Kuma Kuma Kuma Bear Volume 4 – Capitulo 85

A Ursa Chega ao Porto de Mileela

COM UM POUCO DE AJUDA da minha magia de vento, limpei a neve acumulada na frente da caverna e saí para ver o céu limpo. Estava tão ensolarado que a nevasca de ontem parecia um pesadelo distante. Céus tão brilhantes eram uma visão rara para uma ex-reclusa como eu.

O casal saiu da caverna primeiro, enquanto eu guardava a casa-ursa no meu armazenamento. Quando saí, encontrei os dois tropeçando um pouco pela neve fofa.

– Yuna, querida, o que você vai fazer com sua casa? – perguntou Yuula.

Desde que abriram seus corações para mim ontem, deixaram de me chamar de “Srta. Yuna” para ficarem completamente melosos. Ainda assim, preferia isso a “Srta.”

– Usei magia pra fazer ela aparecer, então posso guardar também.

– Yuna, você deve ser uma aventureira incrível – disse Damon.

– Sou só uma aventureira comum.

O que era meio estranho de dizer… e uma mentira bem óbvia. Se existisse outra aventureira que usasse um traje de urso, escalasse uma montanha sozinha e ainda invocasse e guardasse uma casa inteira quando bem entendesse, eu queria muito ver.

– Certo, pessoal, vou invocar os ursos que comentei ontem à noite. Preparem-se para o urso! – Estendi as mãos e, num instante, Kumayuru e Kumakyu apareceram.

– Uau, você não estava brincando sobre esses ursos.

– Ai meu Deus, vamos montar neles?

Uma coisa é saber de algo, outra é ver com os próprios olhos.

– Vocês dois podem ir no meu urso preto, o Kumayuru.

– Ele não vai atacar a gente, né?

Eles se aproximaram cautelosamente de Kumayuru.

– Só se vocês não fizerem nada pra machucar ou insultar ele.

Damon piscou.

– Espera… você tá dizendo que eles entendem a gente?!

– Isso mesmo. Kumayuru, pode se agachar pra eles subirem?

Kumayuru agachou na hora.

– Uh… Kumayuru… – Damon balbuciou. – Tô tão, tão animado por viajar com você.

– Cwooooom.

– Uau! – Damon parecia uma criança em uma loja de brinquedos. – Ele entende mesmo o que a gente fala!

Damon pulou nas costas do Kumayuru.

– Pode subir também, Yuula. Vamos partir.

Yuula assentiu e subiu atrás do marido. Kumayuru se levantou lentamente – acho que dois adultos é o máximo que ele consegue carregar.

– Acho que vocês não vão cair, mas segurem firme.

Subi no Kumakyu e partimos rumo ao porto. Começamos devagar, só acelerando quando os dois se acostumaram a montar em ursos mágicos gigantes. Não dava pra correr em terreno montanhoso, mas era melhor do que andar.

O tempo na montanha era instável. Podia cair uma nova tempestade, então apressei o passo. Derrotei alguns “snowmin” no caminho usando magia de fogo. Com Kumayuru por perto, provavelmente tudo ficaria bem, mas ataques de monstros ainda seriam complicações desnecessárias.

– Você é tão calma com tudo isso, querida Yuna.

– Pois é, uau…

Antes de me conhecerem, eles fugiam ou desviavam caminho ao ver monstros. Não dava pra vencer snowmin com simples golpes na cabeça, então suponho que pessoas normais tinham que correr.

Eventualmente, chegamos ao outro lado da montanha, e o oceano azul infinito se estendia diante de nós, como as águas brilhantes de um sonho. O mar me esperava. O kraken também, o que era… menos legal.

Mas só porque conseguia ver o oceano, não significava que ele estava perto. O mar é enorme. Parecia tipo… descer do topo do Monte Fuji, acho? (Não que uma eremita como eu tivesse subido o Fuji algum dia. Só vi pela TV. Se meu corpo recluso tentasse subir o Fuji, seria um desastre. Preciso ser mais grata aos meus ursos.)

O mar estava lá, longe e brilhante, e fomos em direção a ele.

Os ursos começaram a correr ladeira abaixo. O casal em Kumayuru estava em pânico desde o começo. Um monte de reclamações: “Por favor, pare”, “Tá rápido demais”, “Vamos morrer”. Totalmente ingratos!

Ok, descíamos bem rápido, mas por que não aproveitar? Finjam que é uma montanha-russa! Era isso, né? Para pessoas que saem de casa?

Algumas horas e uma pausa depois, chegamos à base da montanha.

– Vocês estão bem?

– Sim, tô me segurando.

– E-eu também.

Eles pararam de gritar e só se agarraram a Kumayuru com todas as forças.

Damon suspirou.

– É que… demoramos tanto pra subir essa montanha, e você nos trouxe de volta assim, num instante.

Todos nós viajamos bastante, né? Mas foi graças aos meus ursos que conseguimos.

Descemos dos ursos e seguimos a pé para o porto. Damon e Yuula disseram que assustaríamos a cidade se entrássemos montados nos ursos. Acho que ursos ainda são vistos como brutos peludos.

– Realmente voltamos em um dia – eles suspiraram. Era o crepúsculo, e finalmente chegamos à cidade. A brisa do mar soprava. Estávamos aqui, afinal – o oceano!

Quando nos aproximamos do porto, encontramos um cara.

– Damon, você voltou!

– Sim, tivemos que voltar. Estávamos prestes a morrer, e essa garota nos salvou.

O homem me olhou.

– Uma… ursa?

– Sou a aventureira Yuna.

Mostrei minha carteira da guilda.

– Uma aventureira…? – ele repetiu. Ah, sim. Surpreso por uma garota com roupa de urso se dizer aventureira, etc. Ele olhou de mim para a carteira várias vezes. Tentei não culpá-lo demais.

– Tem certeza?

– Tenho.

Damon assentiu.

– Ela derrotou monstros no caminho como se nada fosse. A Yuna é muito mais forte do que parece.

O homem me olhou curioso.

– Então, Damon, você não chegou a Crimonia?

– Desistimos no caminho. Foi quando ela nos salvou.

– Entendi. Garota-ursa, obrigado por salvar Damon e Yuula.

– Só os encontrei e fiz o que qualquer um faria. Não se preocupe com isso.

– Entendo. Damon deve ter falado sobre a situação da vila, mas você é bem-vinda.

E assim, ele nos deixou entrar.

– O que vai fazer agora, Yuna?

– Dormir. Tá tarde e amanhã vai ser um pesadelo. Se puder me mostrar uma pousada, já ajuda muito.

– Uma pousada? – Damon suspirou. – Pode ser que não sirvam comida.

– Tudo bem. Tenho comida, só preciso dormir. Se não achar lugar, monto minha casa-ursa em algum canto isolado.

– Nesse caso, Yuna, por que não fica em nossa casa? – perguntou Yuula.

– Não. Vocês finalmente vão ver a família de novo, né? Eu vou ficar bem.

– Mas você nos deu tanta comida…

Coloquei carne de lobo, farinha e legumes na bolsa de itens que dei a eles ontem. Eles nem tinham uma bolsa dessas, mas mesmo assim estavam indo até Crimonia pra comprar mantimentos e carregar tudo de volta pela montanha. Meio loucura… mas é o que a fome faz.

– Só me mostrem a cidade se quiserem agradecer.

Eles tentaram me dar dinheiro pela comida, mas recusei. Nem queria que me acompanhassem até a pousada, mas praticamente imploraram para pelo menos fazer isso. Por mais que quisessem levar comida pra casa, queriam me oferecer aquele pequeno gesto primeiro.

Andamos um pouco pela cidade, mas não havia movimento – quase ninguém na rua. Estava deserto mesmo para o fim do dia, e a praça vazia. Pelo menos não tinha muita gente pra encarar a garota-ursa.

– Normalmente isso estaria cheio de barracas de comida – disse Yuula, triste.

– Mas como não conseguimos pescar por causa do kraken, ninguém tem feito negócio.

– E como os navios não chegam, ninguém vem de outras cidades.

– Certo – disse. – Vocês comentaram que os peixes estão sendo gerenciados pelo sindicato?

– Sim. Eles só pensam em dinheiro.

Supostamente estavam distribuindo os peixes, mas na prática, estavam cheios de propinas dos ricos e desesperados. Mas, bem, o que esperar de mercadores? No fim, tudo se resume ao lucro. Dava pra ver eles calculando quanto podiam explorar sem causar revolta. Até o sindicato de Crimonia podia ser cruel com lucros. Eu preferia quando me ajudavam a fazer pizza.

– Damon!

Enquanto caminhávamos para a pousada, alguém chamou Damon pelas costas. Um homem da mesma idade correu até nós.

– Jeremo?

– Quando voltou?

– Agora há pouco.

– Quando ouvi que você cruzou a montanha, mal pude acreditar.

– Estávamos quase sem comida, Jeremo. Não tínhamos escolha.

– Lamento ouvir isso. Quem é a garota com roupa estranha?

Olhou de Damon para mim.

– Essa é a Yuna. Ela é uma aventureira. Nos salvou quando desmaiamos na neve, nos deu comida e nos trouxe de volta ao porto.

Jeremo arqueou uma sobrancelha.

– Ela é uma aventureira? Tipo, a garota… com roupa de urso?

– Yuna, esse é o Jeremo. Ele trabalha no sindicato de comércio.

– Os exploradores gananciosos? – disse, encarando Jeremo.

– O Jeremo não é como os outros – disse Damon.

Jeremo fez uma careta.

– Um jeito interessante de colocar.

– Melhor do que dizer que você é como eles, né?

– Justo. Prazer em conhecê-la, Yuna. Sou Jeremo, e sim, trabalho no sindicato.

Ele não parava de olhar minha roupa de urso.

– Sou Yuna, e sim, sou uma aventureira. E não, não vou responder nada sobre a roupa de urso. Nem pergunte.

Jeremo engoliu a pergunta. Mesmo que perguntasse, eu não podia responder muita coisa… e nem queria.

– Só agradeço por ter salvo Damon. Mas… por que subiu a montanha?

– Pra ver o mar.

(E também pra conseguir frutos do mar, mas omiti essa parte.)

– Só por isso? Você… subiu uma montanha por isso?

Ele parecia exasperado.

– Também não acreditamos que ela nos salvou, até vê-la derrotar monstros como se nada fosse.

– Se você é tão forte assim, senhorita – disse Jeremo pensativo – talvez possa ajudar os aventureiros que chegaram esses dias e derrotar os bandidos?

– Tem outros aventureiros? Achei que todos tinham ido embora.

Ele assentiu.

– Um grupo de Rank C chegou pela estrada alta.

– Sério?

– Sim. E o mestre da guilda do meu trabalho entrou em contato na hora. Há chances de eles se juntarem ao sindicato. Também tem muita gente querendo deixar o porto, então talvez aceitem proteger essas pessoas e ir embora.

– Tomara que sejam um bom grupo.

Um silêncio curto se instalou entre nós.

– Bom… – disse Jeremo – é melhor eu voltar ao trabalho. Damon, Yuula – fico feliz que estejam bem. Senhorita… não fique muito tempo nesse porto.

E assim, nos separamos.

 

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