Isekai wa Smartphone to Tomoni – Capítulo 40

A Selva e a Ameaça que Chega

Capítulo 40 – A Selva e a Ameaça que Chega.

Assim que deixamos Langley, a paisagem mudou completamente. Diferente de Belfast, aqui era tudo verde. As três carroças avançavam por uma floresta que mais parecia uma selva.

Dá pra entender por que dizem que Mismede tem mais feras mágicas que Belfast. Essa floresta é o habitat perfeito pra elas. De vez em quando, ouvíamos uivos de animais que eu não fazia ideia do que eram, mas, pelo visto, isso é normal por aqui.

Embora as feras mágicas sejam comuns, elas não causam muitos problemas nas vilas. A floresta tá cheia de presas, então não precisam descer pras plantações. Mas, quando algum aldeão entra na mata pra caçar e dá de cara com uma fera, aí é encrenca. Nesse caso, o humano é o invasor, então tem que estar preparado pra levar uma surra. Será que um sino tipo aqueles pra espantar ursos não ajudaria?

— Não vamos conseguir chegar à vila de Eld antes do anoitecer — disse Olga-san.

Abri o aplicativo de mapa no smartphone. A estrada de Langley até a capital passava pela vila de Eld, depois de atravessar a floresta. De fato, com essa velocidade, não daria pra chegar antes da noite. E não fazia sentido aparecer na vila de madrugada.

— Mismede é tipo um mosaico de várias raças. Cada uma tem suas próprias vilas ou cidades. Algumas são amigas, outras se detestam. Quem mantém tudo isso unido são os sete chefes de clã, incluindo Sua Majestade, o rei ferino — explicou Olga-san.

Pelo que ela disse, os sete chefes representam as principais raças: ferinos, alados, cornígeros, draconídeos, arbóreos, aquáticos e fadas. Atualmente, o rei é o chefe dos ferinos, provavelmente porque são a raça mais numerosa, o que facilita governar. Embora o trono seja hereditário, os outros seis chefes têm bastante poder, tipo barões influentes. Como Mismede é um país novo, ainda deve ter muitos problemas pra resolver.

O sol começou a se pôr. Melhor acampar antes de escurecer. Paramos as carroças num trecho mais aberto da estrada e começamos os preparativos. Juntamos lenha, fizemos um fogareiro com pedras e preparamos a comida. Ajudei a fazer uma sopa de legumes (tipo minestrone) numa panela grande.

Quando a noite caiu de vez, os sons da floresta ficaram mais intensos. Devia ser por causa dos animais noturnos.

— Tá meio assustador, né… — murmurou Yumina, se aproximando de mim enquanto tomava a sopa.

— Kohaku disse que bichos normais não chegam perto com ele por aqui. Feras mágicas ele consegue perceber de longe, então relaxa. Mas insetos gigantes ou slimes ele não garante — respondi, passando o que Kohaku me disse por telepatia.

Yumina agarrou Kohaku, que tava do lado, e o abraçou forte.

— Valeu, Kohaku-chan! — disse ela.

— Fique tranquila, minha senhora. Comigo aqui, tá tudo certo — respondeu Kohaku, em voz baixa, só pra ela ouvir.

Yumina sorriu e fez carinho na cabeça dele.

Enquanto comíamos, alguns guardas se revezavam na vigilância. Os soldados de Belfast pareciam mais tensos, provavelmente por estarem num lugar desconhecido.

— Vou buscar a Elsie e a Yae. Kohaku, cuida da Yumina e da Lindsey — avisei.

— Entendido — respondeu ele, por telepatia.

Saí do círculo da fogueira, entrei na carroça e usei [Portal] pra voltar pra nossa casa em Alephis, a capital de Belfast.

Apareci na sala de estar, onde Elsie e Yae tavam super à vontade. Laim-san, nosso super mordomo, tava por perto, como sempre.

— Já? — perguntou Elsie.

— Que correria, de gozaru… Meu cabelo ainda tá molhado — reclamou Yae.

É, as duas tinham voltado pra tomar banho. Pra não revelar o [Portal], combinamos um esquema: elas voltam por 30 minutos, supostamente pra tomar banho com água aquecida por pedras quentes numa tina, com uma delas vigiando enquanto a outra se lava. Na real, elas tão usando o banheiro de casa mesmo.

— Vamos voltar antes que desconfiem. Laim-san, aconteceu algo hoje? — perguntei.

— Nada de especial. Ah, Julio sugeriu fazer uma horta no canto do jardim. O que acha? — respondeu ele.

— Horta? Boa ideia, legumes frescos são sempre bem-vindos. Pode mandar fazer — autorizei.

Notei que as criadas, Lapis-san e Cecil-san, não tavam por aí. Perguntei pro Laim-san, e ele disse que Lapis-san foi dormir cedo por causa de uma ida ao mercado amanhã, e Cecil-san saiu pra encontrar um conhecido na capital.

— Algum recado pra elas? — perguntou Laim-san.

— Não, só curiosidade. Vamos, meninas — chamei.

— Tá bom! — responderam Elsie e Yae juntas.

Abri o [Portal] e voltamos pra carroça. Mas algo tava errado. A floresta tava barulhenta, com um monte de bichos gritando. Tava na cara que não era normal. O que tá acontecendo!?

Pulei da carroça e corri pros outros. Os guardas tavam com espadas em punho, alerta.

— Touya-san! — chamou Yumina, correndo até mim com uma expressão preocupada.

— O que rolou!? — perguntei.

— Não sei. De repente, os animais da floresta começaram a fazer esse barulho todo… — respondeu ela.

Foi quando Rain, o ferino coelho, levantou a cabeça de repente.

— Algo grande tá vindo… Pelo céu! — gritou ele.

Todos olharam pra cima. Entre o vento balançando as árvores, vi uma sombra enorme voando lentamente no céu noturno. Não consegui distinguir o que era, mas os ferinos, com sua visão noturna, pareceram ver claramente.

— Um dragão… Aqui!? — exclamou Garun-san, olhando pro céu, atônito.

Um dragão. Sério, um dragão!?

— Por que um dragão tá aqui!? — perguntou Olga-san, com a voz tremendo, enquanto abraçava Alma.

— Dragões normalmente vivem no santuário, no centro do país. É o território deles, ninguém entra lá, e eles não saem, a menos que alguém invada. Vivemos em paz assim, mas… — explicou ela.

— Alguém invadiu o santuário!? — perguntou Garun-san, quase gritando.

Se for uma reação a uma invasão, a coisa tá feia. Deve ser algum tipo de retaliação por violarem o território deles. Mas Olga-san balançou a cabeça.

— Não necessariamente. De vez em quando, um dragão jovem aparece nas vilas e causa estrago. Se ele saiu do santuário por conta própria, podemos derrotá-lo sem medo de vingança dos outros dragões, já que ele seria o invasor. Mas… — continuou ela.

— Dá pra derrotar um dragão? — perguntei, preocupado.

— Com uma companhia de guerreiros do palácio, uns cem, talvez. Mas atacar sem força total pode só enfurecê-lo — respondeu Garun-san.

Cem guerreiros pra “talvez” derrotar um dragão? Mano, que bicho forte! Parece que o caso é mesmo um dragão jovem fazendo bagunça. Tipo um delinquente rebelde. Que transtorno. É praticamente uma catástrofe natural.

Peguei o smartphone e abri o mapa, procurando por “dragão”. Vários pontos apareceram no centro de Mismede — deve ser o santuário. Mas um ponto isolado, o que passou por nós, tava se movendo lentamente… direto pra vila de Eld!

— Mano, o dragão tá indo direto pra Eld! — avisei.

— O quê!? — exclamaram todos, chocados.

— Por que Eld!? — perguntou Olga-san.

— Lá tem pastagens ao sul. Deve tá atrás do gado — sugeriu Garun-san.

— Se ele comer o gado e ficar satisfeito, não vai deixar a vila em paz? — perguntei, esperançoso.

— Não. Se ele gostar do sabor, vai voltar outras vezes. E, pra eles, gado ou humanos não faz muita diferença. Só questão de gosto — respondeu Garun-san, acabando com minha esperança.

Então a vila pode ser destruída…! Ataques mágicos à distância têm limite, e ele tá muito longe pro meu feitiço alcançar.

— E agora? Nossa missão é proteger a embaixadora. Não podemos colocá-la em risco — disse Lyon-san.

Garun-san rangeu os dentes, frustrado. Como soldado, ele tem que obedecer ordens. Ir pra vila pode causar um incidente diplomático se algo acontecer com Olga-san. Dividir os guardas também não é uma boa ideia. E eu não posso usar o [Portal] pra Eld porque nunca estive lá. O que fazer?

— Não tem como, Touya-dono? — perguntou Yae.

— Mano, até parece que eu… — comecei, mas parei.

Peraí! Tive uma ideia! Corri pra carroça, peguei o espelho grande que íamos entregar ao rei deLenny, eu te amo! — Capítulo 40: A Selva e a Ameaça que Chega

de Mismede e o coloquei encostado na carroça.

— Touya-dono, que é isso? — perguntou Lyon-san, confuso, enquanto os outros também pareciam perdidos.

— Isso é um “espelho de transferência”. É um conjunto de dois. O outro tá no palácio de Belfast. Com ele, dá pra se transportar pro palácio num piscar de olhos. Que tal usarmos isso pra mandar Olga-san e Alma pra lá, pra segurança? — expliquei, inventando na hora.

— Vocês trouxeram uma coisa dessas? — perguntou Garun-san, surpreso.

— Nosso trabalho é entregar isso ao rei de Mismede. O rei de Belfast deu permissão pra usar em emergências — continuei, enchendo a história de detalhes pra parecer convincente: só funciona uma vez por dia, não leva muita gente, é superseguro, blá-blá-blá. Tudo pra tranquilizar os soldados de Mismede.

— Entendido. Vamos usar o espelho pra nos abrigarmos no palácio. Por favor, protejam a vila de Eld — disse Olga-san, decidida.

— Pode deixar, Touya-dono — afirmou Garun-san, assentindo.

— Beleza. Olga-san, Alma, Yumina e… Garun-san, pode vir junto pra confirmar tudo? — sugeri.

— Eu? Bom, tá… — respondeu ele, meio inseguro.

Toquei no espelho e murmurei baixinho:

— [Portal].

Criei um portal de luz a poucos centímetros do espelho. Melhor assim do que encantar o espelho diretamente, já que ainda não chegamos ao palácio de Mismede. Yumina entrou primeiro, seguida por Garun-san, Alma, Olga-san e, por último, eu. O portal se fechou em silêncio. Ao olhar pra trás, vi o espelho na parede do quarto de Yumina, no palácio de Belfast. Prepararam direitinho, hein?

— Onde… onde estamos? — perguntou Garun-san, boquiaberto.

— No palácio de Belfast. Yumina, explica tudo pro rei, tá? — pedi.

— Pode deixar, Touya-san. Se cuida, hein? — disse ela, preocupada.

— Fica tranquilo, Garun-san. Vamos voltar agora — avisei.

Abri outro [Portal] na frente do espelho e passamos de volta pra floresta. Tudo pronto pra partir.

— Beleza, pessoal! A embaixadora tá segura! Vamos pra Eld salvar a vila do dragão! — gritou Garun-san, e os ferinos responderam com um “Opa!” empolgado.

Fui até Lyon-san.

— E vocês, Lyon-san? Belfast não precisa se envolver, né? — perguntei.

— Se eu ficar de boa numa hora dessas, meu pai me mata com um soco de fogo. Vamos junto. O rei provavelmente diria o mesmo — respondeu ele, firme.

Pelo visto, os soldados de Belfast já tinham decidido em grupo. Beleza, então.

Olhei o mapa. O dragão ainda ia demorar um pouco pra chegar em Eld. Não é rápido, então, se corrermos com as carroças, chegamos uma hora depois dele. Tomara que essa hora não seja fatal.

Com esse pensamento, subi na carroça, rezando pra dar tudo certo.

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