Kuma Kuma Kuma Bear – Volume 3 Capitulo 51

A Ursa Ruma à Capital Real

No dia em que parti com a comitiva, primeiro passei na casa da Tiermina para buscar a Fina. De lá, seguimos para a casa do lorde feudal para nos encontrarmos com a Noa.

– Quem você vai escoltar, Yuna? – perguntou Fina.

– Ah? Esqueci de mencionar? É a filha do lorde da cidade.

O rosto da Fina empalideceu.

– O lorde… então isso significa que estamos indo para a casa do Lorde Fochrosé?

Assenti com a cabeça.

– Eu vou voltar pra casa – ela disse, tentando fugir, mas eu segurei sua mão com minha luva de urso.

– Vai ficar tudo bem – falei. – Não é como se fossem te devorar. Além disso, eu vou escoltar a filha dele – uma garota chamada Noa.

Pela reação da Fina, percebi que a divisão entre nobreza e plebeus era bem grande neste mundo. Mas Noa parecia ser uma garota gentil, mesmo sendo nobre.

– Você quer dizer Lady Noir? Mas alguém como eu não pode ir com você…

Estranho. Eu a chamava pelo apelido, mas a Fina a chamava de Noir. Então, ninguém usava esse apelido normalmente?

– De qualquer forma, vamos indo – falei. – Se disserem que você não pode vir, a gente vai sozinhas depois.

Fina veio a contragosto, mas eu não soltei sua mão. Quando chegamos à mansão, Noa já estava nos esperando no portão, de mãos na cintura.

– Você está atrasada, Yuna! – disse ela, sem nem nos cumprimentar.

– Não estamos atrasadas. Quando você começou a esperar?

– Desde que acordei e tomei café, faz mais ou menos uma hora…

– Você que chegou cedo demais.

– Eu só não conseguia esperar, sabendo que ia viajar com os ursos – respondeu ela, envergonhada. Era até bonitinho.

– Bem, tenho um favor pra te pedir.

– O quê?

– Vou levar ela também. Tudo bem pra você? – apontei para Fina, que se encolheu.

– Quem é ela?

– Esta é a Fina, que salvou minha vida.

– I-isso não é verdade. Yuna, você foi quem me salvou!

– Ela disse que nunca foi à capital real, então pensei em levá-la. Queria pedir sua permissão e a do Cliff.

– Eu não me importo muito, mas não vou abrir mão do meu lugar no urso.

– Vocês vão andar juntas no mesmo urso – falei.

– Suponho que tudo bem… Mas eu vou na frente!

– Quero pedir permissão ao Cliff também, só por segurança. Posso vê-lo?

Noa entrou e voltou com Cliff, que consentiu imediatamente.

– Não me importo – disse ele.

– Tem certeza?

– É só mais uma pessoa. Além disso, ter uma garota da mesma idade que minha filha por perto não é nada mal.

Fina cumprimentou Cliff nervosamente:

– E-eu sou a Fina.

– Por favor, cuide bem da minha filha.

– S-sim, senhor.

– Não seja duro com ela – falei, colocando-me entre os dois.

– Está me fazendo parecer maldoso. Só estava cumprimentando – protestou Cliff. Acho que o fato dele ser nobre deixava a Fina nervosa.

Seguimos para os portões da cidade. Noa parecia empolgada, mas Fina era pura tensão.

– Ah, qual é o seu nome mesmo? – perguntou Noa.

– Fina.

– Eu sou Noir. Prazer em conhecê-la.

– Sim, senhora!

A introdução formal pareceu aliviar os nervos da Fina, e um sorriso voltou ao seu rosto. Assim que saímos da cidade, invoquei Kumayuru e Kumakyu. Noa correu e abraçou Kumayuru assim que ele apareceu.

– Kumayuru, que bom te ver! – Depois abraçou Kumakyu do mesmo jeito. – Já disse isso, mas eu vou na frente!

– Sim, Lady Noir.

– Bem, é um prazer, Fina – Noa estendeu a mão.

– O prazer é meu também.

Montadas em Kumayuru, as duas não conseguiam conter os sorrisos. Acho que elas vão se dar bem, pensei, enquanto subia em Kumakyu.

– Muito bem, vamos para a capital!

Como não tínhamos pressa, seguimos em um ritmo tranquilo.

– Kumayuru, conto com você pra nos levar até a capital, tá? – Noa acariciou Kumayuru com delicadeza.

– Lady Noir, você já conhecia Kumayuru e Kumakyu?

– Yuna os levou à mansão e me deixou andar neles uma vez. Até tirei uma soneca com eles. Estava tão animada com essa viagem que mal consegui dormir. Como você conheceu a Yuna, Fina?

– Fina me ajudou quando eu estava perdida na floresta, quando cheguei aqui – interrompi.

– Isso aconteceu – disse Fina –, mas foi a Yuna que me salvou de um ataque de lobo. Eu só a guiei até a cidade.

– Depois, virei aventureira, mas como não sabia esfolar monstros, pedi para a Fina fazer isso por mim.

– Sim, e sou muito grata pelo dinheiro que você me paga.

– Fina, você sabe esfolar monstros? – Noa ficou surpresa.

– Sim, já faço isso há bastante tempo na guilda.

– Há muito tempo? Quantos anos você tem?

– Dez.

– Isso te faz da mesma idade que eu. Não consigo acreditar que você esfola monstros com essa idade… – Noa olhou para Fina com admiração. Então, até nesse mundo, isso era incomum. Fina devia ser mesmo especial.

As duas começaram a conversar animadamente. Afinal, tinham a mesma idade, independentemente da classe social. Enquanto escutava a conversa, seguimos pela estrada tranquilamente. Nenhum monstro ou ladrão apareceu, e logo o dia deu lugar à noite.

Procurei um bom lugar para acampar. Havia um bosque próximo à estrada que parecia promissor, então fomos até lá.

– Yuna – disse Noa – você não vai dizer que vamos acampar aqui fora, vai?

– Vamos, sim. Você achou que íamos ficar numa estalagem?

– Uhm, sim. Sempre que havia vilas ou cidades próximas, ficávamos em estalagens. Quando não havia, dormíamos na carruagem…

Claro. Ela era mesmo filha de nobre.

– Não se preocupe. Você terá um lugar para dormir.

– …?

Pedi que se afastassem um pouco e tirei a Casa Urso do Armazém Urso. A casa tinha o formato de dois ursos sentados: uma mãe e seu filhote. A ursa maior era a casa, e o filhote era um anexo onde Fina poderia fazer o abate. A porta principal ficava na pata esquerda da ursa mãe.

Fiz a casa numa escala menor para não chamar tanto a atenção, mas mesmo assim era chamativa. Também redesenhei o interior desde a última vez que Fina e eu caçamos lobos-tigre.

– Yuna?! Q-que… – Noa gritou, surpresa.

– É a Casa Urso. Essa é para viagens, então é um pouco menor.

– Eu não perguntei o que é. Queria saber de onde veio. Bem, acho que sei, mas isso cabe mesmo nessa bolsa sem fundo?

– Não sei quais os limites da minha bolsa sem fundo – respondi. A casa maior cabia. E a víbora negra também.

– Você não está surpresa, Fina? – Noa perguntou. Ela parecia incrédula.

– Não. Já vi ela tirar uma Casa Urso antes.

– Ah, isso é segredo, então não conte a ninguém – avisei Noa. – Bem, vamos entrar? Vocês devem estar cansadas.

Desinvoquei Kumayuru e Kumakyu, e levei as garotas para dentro.

– Ah, Noa, por favor, tire os sapatos aqui.

Tinha chinelos prontos para Noa e Fina na entrada. Além dali, havia uma sala de estar conjugada com sala de jantar, iluminada por pedras de mana e espaçosa o bastante para dez pessoas.

– Que tipo de casa é essa?! – exclamou Noa.

– Escolha uma cadeira e sente-se. Vou preparar o jantar.

Fui até a cozinha, untei uma frigideira, peguei carne moída e ovos para fazer hambúrguer. Enquanto grelhava, preparei uma salada. Crianças precisam de vegetais. Quando os hambúrgueres ficaram prontos, servi a sopa quente da estalagem em tigelas e coloquei pão fresco num prato. Depois, servi suco de frutas.

– Yuna, o que é isso? – perguntou Noa.

– É o jantar. Se quiser algo como os pratos da sua mansão, não consigo fazer isso.

– Não, nem pensei nisso. Na verdade, está cheirando ainda melhor do que as refeições de casa.

– É mesmo? Que bom. Comam enquanto está quente.

Noa e Fina começaram a comer.

– O que é essa coisa deliciosa?

– É hambúrguer.

– Ham-bur-guer?

– É. Não comem isso neste país?

– Não é que não comemos, é só que nunca comi algo assim.

– Sério? Só moí carne de lobo, boi e porco e misturei tudo.

– Yuna, acha que posso fazer isso em casa? – perguntou Fina.

– Acho que sim, mas talvez o molho seja mais difícil. Também fica bom com nabo ralado.

– Me ensina a fazer da próxima vez? Quero que minha família prove!

– Claro.

– Eu também quero – disse Noa.

– Noa, você não precisa. Tem criados para cozinhar por você.

– É verdade, mas não gosto de ficar de fora.

– Podemos deixar isso pra quando voltarmos à cidade.

– Essa sopa está ótima também.

– A estalagem preparou pra mim.

– E o pão?

– Encontrei uma boa padaria, então fiz estoque.

Depois de um pouco de conversa, terminamos a refeição. A essa altura, Fina e Noa já conversavam com naturalidade.

– Agora vamos descansar um pouco, depois tomar banho. Vamos sair ao nascer do sol, então precisamos dormir cedo.

– Entendido.

– Vamos mesmo sair tão cedo assim?

As reações foram opostas: Fina sempre acordava cedo para trabalhar e fazer tarefas domésticas, enquanto Noa era uma nobre acostumada a manhãs tranquilas.

– É que não quero que ninguém veja a casa. Quero desmontar tudo antes que alguém acorde e comece a bisbilhotar.

– Entendi. Ah, você disse algo sobre banho? Ou ouvi errado?

– Não ouviu errado. Tem um banho, sim. Então relaxe antes de dormir. Fina, pode mostrar pra ela como funciona?

– Sinto que tudo o que eu achava ser senso comum está desmoronando – disse Noa, enquanto Fina a conduzia até o banheiro.

Enquanto isso, eu limpava a louça do jantar. Quando as duas voltaram, entreguei-lhes o secador para que secassem o cabelo, e fui tomar meu banho. Quando voltei, estavam me esperando.

– Ainda não foram dormir?

– Dormir onde?

Certo, esqueci de mostrar os quartos.

O primeiro andar tinha sala, cozinha, banheiro e banho. O segundo andar tinha três quartos pequenos. Um era meu, e os outros dois eram para convidados. Cada quarto tinha três camas, totalizando seis.

Mostrei os quartos para elas.

– O que acham? Querem dormir separadas?

– Pra mim, tanto faz. Você escolhe, Lady Noir.

– Quero conversar antes de dormir, então vamos ficar no mesmo quarto.

– Ok!

– Podem conversar, mas não fiquem acordadas até tarde – falei, indo para o meu quarto. Seria embaraçoso acordar atrasada depois de tanto insistir que dormissem cedo.

 

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