia trocou a espada de mão e conjurou uma bola de fogo. – Fireball!

Desviei do feitiço. Shia esperava de espada erguida. Ainda assim, estava lenta. Bloqueei facilmente.

Ela recuou e lançou outra bola de fogo. O que ensinam nessa academia? Não adiantava saber magia e espada se não sabia combinar os dois. Mesmo gamers iniciantes sabiam disso. Talvez fosse falta de experiência?

Desviei de novo, fechei a distância e dei um leve soco de urso na barriga.

– Guh… – Shia se curvou e caiu de joelhos. Talvez tenha exagerado um pouco?

– Já chega – disse Ellelaura.

– Eu-ainda-consigo…

– Ela estava pegando leve com você. E você sabe disso.

– M-mas…

– Acabou.

– Tudo bem – disse Shia, se levantando. – Seu nome era Yuna, né? Você é realmente forte. Apesar da aparência, sou uma das mais fortes da academia. Nunca pensei que perderia para alguém mais nova.

– Eu tenho quinze.

– O quê?

– Eu disse, tenho quinze. Somos da mesma idade.

– Não é possível. Achei que fosse mais nova.

Ok, sou pequena, mas nem tanto… eu acho.

– Bom, que tal fazermos uma festa para comemorar a chegada da Noa à capital e dar boas-vindas à Yuna e Fina?

Com o duelo encerrado, nos sentamos para uma refeição deliciosa. Só senti falta de algo. Esse mundo não tem tantos temperos como o Japão. Tem açúcar, sal e especiarias básicas, mas eu sentia falta de shoyu e missô.

Enquanto isso, Fina estava estranha. Comia devagar, quieta, quase sem falar. Talvez a comida não tivesse caído bem?

– Mãe, será que os professores pegavam leve comigo?

– Hm, não sei. A Yuna é fora da curva. Como aventureira, acho que estaria pelo menos no Rank C.

– Rank C… Mãe, isso é impossível.

– Ela derrotou cem goblins, um rei goblin, orcs, lobos-tigre, uma víbora negra… e tudo isso sozinha.

Onde estavam as leis de proteção de privacidade desse mundo?! Queria que parassem de espalhar meus feitos.

– Então não se culpe por isso – continuou Ellelaura. – Só queria que soubesse que existem pessoas da sua idade ainda mais fortes.

– Sim. Ela é muito forte. Yuna, desculpa por antes – disse Shia. Talvez ela não fosse tão ruim assim. – Mas você também sabe usar magia, né?

– Sim.

– E sua magia é forte?

– Além disso, a Yuna tem os ursos dela. São ainda mais incríveis – disse Noa, orgulhosa.

– Como já disse, que ursos são esses?

– São invocações da Yuna. Super fofas.

– Invocações… Posso ver esses ursos depois?

– Claro – prometi à Shia.

Depois do jantar, nos levaram ao quarto em que dormiríamos. A pedido da Fina, ficamos todas no mesmo quarto.


 

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