Kuma Kuma Kuma Bear – Volume 2 Capítulo 35

A Ursa Toma um Banho de Urso

– NÃO IMPORTA QUANTAS vezes a gente veja, essa casa continua impressionante.

Tiermina e Gentz já tinham vindo à casa do urso mais de uma vez. Depois que salvei a vida da Tiermina, ela quis me agradecer de novo e ver a Fina trabalhando, então Fina a trouxe.

– Bom, vou usar sua cozinha emprestada. Fina, pode me ajudar?

– Eu também vou ajudar! – declarou Shuri.

– Fiquem à vontade – eu disse. – Estou com tudo em cima.

– Okay, obrigada. Mas a gente é que devia trazer os ingredientes.

– Sério, não se preocupem com isso.

– Sempre estamos recebendo carne de lobo de você. A dívida só vai aumentando.

Tiermina levou suas duas filhas para a cozinha. Ficando para trás, Gentz e eu resolvemos esperar em duas cadeiras na sala.

– Essa casa é realmente impressionante – ele murmurou, olhando ao redor. – Isso é pele de lobotigre?

Eu tinha a pele de lobotigre que consegui na minha primeira caçada com a Fina pendurada sobre a lareira. A outra eu usava no meu quarto como cobertor.

– Quando te vi pela primeira vez, garota urso, não achei que fosse tão impressionante assim – ele disse, num tom meio nostálgico.

Já fazia mais de um mês desde que vim parar nesse mundo. Minha fantasia de urso já era famosa pela cidade. Era meio assustador o quão rápido me acostumei. Nem sentia mais vergonha.

– Garota urso.
– Senhorita Urso.
– Ursinha.
– A Ursa Sangrenta.

Tinha muitos apelidos, mas todos falavam de mim. Ainda não sabia esfolar uma presa, mas já tinha me acostumado a derrotar monstros. A vida de gamer me preparou bem. Conheci a Fina, e esse mundo tinha muita coisa interessante também. Apesar de não ter recebido mais nenhuma carta ou mensagem do deus/admin/seja-lá-o-que-for desde o primeiro dia, eu era grata por ter sido trazida pra cá.

– Mas, senhorita, tem certeza disso?

– Certeza do quê?

– Da casa.

– Ah, isso.

Como presente de casamento, comprei o terreno para a nova casa. As economias do Gentz foram só para a construção em si.

– Tá tudo certo – eu disse. – É só que, depois que eu me for e vocês morrerem, não quero ver aquelas três na rua. E, enquanto elas tiverem uma casa, isso não vai acontecer, certo?

– Ei, não me enterra ainda! Tenho um futuro brilhante pela frente.

– Então trate de cuidar delas. Se não cuidar, você sabe o que acontece, né?

– Claro. Eu juro sobre o túmulo do Roy que vou protegê-las.

Roy, explicou Gentz, era o falecido marido da Tiermina. Quando eram jovens, os três estavam no mesmo grupo de aventureiros. Eles se separaram quando Roy e Tiermina se casaram, e Gentz foi trabalhar no sindicato. Anos depois, quando Tiermina estava grávida da Shuri, Roy saiu sozinho em uma missão e acabou morrendo. Desde então, Gentz cuidou da família da Tiermina discretamente e, em algum ponto, acabou se apaixonando por ela.

Enquanto eu ouvia Gentz contar sobre o passado, Fina e Shuri começaram a trazer prato após prato de comida fumegante. No final, Tiermina trouxe um prato principal enorme. Meu estômago até roncou.

– Obrigada por esperarem – ela disse. – Fizemos bastante, então comam à vontade.

Tiermina e suas filhas se sentaram.

– Yuna, me desculpa, acabamos usando bastante dos ingredientes.

– Tudo bem. De novo, eu não tô com falta de mantimentos.

– Aquela geladeira de urso é ótima. Os legumes e a carne não estragam.

– Vou colocar na lista de presentes de casamento.

– Por mais que eu queira, já estamos te devendo tanto. Não temos como te dar nada em troca.

– Se não podem me dar nada, então fico com sua filha – olhei para a Fina enquanto ela comia carne.

– Tem certeza que quer uma filha assim? – Tiermina também olhou para Fina.

– Ela é obediente e adorável, trabalha duro, se importa com a família e sabe cozinhar. E, bom, esfolar um lobotigre como se não fosse nada, o que é impressionante.

Os hashis da Fina pararam.

– Ugh, dá pra parar, mãe? E você também, Yuna.

– Como se cria uma menina de dez anos assim? – murmurei.

– Acho que é culpa minha – disse Tiermina. – Como fiquei doente e dei trabalho pra ela, ela teve que amadurecer mais rápido. Cuidou da irmã e de mim, fez os afazeres e ainda trabalhou com o Gentz. Nunca deixei ela viver como uma criança.

– Mas eu nunca achei que fosse um fardo – disse Fina.

– Uma criança de dez anos não devia pensar assim.

– Eu não fui a única que trabalhou duro. Shuri também ajudou – ela fez um carinho na cabeça da irmã, que estava concentrada comendo ao lado dela.

– É verdade. A Shuri também fez a parte dela, né? – Tiermina olhou para as filhas com ternura.

Depois que terminamos de comer, Tiermina ajudou a arrumar tudo. Eu fiquei largada, tomando um suco de oran.

– Acho que devíamos ir pra casa agora – disse Tiermina, se levantando.

– Já está tarde, por que não dormem aqui? Tenho quartos suficientes. E… – olhei para a Shuri, que já estava pescando no sono. – Shuri trabalhou tanto com a mudança hoje.

– Hmm… – Tiermina pareceu hesitar. – Não vamos incomodar?

– E vocês estão todas empoeiradas e suadas da mudança, né? Não seria muito trabalho chegar em casa e ainda preparar banho?

– É verdade. Nesse caso, posso aceitar?

– Vocês três podem ir na frente. Depois eu mostro os quartos.

– Podemos entrar juntas?

– Cabe três. Fina, mostra o caminho.

– Yuna, vem com a gente também! Pode ser, né, mãe?

– Tudo bem, mas será que a gente vai caber?

– Vai sim. O banho de urso da Yuna é gigante – Fina abriu os braços pra mostrar o tamanho.

– Banho de urso?

– Você vai entender quando ver.

Antes de irmos ao banho, olhei para Gentz.

– Nem pense em entrar.

– Como se eu fosse fazer isso!

As quatro seguimos para o banho.

– Se troquem aqui – eu disse. Peguei umas caixas pra elas guardarem as roupas.

– Yuna… – Tiermina me olhava.

– O que foi?

– É a primeira vez que te vejo sem o capuz.

– Mas dá pra ver meu rosto mesmo com o capuz, não dá?

– Dá, mas você parece completamente diferente sem ele. Não achei que seu cabelo fosse tão comprido. Cabelo muda muito a aparência de uma garota.

– Seu cabelo é bonito, Yuna – disse Fina.

– Tá bom, tá bom. Não precisa puxar meu saco, agora entra logo no banho.

– Não é puxa-saquismo!

Ignorei a Fina, tirei a roupa de urso e entrei no banho, que era grande o bastante pra umas dez pessoas. Coloquei um urso branco e outro preto de cada lado da banheira: água quente saía das bocas deles.

– É realmente um banho de urso – disse Tiermina.

– Lembrem de se lavar antes de entrar na banheira.

– Você tem sabão também… é quase um banho de nobre.

– Shuri, vou te lavar. Vem cá.

Fina sentou Shuri numa cadeira e começou a ensaboá-la. Tiermina olhou pra mim.

– Yuna, posso te lavar?

– Eu consigo sozinha.

– Mas não é difícil lavar esse seu cabelo preto lindo? Ele é tão longo.

– É chato, mas eu consigo.

Sentei do lado da Fina e comecei a me ensaboar. Shuri já estava mergulhada na água quente. Quando Fina tentou se lavar, Tiermina a pegou e começou a ensaboar. Eventualmente, todas estávamos na banheira.

– Yuna, você tem um corpo bonito.

– Tenho?

– É uma pena sobre seu peito.

– Planejo desenvolver curvas. Tipo bam, shwoo, bam.

– Será que isso é possível?

– Você acha que o meu vai crescer? – perguntou Fina.

– Sonhar é de graça.

– Isso parece meio cruel…

– Não se preocupe, Fina. O seu vai crescer, diferente do meu.

– Queria que o meu ficasse do tamanho do da Yuna.

Abracei a Fina.

Depois, enrolamos toalhas na cabeça e saímos do banho. Quando voltamos pra sala, vimos Gentz sozinho, com cara de solitário. Quando nos viu…

– Vocês! Demoraram demais!

O grito dele ecoou pela sala.

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