Kuma Kuma Kuma Bear Volume 5 – Capitulo 102

A Ursa Vai Ver o Túnel

As carruagens pararam ruidosamente no local do túnel, e Cliff deu a ordem para descermos. Ao contrário de mim, parecia que Cliff tinha memorizado o caminho até o túnel. Bom pra ele, né? Um dia eu aprenderia. Talvez da próxima vez.

— Vamos andar a partir daqui — disse Cliff, descendo da carruagem e seguindo à frente em direção ao túnel. Era estranho ver o nobre liderando o caminho. Quero dizer, só três de nós sabíamos onde o túnel ficava (incluindo eu, obviamente), mas não parecia uma boa ideia deixar o Cliff, o cara politicamente poderoso, entrar na floresta na frente.

Atola devia sentir o mesmo, porque tentou assumir a dianteira, mas Cliff a bloqueou.

— Yuna está aqui — ele disse. — Está tudo bem.

Ah. Ele realmente tinha muita fé em mim, não tinha? Se ao menos ele dissesse isso de maneira mais clara…

— Você realmente confia na Yuna — disse Atola.

— Em praticamente qualquer assunto, não há alma em quem eu confie mais.

— Praticamente qualquer assunto?

Cliff inclinou a cabeça na minha direção.

— Senso de moda.

Isso era um elogio ou uma cutucada? Não dava pra discordar de nenhum, então só desejei que ele calasse a boca. Mas já que ele estava contando comigo, usei minha habilidade de detecção para checar os arredores.

Scanner indicava zero sinais — nenhum monstro, nenhuma pessoa — então deixei Cliff continuar contente no seu caminho.

Chegamos à entrada do túnel sem incidentes. Atola deixou escapar um enorme suspiro quando viu, como se mal acreditasse que era real.

— Este túnel realmente conecta até Crimonia? — perguntou ela, espiando para dentro.

— Talvez isso seja exagero — disse Cliff. — Ele leva até onde Crimonia está.

— Está tão escuro.

— Sim — como eu disse, precisaremos instalar pedras de mana de luz.

— E, Cliff, também precisaremos de pedras de mana de vento para circular o ar como nas minas, além de algumas pedras de terra para reforçar as paredes do túnel — disse Milaine.

Os cinco representantes de Mileela ficaram com a expressão fechada.

Cliff percebeu.

— Como eu já disse, nós forneceremos as pedras de mana, então podem ficar tranquilos. Isso não será responsabilidade do porto.

— Tem certeza? Isso é muita coisa, embora… — Atola suspirou. — Mesmo se pedissem para nós cobrirmos os custos, o porto não tem esse tipo de dinheiro. Pelo menos não agora.

— É raro encontrar alguém que tenha, inclusive na minha cidade. O que não pudermos pagar agora, coletaremos pelo pedágio do túnel. Com ele aqui, as pessoas vão começar a se mover entre as cidades. — Cliff olhou diretamente para mim. — Não estou falando de ninguém em particular, mas tenho certeza de que pessoas virão a Crimonia vender frutos do mar, e esse é só um grupo. Vocês também terão visitantes que querem ver o oceano, e vários outros motivos. Quanto mais tráfego, mais renda.

— Você diz que as pessoas virão só para ver o oceano? — os moradores de Mileela pareciam não entender por que alguém viajaria só para isso. Provavelmente estavam acostumados demais com a paisagem.

— Pessoas que nasceram e cresceram no porto podem não entender — disse Cliff — mas quem nunca viu o oceano certamente pagaria para ter a oportunidade.

— Existem pessoas assim? — os velhotes inclinaram a cabeça, duvidosos.

— Vocês nunca sentiram vontade de conhecer Crimonia?

— Bem… eu certamente já.

— Eu também.

— É a mesma coisa. Podem esperar muitos visitantes no porto, mas lembrem-se de que isso pode trazer agitação. Gente… peculiar. Tudo que é bom tem seu custo, e embora ganharão muitas coisas, também perderão outras. Dito isso, não tenho intenção alguma de fazê-los se arrepender de terem me escolhido. Só peço que façam tudo que puderem para honrar as pessoas deste porto.

— Lorde Cliff…

— Assim que o túnel estiver completo, as pessoas virão. Até lá, aumentem o número de guardas, contratem aventureiros e reforcem a ordem pública. Claro que emprestarei dinheiro e pessoal do nosso lado. Considerem o pedágio como capital futuro para cobrir isso.

— Você realmente acha que virá tanta gente assim?

— Tenho certeza. Se eu não tivesse, estaria numa situação bem complicada.

Os velhos pareciam duvidar, mas Cliff tinha meu voto.

Eu fiz o túnel só pra mim, mal pensando duas vezes… mas quanto mais Cliff falava, mais eu refletia em quantos problemas isso poderia trazer para a cidade. A notícia se espalharia, e as pessoas correriam para o porto tranquilo, trazendo complicações, certamente.

Cliff já tinha planos para lidar com isso tudo. O que mais eu esperaria de um lorde que administrava uma cidade? Ele estava pensando um passo à frente… ou talvez só estivesse fazendo o óbvio: pensar antes de agir.

— Milaine e eu daremos a vocês os detalhes do plano. Discutiremos o que é possível e o que não é da próxima vez.

— Certo — Atola e os velhos assentiram. Será que estava tudo realmente bem? Os velhos me faziam duvidar um pouco.

— Primeiro, vamos expandir o porto até este túnel.

— Expandir?

— É uma distância considerável daqui até a entrada do porto. Vamos limpar as árvores e instalar um posto avançado aqui. Assim poderemos vigiar tanto quem vem pela estrada costeira quanto quem vem pelo túnel. Colocar guardas em dois lugares tão próximos seria desperdício de dinheiro e pessoal.

— Suponho que realmente precisaríamos de um guarda em frente ao túnel — disse um dos anciãos.

— Seria problemático se monstros ou bandidos se instalassem lá dentro — disse outro.

— Também precisamos de estalagens e um local para estacionar as carruagens — disse Cliff — então resolveríamos duas coisas de uma vez.

— Estalagens?

— Pessoas virão pra cá, e vocês precisam estar preparados. Precisarão de lugares para elas descansarem, para guardarem as carruagens, para comércio e talvez até para morarem. Para isso, limpar terreno ajudaria. Sem isso, não sei se vocês teriam capacidade.

— Você realmente acha que virá tanta gente assim?

Ok, vovô, você já perguntou isso umas dez vezes. Esses velhotes repetiam a mesma coisa de novo e de novo, ignorando tudo que Cliff dizia.

— Virão! — disse Cliff. — Não há dúvida — esta cidade deixará de ser tranquila. Se estiverem infelizes com isso — ele lançou um olhar significativo para mim — culpem a ursinha que fez o túnel.

Uau. Top dez maiores traições da história, e por quê? Eu não fiz nada de errado.

— Mas — Cliff continuou — isso não é ruim. Eu imagino um futuro próspero para este porto, para Crimonia e para Mileela.

E sabe de uma coisa? Eu acreditava nele. O cara tinha bom senso de direção.

— Devemos continuar avançando. Ficar parado é onde tudo acaba. Avancem e escolham um bom caminho.

Os velhotes assentiram.

— Suponho que está certo. Heh. As coisas realmente mudam muito, não é? Ficar no mesmo lugar é confortável quando as juntas começam a doer.

— Confio que desejam o melhor para o futuro de seu porto. Por favor, escolham aquilo que tornará isso possível.

Agora sim, isso soou como um discurso de lorde. Nada mal.

— Vamos discutir como o túnel será usado. Embora seja tecnicamente largo o suficiente para duas carruagens passarem lado a lado, penso que, como regra geral, devemos alternar o tráfego em dias pares e ímpares. Carruagens muito grandes bloqueariam o túnel, o que seria um pesadelo para todos. Teremos que administrar isso juntos.

— Certo.

— Ah, também precisaremos regular quando o túnel pode ser acessado com base no tempo de viagem. Como nós… hum… viemos montados nos ursos mágicos gigantes, não temos certeza do tempo exato de viagem, mas podemos medir depois e decidir quando fechar o túnel à noite.

— E se uma carruagem quebrar lá dentro?

— Basta fazer uma última varredura depois de fechar a entrada. Se usarem cavalos, não levará muito tempo. Se alguém perder uma roda ou algo assim, poderá fazer um relatório no posto avançado próximo.

— Suponho que isso resolveria…

— Mas estamos adiantando as coisas. Precisamos instalar as pedras de mana antes de permitir que alguém viaje por aqui. Por favor, considerem tudo isso provisório. Certamente encontraremos problemas imprevistos ao colocar o plano em prática, então nada do que eu disse é absoluto. Se houver algo irracional, inconveniente ou contraditório no que propus, me avisem. — Ele fez uma pausa. — Eu não sei o que não sei, e todos cometemos erros.

Ele ficou estranhamente quieto, como se estivesse falando consigo mesmo… espera, estava mesmo? Será que era sobre o orfanato? Ele tinha ido até minha casa só para se desculpar depois daquela confusão.

Um nobre que reconhece seus erros, hein? Muitos dos nobres em romances e mangás eram idiotas pomposos que olhavam os outros de cima. Talvez fossem escritos assim só para movimentar a história, ou talvez Cliff fosse a exceção. De qualquer forma, eu preferia nobres como Cliff.

— Você está com cara de que quer dizer algo — Cliff percebeu meu olhar, franzindo só um pouquinho a testa.

— Você está agindo bem… lordesco.

— Porque eu sou um lorde! — disse Cliff, dando um tapinha na minha cabeça.

Ei! Eu não estava zoando ele. Tentei dizer algo legal. Pra quê isso?

Então vieram os detalhes mais minuciosos — Cliff explicando suas ideias, todos debatendo, trocando opiniões, ajustando detalhes. Enquanto falavam, eu silenciosamente verificava se tudo ao redor estava seguro. Tínhamos uns velhotes bem idosos aqui, e só de imaginar um ataque de monstro me dava calafrios.

— Acho que cobrimos o básico — disse Cliff por fim. — O restante, tratem depois.

O velho Kuro e os outros vieram até mim logo depois.

— Garota, obrigado por tudo. Capturar os bandidos, derrotar o kraken, e até trazer Lorde Cliff até nós? Você é maravilhosa.

— Ah, e obrigado por fazer este túnel que nos permitirá contato com Crimonia! Não consigo nem começar a expressar minha gratidão — nenhum de nós consegue!

— Realmente, nossos profundos agradecimentos.

Argh, agora até os velhos estavam me agradecendo? Eu não conseguia lidar com isso. Gente demais, elogio demais, obrigada demais — não, obrigada não, chega!

— Uh, bem, eu só bati esse túnel aí, então… sabem? Não se preocupem.

Cliff bufou — tinha ouvido?

— Se um especialista em túneis ouvisse você dizendo que “bateu o túnel”, ele daria uma bronca daquelas.

O quê?! Eu só disse isso para os velhos relaxarem por uns segundos, talvez um segundo só! Eu tinha sido super cuidadosa na hora de fazer o túnel. Largo o bastante pras carruagens, ajustando a elevação para garantir inclinações suaves. Se eu tivesse planejado carruagens um pouco maiores, teria sido um exemplo perfeito de excelência em túneis.

Ok… sim… eu tinha ficado entediada na metade e feito o resto cantando sozinha.

— Aproveitando, garota — disse um dos velhos intercambiáveis — queria te pedir um favor. Você poderia fazer uma estátua de urso de pedra na entrada do túnel?

— Um urso de pedra? — Isso foi… repentino.

— Como aquelas que você deixou depois de derrotar o kraken. Gostaríamos de garantir que não esqueçamos de quem devemos ser gratos — a criadora do túnel e a derrotadora de monstros. Não viveremos para sempre, então precisamos garantir que o povo do futuro não esqueça. Por favor, faria uma estátua de urso para nós?

Uh… ele estava me pedindo para fazer uma estátua de urso (que representaria eu mesma, no caso) para garantir que o urso (eu???) fosse lembrado para sempre na história? Isso parecia pedir coisa demais.

— Certíssimo — disse Cliff, sorrindo de orelha a orelha, concordando com entusiasmo. — Acho uma excelente ideia. Ele estava gostando disso demais. — Ah, e por que você não coloca outra do outro lado do túnel também? Uma Yuna — digo, um urso — lá?

Nem pensar. Eu definitivamente entendi errado. Ele realmente me comparou — eu, garota humana, só pra confirmar — a um urso?!

— Você está brincando.

Os velhos estavam completamente sérios.

— Além disso — continuou Cliff, com um sorriso enorme — o túnel precisa de um nome. Vou batizá-lo aqui e agora.

Ah não. Ele não vai.

— Que tal “Túnel do Urso”?

Tenho certeza de que isso foi o que chamam de momento “queixo caindo”.

— É um bom nome — disseram os velhos.

— Esplêndido.

— Podemos expressar nossa gratidão à jovem sempre que usarmos o túnel.

— Passaremos isso por gerações.

— Com um nome assim, ninguém da cidade vai esquecer.

Aprovação total do nome sugerido por Cliff.

Eu só consegui gritar, em puro horror:

— PAREEEEEEEEEEM!

Cliff balançou a cabeça.

— Deixe assim. Normalmente nomeamos essas coisas pelo descobridor. Você preferiria que chamássemos de “Túnel da Yuna”?

Não. Eu preferiria que chamassem de um bilhão de outras coisas, mas eles não iam ouvir nenhuma sugestão.

No fim, acabei fazendo uma estátua de urso com metade da minha altura na frente do túnel com minhas próprias patas.

Que vergonha.

Tudo bem, eu podia lidar com isso. Contanto que eles, sob nenhuma circunstância, espalhassem que eu fiz o túnel.

 

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