Kuma Kuma Kuma Bear Volume 2 – Capítulo 38

A Ursa é Agradecida pelo Mestre da Guilda

Fui até a guilda procurar algo pra me manter ocupada. Cruzei olhares com a Helen na recepção, mas passei direto até o quadro onde ficavam afixadas as missões.

– Yuna! – a Helen gritou assim que me viu.

Eu gostaria que ela não gritasse sempre que me visse. Os aventureiros no salão estavam todos me encarando, mas, pensando bem, provavelmente fariam isso mesmo se ela não tivesse gritado. Ainda não estavam acostumados com o macacão de urso.

– O que foi?

Ela provavelmente gritaria meu nome de novo se eu ignorasse, então resolvi escutar logo.

– O que você aprontou dessa vez? O Mestre da Guilda mandou te chamar assim que aparecesse.

O que será que deu nela?

– Eu não aprontei nada. Dessa vez. Acho.

– Tem certeza?

Mesmo quando ela me lançou aquele olhar desconfiado, eu realmente não lembrava de ter feito nada. Nos últimos dias, nem mesmo aceitei missões. Não me lembrava de ter causado problemas a ninguém.

Mesmo com isso, a Helen me arrastou até a sala do Mestre da Guilda. Ele estava trabalhando em uma mesa no fundo, o que não combinava em nada com a imagem musculosa dele.

– Por favor, sente-se.

Ele fez um gesto para a enorme mesa cercada de cadeiras. Sentei no lugar mais próximo da porta.

– É sobre o Gentz. Queria te agradecer.

– Me agradecer?

– Você curou a doença da Tiermina e a incentivou a se casar com o Gentz, não foi?

– Foi, mas por que você está me agradecendo?

– Primeiro, parece que você usou um remédio valioso da sua terra natal pra curar a doença da Tiermina.

Como poderia ser ruim se descobrissem que eu a curei com magia, pedi pro Gentz e os outros dizerem que usei um remédio caro.

– Tiermina foi uma aventureira, então eu estava preocupado com a doença dela – continuou o Mestre da Guilda.

– Você também estava envolvido com a Fina trabalhar na guilda?

– Achei que era o mínimo que podia fazer. Ainda não podia contratá-la oficialmente, então só a chamávamos quando havia muito trabalho. Por isso fiquei grato de ver você trazendo tantos lobos. Você ainda está passando trabalho pra ela, né?

– Só porque eu quero.

– E não é só isso. Eu estava preocupado que o Gentz fosse ficar sofrendo por essa mulher até o fim da vida. Entre o Roy, a doença dela e as crianças, ele precisava de um empurrão seu pra sentir que ainda tinha uma chance com ela. Queria te dizer isso. Obrigado.

– Não se preocupe com isso. Eu meio que forcei eles a se casar por causa da Fina.

– Foi uma forçadinha com boas intenções. De qualquer forma, não precisamos mais nos preocupar com ele, e agora ele pode se dedicar ao trabalho.

Era possível que o Gentz e o Mestre da Guilda não tivessem só uma relação de chefe e subordinado. Mas também não pareciam ex-companheiros de equipe.

– Se era só isso, então vou indo.

No momento em que tentei levantar da cadeira, bateram à porta.

– O que foi?

– Com licença.

Uma funcionária da guilda fez uma reverência.

– Mestre da Guilda, o Lorde Cliff Fochrosé chegou. Posso trazê-lo até aqui?

Ela me lançou um olhar. Acho que não podia fazer um nobre esperar, mesmo que o Mestre estivesse ocupado comigo. O que será que o Cliff queria com o Mestre?

– Já terminamos – eu disse –, então tudo bem.

A funcionária olhou pro Mestre da Guilda. Ele assentiu levemente.

– Então irei chamá-lo.

Ela saiu da sala.

– Eu também vou indo.

– Sim, desculpe por ter te chamado.

Levantei da cadeira e, no momento em que tentei sair da sala, a porta se abriu.

– Desculpe por vir tão cedo.

Cliff entrou pela porta. Nossos olhares se cruzaram de leve.

– Um urso? Ah, Yuna.

Fiz aquele aceno básico de cabeça, o mínimo pra cumprimentar alguém educadamente. No momento em que tentei passar por ele, ele me chamou:

– Que bom que você está aqui. Pode me escutar um instante também, Yuna?

Ele segurou meu ombro, me puxou de volta pra dentro da sala e me fez sentar.

– Então, o que trouxe você aqui tão cedo, Lorde Cliff?

– Pode falar como de costume.

O Mestre da Guilda me olhou.

– Não precisa se preocupar com a Yuna.

– Bom, se é você quem diz, então entendi. O que me trouxe à guilda dos aventureiros…

O tom do Mestre da Guilda ficou mais amigável.

– É que eu precisava te perguntar uma coisa. Você sabe que o rei vai comemorar seu quadragésimo aniversário no próximo mês, certo?

– Acho que não existe ninguém no país que não saiba disso.

Eu não sabia. Mas, pelo visto, era isso mesmo.

– Eu não tenho nada de bom pra oferecer de presente pra ocasião.

– Nesse caso, vá até a guilda dos comerciantes.

– Já fui, mas eles não tinham nada que pudesse agradar o rei. Não adianta dar algo que ele pode simplesmente comprar com dinheiro. Queria saber se você tinha alguma espada, armadura ou ferramenta rara.

– A gente passa tudo pra guilda dos comerciantes. Você já viu tudo.

– Claro. Só vim confirmar. Então, como segunda opção, Yuna, queria te perguntar…

– Me perguntar o quê?

Senti um mau pressentimento.

– Você tem alguma coisa rara? Tipo aquela bolsa sem fundo? Ou um item que invoque montarias?

– Desculpa, mas não. E nem pretendo entregar os meus, óbvio.

Se ele me forçasse, tudo o que eu poderia fazer era fugir.

– Nesse caso, poderia fabricar algo? Tipo a casa de urso. Eu dei uma olhada uma vez – é impressionante. Claro que não dá pra mover algo tão grande, mas seria maravilhoso se pudesse fazer uma pequena.

Hummm, pensei. Não é que eu não possa fazer uma.

Eu podia aproveitar as conveniências do mundo da Terra e criar algo como o secador de cabelo. Por outro lado, talvez eles já tivessem descoberto todos os aparelhos que eu sabia fazer… ou talvez não. Eu não queria me destacar fazendo algo ruim também.

Por ora, dei uma olhada no Armazém Urso pra ver se achava algo bom…

…É? pensei. Tive uma ideia promissora.

– Você veio à guilda dos aventureiros atrás de algo raro, certo?

– Sim.

– Nesse caso, que tal isso?

Tirei a espada que peguei do rei goblin do meu Armazém Urso.

– E isso é?

Cliff e o Mestre da Guilda examinaram com atenção.

– É a espada do rei goblin.

– Sério?!

Não havia como duvidar, já que eu tinha a identificação urso a meu favor.

– Ouvi falar do incidente com o rei goblin, mas pegar a espada dele? Isso é inédito.

A reação deles foi bem melhor do que eu esperava.

– De qualquer forma, precisamos verificar se é verdadeira.

O Mestre da Guilda chamou um funcionário que sabia avaliar itens. Um senhor idoso veio na hora, pegou a espada nas mãos, analisou a lâmina e o cabo.

– Sem dúvida, é autêntica.

– Entendi, obrigado. Pode ir agora.

O avaliador fez uma reverência e saiu da sala.

– Você pode apresentar isso ao rei?

– Sim, é mais do que raro o suficiente.

– Quão raro pode ser? Reis goblins não são tão difíceis de encontrar.

– Nem todos têm espadas assim. Pelo que sei, a espada começa como uma normal; a mana do rei goblin passa por ela e vai transformando com o tempo. Se o rei for jovem, ou tiver mana fraca, a espada continua comum.

Acho que fazia sentido; no jogo, espadas de rei goblin eram uma recompensa bem rara. Ao mesmo tempo, no jogo não existia esse conceito de o rei goblin “crescer”.

– Então, você me deixaria ficar com essa espada?

– Não me importo.

Eu não precisava dela e, mais importante, tinha um nome horrível. Se eu fosse ter uma espada, queria uma com nome legal.

– Então quanto você quer por ela?

– Quanto costumam cobrar?

– Pra ser honesto, não sei. Nem dá pra conseguir algo assim, mesmo procurando. Diga um preço. Se eu puder pagar, eu pago.

– Isso é desvantajoso pra mim. Posso acabar cobrando barato demais sem querer.

Bom, não é como se eu tivesse problemas com dinheiro, então não me importava com o valor. Mas isso não era divertido.

– Te dou de graça se você concordar em me dever um favor.

– Um favor?

– Você deve fazer um monte de coisa errada sendo lorde, né? Então quero que me ajude um dia, quando eu estiver encrencada.

– Você tem uma opinião horrível de mim. Eu sou uma pessoa decente.

– Bom, brincadeiras à parte, se um dia eu precisar de algo de você, queria que escutasse meu pedido.

– Pode me dar um exemplo do que pediria?

– Tipo forçar um Mestre da Guilda a se demitir?

– E-epa! – O Mestre da Guilda se levantou.

– Era uma piada. Não preciso de nada agora. Se algum dia precisar, eu peço. E se for impossível, você pode recusar.

– Tem certeza disso?

– Sim. Parece mais interessante assim.

– Então, aceito com gratidão. Prepararei um contrato escrito depois.

– Não precisa. Se quebrar a promessa, tudo bem deixar pra lá.

Sorri pra ele. Na prática, eu não precisava da espada. Não custava nada me livrar dela. Fazer ele me dever um favor era só lucro.

– Prometo que vou te ajudar, se for algo que eu puder fazer.

Prometer foi meio dramático, mas…

– Nesse caso, por favor, me ajude quando chegar a hora.

 

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