Kuma Kuma Kuma Bear Volume 3 – Capitulo 57

A Ursa Vai a Guilda Comercial

Assim que ficamos sozinhas, Fina soltou um grande suspiro e se sentou na cama.

– Yuna, hoje foi exaustivo.
– Você está bem?
– Estou, mas… será que está mesmo tudo bem eu passar a noite na casa de um aristocrata?
– Eu notei que você estava quieta. Era isso que estava te preocupando?
– Se eu dissesse algo estranho ou fizesse algo rude, isso poderia ser ruim para minha família.
– Bom, já terminamos de escoltar a Noa, então que tal procurarmos uma estalagem ou algo assim? Assim você ficaria mais confortável, certo?
– Mas isso custaria dinheiro…
– Fui eu quem te convidou para vir à capital. Não se preocupe com o dinheiro.
– Mas…
– Sem “mas”. De qualquer forma, vamos procurar uma estalagem amanhã, então não precisa ficar tão tensa.
– Tá bom, Yuna. Obrigada.

Subimos em nossas respectivas camas e logo adormecemos, deixando que o cansaço do dia desaparecesse.

Na manhã seguinte, Fina estava sentada em sua cama com as pernas abertas para os lados, parecendo entediada.

– Bom dia.
– Bom dia.
– Já acordou?
– Sim, acordei no horário de sempre, mas não tenho nada para fazer.

Fina acordava cedo para fazer as tarefas domésticas desde que sua mãe, Tiermina, ficou doente. Quando terminava com o trabalho em casa, ia direto para a guilda dos aventureiros. Ser madrugadora provavelmente já era um hábito.

– Nesse caso, que tal a gente se trocar e ir para a sala de jantar?
– Você não acha que ainda está muito cedo?
– Se estivermos adiantadas, podemos comer fora. Assim, já procuramos uma estalagem logo depois.
– A gente vai mesmo procurar uma estalagem?
– Não estou fazendo isso por você. Também não me sinto muito à vontade aqui.

Troquei meu traje de urso branco pelo preto e levei Fina até a sala de jantar. Não havia ninguém por lá. Talvez realmente estivéssemos cedo demais para o café da manhã? Por ora, resolvi procurar alguém para avisar que sairíamos.

Quando saímos da sala de jantar e fomos para o corredor, encontramos a empregada que vimos ontem.

– Ora, que surpresa encontrar vocês aqui, senhorita Yuna e senhorita Fina. Estão acordadas bem cedo.
– Bom dia. Estávamos querendo comer alguma coisa, se for possível. Senão, estávamos pensando em sair para comer.
– Não, está tudo bem. Por favor, esperem na sala de jantar por enquanto.

Enquanto esperávamos, Ellelaura entrou.

– Oh, estão cedo.
– Bom dia.
– Bom dia. Já vieram para o café?
– Sim.
– Então, o que vocês planejam fazer hoje?

Como ela perguntou, respondi honestamente:

– Estávamos pensando em procurar uma estalagem.
– Uma estalagem? Por quê? Vocês podem ficar aqui até depois da celebração do aniversário do rei.
– Uma plebeia como eu não consegue se sentir à vontade em uma mansão tão grande – expliquei, servindo de porta-voz para Fina.
– Mesmo assim, não acho que vocês conseguirão encontrar uma estalagem com quartos vagos. Tem muito mais gente na cidade por causa da celebração.

Hmm. Talvez ela estivesse certa. Nesse caso, mesmo que fosse um pouco antes do planejado, talvez fizesse sentido encontrar um lugar para montar a Casa de Urso. Se eu tivesse a Casa de Urso, poderia configurar um portão de transporte e não teria mais que me preocupar com hospedagem.

– Ainda assim, vamos dar uma olhada.
– Só saibam que podem ficar aqui o tempo que quiserem.

Terminamos o café da manhã e Fina e eu saímos. Noa ainda dormia, e Shia já havia ido para a academia, com seu uniforme. Talvez Noa estivesse dormindo até mais tarde pela primeira vez em dias, depois de tantas manhãs em que tínhamos que levantar acampamento ao nascer do sol.

Andamos pela capital real e visitamos várias estalagens. O pessoal de Crimonia já estava mais ou menos acostumado comigo, mas agora que estávamos em um lugar novo, minha roupa de urso atraía olhares por onde passávamos. Quando cruzávamos com as pessoas, os olhos se voltavam para mim. E, sem falta, eu ouvia algo.

– Um urso.
– Um urso?
– Que fofo.
– Mas que raios é isso?
– É um urso.
– Fina, desculpa por chamar tanta atenção.
– Tudo bem. Já me acostumei.

Assim como Ellelaura havia dito, todas as estalagens estavam cheias. Na última, troquei para o plano B e perguntei onde poderia encontrar a guilda comercial.

Comparado a guilda de Crimonia, a guilda da capital real era de um nível completamente diferente. Para começar, havia muito mais pessoas entrando e saindo. Talvez estivessem visitando de outras cidades e vilarejos? Podia até haver gente de outros países.

Ignorando os olhares sobre mim, fui procurar a recepção. Aparentemente, era preciso pegar uma senha e só então ir até o balcão quando chamassem seu número. Entrei na fila da distribuição de senhas e peguei a minha.

A senha que peguei era a 195. No momento, estavam chamando o número 178. Parecia que ainda levaria um tempo até me chamarem, mas havia dez guichês de atendimento. Talvez não demorasse tanto?

Depois de esperar um pouco, meu número foi chamado.

– Bem-vinda. Qual o motivo da sua visita hoje? – o sorriso da recepcionista vacilou por um instante ao ver minha aparência, mas logo voltou ao normal. Como se espera de alguém que trabalha na capital real.

– Estou procurando um terreno dentro da capital. Posso comprar um?
– Você poderia me mostrar seu cartão de residente ou cartão da guilda, se tiver um?

Entreguei meu cartão do sindicato.

– Um momento, por favor. – Ela colocou o cartão sobre um painel de cristal. – A senhorita é Yuna?
– Sim.
– A propósito, como pretende utilizar o terreno?
– Estou pensando em construir uma casa.
– Em outras palavras, você pretende morar na capital real?
– Ainda não decidi. Minha residência principal fica em Crimonia, então pensei em usar esta como segunda casa.
– Entendi. Bom, deixe-me explicar como funciona a questão dos terrenos. Primeiro, a área próxima ao castelo é o setor da alta classe, que compõe o bairro aristocrático, então não posso vender nada por lá. Em seguida, você ainda não tem autorização para comprar algo no distrito médio. Isso significa que, no momento, só posso vender algo no distrito inferior.
– O que preciso fazer para conseguir algo no distrito médio?
– Você pode comprar um terreno lá se tiver uma carta de recomendação de alguém.

Então era necessário alguma forma de comprovação de status? Lembrei da carta que Milaine, que me ajudou no sindicato de Crimonia, havia me dado.

– Isso serve como carta de recomendação?

– Deixe-me verificar. – A recepcionista desdobrou a carta de Milaine para verificar. – Isto é… ah.
– E então?
– Por favor, me perdoe. Não acho que possa decidir isso sozinha. Um momento, por favor.

A recepcionista saiu do balcão e desapareceu nos fundos do sindicato.

– Yuna, você vai construir uma casa? – Fina perguntou.
– Estava pensando que poderia ser útil no futuro.

Se eu construísse uma casa, poderia montar um portão de transporte de urso. Pensando pelo lado da mobilidade, isso seria extremamente conveniente.

– Ora, mas se não são a senhorita Yuna e a senhorita Fina!

Nos viramos e encontramos Gran e Ellelaura.

– Gran? E Ellelaura? O que vocês estão fazendo aqui?
– Essa deveria ser a nossa pergunta. E por que você está no sindicato comercial, Yuna? Não tinha dito que ia procurar uma estalagem?

Expliquei que não tinha encontrado nenhuma vaga, exatamente como ela havia previsto.

– Então pensei em comprar um terreno para construir uma casa, mas aparentemente não posso fazer isso sem uma carta de recomendação. De qualquer forma, entreguei a carta de recomendação que recebi do sindicato de Crimonia, mas acho que estamos esperando eles analisarem.

– Você ia construir uma casa porque não conseguiu uma estalagem…
– Eu nem sei o que dizer.
– Mas você tem dinheiro suficiente para isso?
– Acho que sim. Se não conseguir pagar, abandono a ideia.
– Nesse caso, quer que eu te dê uma carta de recomendação? – disse Gran.
– Eu também posso escrever uma – disse Ellelaura.
– Isso seria de grande ajuda, mas têm certeza?
– Afinal, você salvou minha vida.
– Sim, e também tem ajudado Cliff e minha filha.

Fiquei grata por isso. Se tivesse o apoio de dois nobres, era muito mais provável que me permitissem comprar algo.

– Então, por que vocês estão aqui?
– Estou aqui a trabalho.
– Eu também vim por algo parecido.

Enquanto conversava com Gran e Ellelaura, a recepcionista voltou.

– Peço desculpas pela demora. Quanto ao terreno, a senhorita poderá adquirir algo na área da classe inferior do distrito médio.

Pelo visto, eu conseguiria algo no distrito médio sem problemas. Talvez nem precisasse das recomendações dos dois.

– Onde fica isso?

A recepcionista abriu um mapa da capital real para me mostrar. Lá estava o portão de entrada da cidade; lá estava o castelo. Era um pouco longe da residência da Noa, então seria meio chato ir e voltar.

– Ah, isso fica nos arredores.
– De fato – disseram os dois membros da minha plateia pessoal enquanto espiavam o mapa por trás de mim.

– Senhorita, você aí, me empresta um papel? Vou escrever uma carta de recomendação para ela.
– Me arrume um papel também – disse Ellelaura.

Pelo visto, a localização do terreno não agradou muito os meus amigos aristocratas.

– Hum, quem seriam vocês?
– Gran Fahrengram.
– Ellelaura Fochrosé.
– Você é o Conde Fahrengram e a esposa do Conde Fochrosé? – A recepcionista ficou boquiaberta de surpresa e visivelmente pálida.
– Isso mesmo. Se a moça precisa de uma carta de recomendação, eu escrevo uma, então trate de arranjar um terreno melhor para ela.
– S-sim, senhor! Vou providenciar um imediatamente.

A recepcionista levantou-se apressada de seu assento e correu novamente. Momentos depois, uma mulher mais velha surgiu em seu lugar.

– O que é agora? Quando me disseram que o próprio Conde Fahrengram estava aqui, achei que fosse o mais novo — e me aparece esse velho.
– Olhe como fala, sua velha rabugenta.
– E aqui temos a filhinha dos Fochrosé.
– Já passei da idade pra ser chamada de filhinha.

– Vocês dois pretendem se tornar fiadores dessa garota vestida de forma estranha?

Lá estava de novo — mais uma pessoa me chamando de “estranha”.

– Devo minha vida a essa jovem.
– E ela também ajudou meu marido e minha filha.
– Hm, é mesmo? Bem, tudo bem. Se vocês são os fiadores dela, então vamos preparar um terreno à altura. Então, moça, suponho que pelo menos tenha dinheiro?

Bom, não faria sentido me arranjarem um terreno se eu não tivesse dinheiro para comprá-lo.

– Não sei quanto custa, mas tenho dinheiro da vez que derrotei uma víbora negra.
– Pff, você deve ser alguém e tanto pra brincar desse jeito.

Eu não estava brincando… mas não valia a pena explicar.

– Enfim, você tem alguma preferência?
– Eu preferiria um lugar seguro, sem muito movimento, se possível. E, se eu puder escolher, gostaria de algo perto do sindicato dos aventureiros e da casa da Ellelaura.
– Ora, mas que criança exigente. Muito bem. Nesse caso, este seria o lugar – disse a velha apontando um local no mapa. – Fica perto do distrito nobre. Só passam por ali os moradores, então não há muito tráfego. Os guardas também patrulham essa área, então é bastante seguro.

– Fica perto da minha casa também – disse Ellelaura.
– E se seguir por essa estrada principal, também está próximo ao sindicato dos aventureiros – acrescentou Gran. – Parece bom, não acha, mocinha?

Eles me explicaram enquanto apontavam no mapa.

– Levando em conta suas conexões, este seria o valor – disse a velha.

Olhei para o valor apresentado. Era mais barato do que eu esperava. Será que era por causa da Ellelaura e do Gran?

– Não acha que está caro? Afinal, nem tem uma construção no local, né?
– Não seja tola. Para um terreno bem localizado na capital real, isso é barato – disse a senhora. – Consegue pagar, mocinha?

– Consigo, mas vou pechinchar, se puder.
– Tem certeza que pode bancar isso, garota? Não estamos falando de dinheiro de mesada aqui. Até nobres hesitariam em desembolsar essa quantia.

– Ela não precisa pagar tudo de uma vez – disse Ellelaura, tentando me ajudar.

– Se essa garota fosse filha de um aristocrata ou de um comerciante influente, tudo bem. Mas se não for o caso, só posso aceitar pagamento à vista. Por outro lado, se puder pagar tudo agora, posso considerar um desconto.

– Nesse caso, vou comprar. Por favor, finalize.

A velha riu.

– Está falando sério? Bem, se tem o dinheiro, não há problema pra mim.
– Posso tirar o dinheiro agora? É uma quantia considerável. Essa mesa parece pequena.
– Pode sim, por mim tudo bem.

Se essa era a resposta dela, tudo o que me restava era pagar. Comecei a tirar o dinheiro do meu armazenamento de urso.

– E-e-espera um minuto.

Ignorei e continuei a tirar moedas de ouro. As moedas começaram a formar uma montanha sobre o balcão.

– Eu disse pra parar! Não coloque o dinheiro nesse balcão apertado.

“Pega o dinheiro, não pega o dinheiro…” Decida-se, pensei.

– Você vai assustar as pessoas ao redor. Chega. Não podemos fazer transações grandes aqui. Vamos para outra sala.

Guardei o dinheiro e fui guiada pela velha para outra sala.

– Vou cumprir minha promessa anterior. Disse que daria um desconto. Claro, esse é o máximo que posso fazer.

Tirei as moedas de ouro para o novo valor que ela me passou.

– Mas enfim, quem é você? Filha de algum comerciante famoso? Não, se fosse isso, eu já teria ouvido falar de você através da minha rede de informações. É filha ilegítima de algum nobre?

– Sou apenas uma aventureira.
– Heh, então não vai me contar? Bem, tenho certeza que posso descobrir sozinha. Se tem fiadores e dinheiro, é uma transação direta. Aqui está o contrato. Agora o terreno é seu.

– Obrigada.

– Não preciso dos seus agradecimentos. Se for construir uma casa, pode me consultar para conselhos.
– Não precisa. Não é minha primeira vez.

– É mesmo? Bom, então terminamos aqui.

A velha nos enxotou da sala como se fôssemos um incômodo. Agora só me faltava construir uma casa. Depois disso, era só instalar um portão de transporte de urso e eu poderia vir à capital real quando quisesse.

Além disso, poderia aliviar a tensão da Fina — dois coelhos com uma cajadada só.

 

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