Isekai wa Smartphone to Tomoni – Capítulo 38

Para o Reino dos Ferinos e um Ataque

Capítulo 38 – Para o Reino dos Ferinos e um Ataque.

O balanço da carroça fazia um “cataclop” constante. Três carroças grandes, do tipo vagão com teto, puxadas por dois cavalos cada, seguiam pela estrada. A primeira tinha cinco soldados de Belfast, a última, cinco de Mismede. No meio, a segunda carroça levava nosso grupo, a embaixadora Olga-san e a irmã dela, Alma.

Na boleia, Elsie e Lindsey dividiam o assento, guiando a carroça. Já dentro do vagão, a gente tava no meio de uma batalha épica.

— Toma essa! — exclamou Yae, virando uma carta no chão da carroça.

Mas a carta não combinava com a única que já tava virada.

— Que pena. As certas são essas aqui — disse Yumina, virando duas cartas de uma vez: dois de espadas e dois de copas.

Ela pegou as cartas do monte, sorrindo. Estavam jogando concentração, um jogo de memória com o baralho que fiz usando [Desenho] pra imprimir as cartas em papel e [Modelagem] pra transformá-las em tábuas finas. Como viagem de carroça é entediante, trouxe um tabuleiro de shogi e criei o baralho pra passar o tempo. Jogos como pôquer exigem aprender as combinações, então ensinei concentração pras meninas, que é mais simples. Mas, pelo visto, Yae não leva jeito pra jogos de memória e tava perdendo feio.

— Perdi de novo, de gozaru… — resmungou Yae, desanimada.

— Parece que concentração não é tua praia, hein, Yae? — comentei, rindo.

Enquanto isso, eu enfrentava Olga-san no shogi.

— Xeque-mate — anunciei, movendo uma peça.

— Argh! — Olga-san encarou o tabuleiro, frustrada.

Não tinha escapatória. Xeque-mate.

— Perdi de novo… Touya-dono é forte demais — reclamou ela, fazendo bico.

— Nada disso, eu sou bem fraquinho. Você que tá começando agora — respondi, tentando ser modesto.

Mas, sério, Olga-san aprende rápido. Se jogar mais algumas partidas, aposto que logo vai me passar a perna. Melhor garantir minhas vitórias enquanto posso.

— Yae, troca comigo. Joga contra a Olga-san — sugeri.

— Boa ideia, de gozaru. No “Lua Prateada”, o Dolan-san me deu um treinamento intensivo — disse Yae, animada.

Treinamento intensivo? Mais parece que ele te arrastou pra jogar contra a vontade.

— Beleza, então que tal um jogo novo? Não é concentração — falei, embaralhando o baralho.

Expliquei as regras do “velha”, um jogo de blefe e estratégia. Yumina e Alma se empolgaram na hora. Enquanto isso, Yae e Olga-san se encaravam no shogi, concentradíssimas. E assim, balançando na carroça, seguimos rumo a Mismede.

— …E foi assim que o gato ferino de botas se tornou nobre e viveu feliz para sempre — terminei, ao redor da fogueira.

Todos aplaudiram, e eu fiquei meio sem graça. Comecei contando uma historinha só pra passar o tempo antes de dormir, mas acabei me empolgando.

— Que legal, Touya-san! — exclamou Alma, com as orelhas de raposa balançando de excitação e a cauda mexendo feliz.

— Uma história incrível, Touya-dono. De onde você tirou essa? — perguntou Olga-san, curiosa.

— Ah, um trovador me contou onde eu morava antes — desconversei.

A história do Gato de Botas, adaptada com um ferino como herói, fez sucesso com os soldados de Mismede. Nesse mundo, onde ainda existe preconceito contra ferinos, uma história onde um deles brilha como espadachim e estrategista deve ser rara. Desculpa aí por inventar umas coisas, mas ficou legal.

— O Touya-san sabe um monte de histórias assim! — disse Yumina, sentada do meu lado.

— Sério!? Conta mais, Touya-san! — pediu Alma, com os olhos brilhando, se inclinando pra mim.

As duas viraram superamigas, né? Devem ter a mesma idade, então deve ser fácil se conectar.

— Hoje chega. Amanhã conto outra — respondi, rindo e recusando com jeitinho.

De repente, um soldado baixo de Mismede se levantou e fez sinal pra todo mundo ficar quieto, levando o dedo aos lábios. As orelhas dele — de coelho? — mexiam de leve. Um ferino coelho, pelo visto.

— Várias pessoas se aproximando… Estão escondendo a presença, vindo aos poucos. Tão na cara que é com a gente — sussurrou ele.

Os soldados ao redor sacaram as espadas em silêncio, formando uma formação de proteção ao redor de Olga-san e Alma. Os soldados de Belfast, que tavam perto das carroças, também se armaram e ficaram alerta.

— Quem são? — perguntei.

— Provavelmente uma gangue de ladrões de estrada. Se forem muitos, pode ser encrenca — respondeu o capitão dos guardas de Mismede.

Ele era um ferino lobo, mestre em usar duas espadas.

— Mestre, realmente tem alguém vindo. Não parecem amigáveis. Provavelmente ladrões, como disseram — sussurrou Kohaku, só pra mim.

Ladrões, hein? Vamos dar uma olhada. Peguei o smartphone e abri o aplicativo de mapa, que mostrou nossa localização. Busquei por “ladrões” e vários pontos vermelhos apareceram.

— Oito ao norte, cinco a leste, oito ao sul, sete a oeste. Vinte e oito no total — anunciei.

— Você sabe disso!? — exclamou o capitão, me olhando chocado.

É, o número é alto. Acho que a gente ganha, mas pode sair machucado.

— Vou tentar uma coisa — murmurei.

Lembrei de um truque que pensei outro dia. Tomara que funcione…

— [Encantamento: Múltiplo] — conjurei, aplicando a magia sem atributo [Múltiplo] no app do mapa, que permite lançar feitiços simultaneamente sem repetir o canto.

Toquei nos pontos vermelhos do mapa, marcando cada ladrão. Mano, que trabalhão! Beleza, terminei.

— [Paralisar]! — lancei o feitiço nos alvos marcados.

No mesmo instante, gemidos ecoaram da floresta ao redor.

— Urgh!

— Argh!

— Ai!

— Ugh!

— Aah!

Várias vozes, seguidas de sons de corpos caindo. Parece que deu certo.

— O que você fez? — perguntou o capitão, atônito.

— Usei um feitiço de paralisia. Eles devem estar caídos, sem se mexer — expliquei.

— Todos eles!? — exclamou ele.

— Se forem só esses vinte e oito, sim — respondi.

O feitiço só pegou quem o mapa identificou como “ladrão”. Se tivesse alguém comum por aí, pode ter sido pego por engano, mas duvido que tenha alguém assim no meio do nada. Por isso usei [Paralisar], que é menos perigoso.

Os guardas entraram na floresta e arrastaram os ladrões pra fora. Vinte e oito, todos com uma tatuagem de lagarto na mão, marca de uma gangue. Nenhum erro.

— Incrível… Derrubar tantos assim num piscar de olhos… — murmurou Olga-san, pasma.

— Sorte que nenhum tinha amuleto de proteção mágica. [Paralisar] é bloqueado até por defesas fraquinhas — expliquei.

Ainda bem que não tinham proteção. Mas esse método tem seus problemas. Funcionou porque os alvos tavam parados, mas se estivessem se movendo rápido, o rastreio podia falhar. E marcar um por um é chato pra caramba.

— Nos salvou, Touya-dono. Fiquei impressionado — disse o capitão.

— Não, foi aquele cara ali que percebeu primeiro. Como ele sabia? — perguntei, apontando pro soldado coelho.

— Aquele é o Rain. Ele é um ferino coelho, tem ouvidos de radar — respondeu o capitão, rindo.

O tal Rain era um garoto baixo, com cabelo ruivo liso, mais ou menos da minha idade. O capitão, um ferino lobo, se chamava Garun-san.

— Pra humanos, a paralisia dura umas doze horas. O que fazemos com eles? — perguntei.

— Em Mismede, o mais fácil seria matá-los pra evitar problemas, mas aqui não dá, né? — disse Garun-san, olhando pro capitão de Belfast.

Um cavaleiro loiro, todo de armadura, se aproximou. Bem bonitão, por sinal. Lyon Blitz, da Primeira Ordem de Cavaleiros do Reino, 21 anos. Filho do general Leon. Ainda custa acreditar que esse cara sério é filho daquele general extrovertido. Ele é o filho caçula, mas mesmo assim…

Lyon pensou um pouco antes de falar.

— Vamos amarrá-los e mandar um cavaleiro até a cidade mais próxima chamar reforços. Amanhã cedo, eles voltam com guardas pra levar esses ladrões. Aí seguimos viagem — sugeriu.

Garun-san concordou, e assim ficou decidido. Amordaçamos e amarramos os ladrões com as mãos pra trás. Pra garantir, usei magia de terra pra cavar buracos e enterrá-los até o pescoço, deixando só as cabeças pra fora. Com a paralisia ainda ativa, pareciam cabeças murchas enfileiradas. Cena bizarra, mano…

— Nós, de Belfast, vigiamos os ladrões. Mismede fica com a segurança externa. Touya-dono, cuide da princesa — sussurrou Lyon-san pra mim.

Só eu, Olga-san e Lyon-san sabemos que Yumina é a princesa de Belfast. Os outros soldados nunca a viram, então não tem risco de reconhecerem. E só Lyon-san sabe que sou o noivo (temporário) dela. Será que ele recebeu ordens pra proteger a Yumina? Não me contaram nada disso.

— Lyon-dono, obrigada pelo trabalho — disse Olga-san, sorrindo e se aproximando.

De repente, Lyon-san ficou vermelho e começou a gaguejar.

— N-não, é minha obrigação! Não se preocupe! — respondeu ele, todo atrapalhado.

Olga-san riu, achando graça. Hmm, saquei o que tá rolando.

Discretamente, saí de fininho e me escondi atrás da carroça, observando os dois conversando e rindo na fogueira.

— Juventude, né? — comentei.

— Juventude, de gozaru — disse Yae.

— Juventude… — murmurou Lindsey.

— É a juventude — completou Yumina.

— Mano, desde quando vocês tão aí!? — perguntei, surpreso, vendo as gêmeas, a samurai e a princesa com Kohaku no colo, todas olhando pros dois.

— Será que Olga-dono percebeu o que Lyon-dono sente, de gozaru? — perguntou Yae.

— Acho que sim. Ela não parece ser tão lerda quanto certa pessoa — disse Elsie, me encarando.

— Pera, por que tão olhando pra mim? — reclamei, confuso.

— Além de ser lerdo, o Touya-san é gentil demais com todo mundo — disse Lindsey, séria.

— Concordo — reforçou Yumina.

— E essas atitudes ambíguas também não ajudam, de gozaru — completou Yae.

— Tá, explica direito! Senta aí e fala! — exclamou Elsie, apontando pro chão.

— Por quê!? — protestei, perdido.

Não entendi nada, mas, com elas nesse estado, não dava pra discutir. Fui obrigado a sentar em seiza e aguentar um sermão épico e completamente sem sentido. Mais da metade do que disseram não fazia o menor sentido, e a bronca durou até quase meia-noite. Sério, por quê?

 

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