Kuma Kuma Kuma Bear Volume 3 – Capitulo 62

A Ursa Obtém Queijo

Saí da guilda e fui em direção à praça onde as barracas estavam montadas. Comer alguma coisa estava no topo da minha lista de prioridades. Como havia muitas barracas, senti que levaria dias se quisesse ver tudo com calma. Enquanto eu examinava os itens à venda, vi algumas costas conhecidas. Aproximei-me devagar por trás, querendo surpreendê-las. Pareciam tão entretidas olhando algo que nem notaram minha aproximação.

– Fina! Noa! – chamei.

– Y-Yuna?! – exclamou Noa.

– Yuna! O que está fazendo aqui? E a guilda dos aventureiros?

As duas se viraram, surpresas.

– Já resolvi isso. Agora estou só passeando. E vocês, o que estavam olhando?

Olhei na direção em que elas estavam focadas e ouvi um tipo de discussão.

– Parece que um homem mais velho está vendendo uma comida estranha que está causando confusão – disse Noa.

– Estranha como?

– Dizem que está mofada.

Mofo, hein? Fui na frente das meninas para ver por mim mesma e encontrei um homem mais velho discutindo com um rapaz em frente à barraca.

– Como pode vender algo assim?! Está apenas causando problemas para todo mundo ao redor!

– Isso não é um mofo qualquer!

– Mofo é mofo!

– Dá para comer a parte de dentro!

– Não se pode comer algo que está crescendo mofo desse jeito!

O velho tentava explicar o melhor que podia, mas o outro homem simplesmente não escutava e só reclamava.

O que me interessou foram as coisas expostas na loja. Aquilo era, sem dúvidas, mofo. Mas isso não era problema. Era queijo. Inequivocamente queijo. Você podia comer sozinho, entre pão, ou – acima de tudo – usá-lo para fazer pizza.

Eu também queria muito comer um gratinado, embora ainda estivesse longe de conseguir isso.

– Vocês duas, isso é queijo.

– Que…ijo? – disse Noa.

– Vocês não sabem o que é isso?

– Não, eu não – respondeu Noa.

– Eu também não – completou Fina.

Se as duas não sabiam o que era queijo, então devia ser algo raro. Eu precisava colocar as mãos naquilo.

– Como eu disse, isso é comida – insistia o velho.

– Ninguém vai comer isso! – retrucou o outro.

– Yuna? – Fina tentou me parar, mas me coloquei entre os dois.

– Senhor, isso é queijo, não é?

– Sim, sim, você sabe o que é? Que traje adorável você tem, mocinha.

– Mas que droga?! Você apareceu do nada. E o que é essa sua roupa? Não me importo se é só uma garota, não se meta!

Ao me aproximar, percebi que ele cheirava a álcool.

– Isso é comida – disse –, se nem sabe disso, fique quieto.

– Você quer me dizer que esse negócio cheio de mofo é comida? Não me faça rir!

Bêbados são complicados. Não escutam ninguém e, se você os ignora, continuam reclamando sem motivo.

– Ei, está me ouvindo?!

O sujeito tentou pegar meu ombro. Segurei seu braço e dei um leve soco de urso em seu estômago com a outra mão. O homem se curvou e caiu no chão, inconsciente. E olha que eu peguei leve.

Deixei-o ali onde caiu, virei-me para o homem mais velho e falei como se nada tivesse acontecido:

– Senhor, está tudo bem?

– Sim, você me salvou. Muito obrigado – ele olhou de mim para o homem caído. – Então, senhorita, você conhece queijo?

– É feito a partir da fermentação do leite, certo? Não sei muitos detalhes de como se faz.

– Isso mesmo. Você sabe bastante para alguém tão jovem.

– Senhor, posso provar um pouco?

– Mas é claro, por favor – o homem cortou uma fatia fina com a faca.

– Yuna, você vai comer isso? – perguntou Fina, preocupada.

Fazia sentido. Eu ia comer algo com mofo visível.

– O mofo está só na superfície. Está tudo bem.

Coloquei o pedaço na boca. Tinha um gosto forte, mas era definitivamente queijo.

– Vocês querem provar também?

As duas balançaram a cabeça.

Apesar disso, estava gostoso.

– Senhor, está vendendo isso, certo?

– Sim. A vila precisava de dinheiro, então vim à capital vender queijo, mas ninguém quer comprar.

É, pensei, parece que queijo realmente não se espalhou neste mundo. Assim como aquele cara de antes, Fina e Noa não sabiam o que era.

– Então isso basicamente quer dizer que posso comprar tudo que tiver, certo?

– Vai comprar, senhorita?

– Depende do preço. Quanto custa?

– Eu vendo por peso, mas um bloco custaria mais ou menos isso.

– Vou levar. Quero tudo, por favor!

– Você está falando sério?

O homem me olhou como se não acreditasse. Bem, não o culpo. Ninguém queria nem chegar perto do produto, e eu queria levar tudo.

– Sim, estou falando sério.

Tirei o dinheiro. O homem ficou surpreso.

– Obrigado, senhorita urso.

Logo após finalizarmos a compra, surgiu uma comoção atrás de mim. Parecia que patrulheiros haviam chegado.

– Ouvimos dizer que houve uma briga por aqui. Uma ursa? Senhorita Yuna?!

Era Ranzel, o guarda que me ajudou com os bandidos.

– Senhorita Yuna, o que está fazendo aqui? Disseram que houve uma confusão.

– Não aconteceu nada. Um bêbado fez escândalo, caiu sozinho e dormiu.

Olhei para o homem que eu tinha nocauteado com o soco de urso. Ele tinha caído por outro motivo, mas estava bêbado, sim.

Ranzel observou o homem caído e depois a multidão.

– Isso é verdade? – perguntou, desconfiado.

O bêbado começou a babar um pouco.

Não dava para enrolar esse cara. Decidi ser honesta.

– O bêbado começou uma briga com este senhor, então fui ajudá-lo.

– O que a senhorita urso disse é verdade. Ela me salvou – confirmou o velho.

– Não foi culpa da Yuna – disse Noa.

– A Yuna protegeu o homem – completou Fina.

Além disso, outras pessoas ao redor começaram a me defender. Imagino que qualquer um preferiria ficar do lado de uma garota vestida de urso em vez de um bêbado.

Ranzel coçou a cabeça.

– Entendi. Vou fazer vista grossa desta vez.

Ele instruiu seus subordinados a carregarem o homem.

– Desta vez vou tratar como um bêbado causando confusão, mas por favor, senhorita Yuna, tente não se meter em mais encrenca. Parece que ela te segue onde quer que vá.

Não pude argumentar.

– Mesmo que não fosse o caso, pessoas estão vindo de todos os lugares e já estamos com dificuldades para manter a ordem. Por favor, fique longe de problemas de verdade.

Eu sinceramente não conseguia prometer isso.

– Bem, vou indo – disse Ranzel, fazendo uma reverência antes de sair com os soldados.

Voltei a conversar com o senhor do queijo.

– Senhorita, parece que causei problemas. Obrigado por tudo.

– Não se preocupe. Eu queria o queijo de qualquer jeito. Se ainda tiver mais, eu compro.

– Me desculpe. Só trouxe o que pude carregar da vila. Isso é tudo. Mas tem mais por lá.

Não queria desculpas desse homem – não, desse santo do queijo. Mas fiquei feliz em saber que havia mais de onde aquilo veio.

– Então, pode me dizer onde fica sua vila? Vou lá comprar depois.

– Ficarei feliz se fizer isso, mas você precisa tanto de queijo assim? Acho que essa quantidade já é considerável.

– Estou cuidando de algumas crianças de um orfanato. Estava pensando em fazer algo com esse queijo para elas comerem depois.

– Entendo. Bem, se for à vila, será muito bem-vinda.

– Obrigada.

– Eu é que agradeço. Se eu não conseguisse vender isso, estaria em apuros.

– Sério? Nesse caso, posso pagar um pouco mais.

– Tem certeza?

– Claro. Em troca, venda mais barato quando eu for visitar.

– Sim, com certeza. Se eu não tiver que vir até a capital, já me poupa muito trabalho.

Peguei a localização da vila com ele e guardei todo o queijo na minha armazenagem de urso.

Deixamos o senhor e comecei a visitar as barracas com Fina e Noa.

– Yuna, aquele tal “queijo” de antes é realmente tão bom assim? – perguntou Noa. Acho que estava animada demais.

Eu pensava em pão, mas também queria comer pizza assim que chegasse em casa. Com isso e as batatas do outro dia, parecia que o destino estava me empurrando para fazer pizza. Um sorriso surgiu naturalmente no meu rosto.

– Hmm, depende da pessoa. Eu gosto, mas tem quem odeie.

– Então… posso experimentar?

– E-eu também gostaria de provar.

– Então que tal irmos pra casa agora mesmo e fazer uma pizza ou algo assim? Quase todo mundo gosta de pizza, afinal.

Como se eu precisasse de desculpa. Uma parte de mim até esperava que elas não gostassem de queijo, só para sobrar mais para mim.

– Sim, eu gostaria de experimentar – disse Noa.

Fui pensando nos ingredientes que tinha guardado enquanto comprava o que faltava para fazer pizza, e então seguimos de volta para a Casa de Urso.

 

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