Kuma Kuma Kuma Bear Volume 5 – Capitulo 103

A Ursa Vai ao Guilda de Comércio

Eu estava diante do que agora chamavam de “Túnel do Urso”, tentando sorrir e aguentar a humilhação. Cara… o sorriso do Cliff me dava vontade de revidar… e foi aí que uma ideia me ocorreu.

Sim, eu faria uma estátua de urso pra ele, com certeza. Reuni meu mana e criei um urso realista no meio de um rugido feroz, pronto para despedaçar algum coitado. Muito satisfatório… até alguém me dar um tapa na cabeça.

– Ai.

Um tapa leve, mas mesmo assim!

– O que você acha que está fazendo?

– Ué, é um urso, Cliff! Você não queria um urso?

– Por que você fez ele tão sinistro e assustador?

– Pra te irritar? – Outro tapinha. – Nesse caso, que tipo de urso você quer que eu faça? Se disser “uma estátua sua”, eu vou embora, tá? – falei, massageando a cabeça.

– Faça algo como os que ficam na sua loja. As pessoas adoram aqueles pequeninos.

Nossa, até o Cliff achava aqueles ursos estilo nendoroid fofos. Eles tinham realmente virado febre, até em Crimonia. De vez em quando, eu via crianças na loja abraçando-os como se fosse a melhor coisa do mundo.

– Nesse caso – disse Milaine – seria legal se ele estivesse segurando algo, igual ao urso da loja. – (Curiosidade: o urso na frente da loja segurava um pão não só pra “segurar alguma coisa”, mas porque o urso era um padeiro.)

Cliff assentiu.

– Então que tal espadas? Seriam como guardiões do túnel.

– Boa ideia, Cliff.

Eles seguiram conversando sem mim, a pessoa que estava realmente fazendo o trabalho da estátua. O grupo dos velhotes e Atola não conheciam minha loja, então só observaram.

– Mas aí não precisaria também de um escudo?

– Acho que só atrapalharia.

Cliff e Milaine terminaram a discussão, e acabamos indo com um urso fofinho como o da loja, mas segurando uma espada bacana. Eu até pensei que o urso poderia ter um escudão — talvez coincidentemente grande demais — mas isso me rendeu outro tapa na cabeça.

Estranho. Eu achei que era uma boa ideia. Se ia ser um guardião, obviamente precisaria de um escudo grande para proteger coisas, certo? No fim, fizemos uma estátua de pedra no estilo nendoroid segurando uma espada na entrada do túnel. O escudo foi rejeitado porque “atrapalhava de ver o urso” (total coincidência, claro).

– São ursos bem fofos.

– De fato…

Atola e o grupo dos velhos pareciam incertos enquanto inspecionavam a estátua.

– O que foi? Não gostaram? – E depois de todo o meu esforço…

– Não, não é isso… só que… o urso é fofo demais. Mas, pensando bem, é melhor que aquele assustador de antes – disse Atola, balançando a cabeça. Os velhos concordaram. Ninguém realmente reclamou, então pronto: um urso de pedra estilo nendoroid segurando uma espada estava finalizado na entrada do lado de Mileela do túnel.

E agora… argh, eu veria um urso toda vez que usasse o túnel.

Com o túnel inspecionado e a estátua pronta, voltamos ao porto.

– O que você quer fazer agora, Cliff? – perguntou Milaine. – Eu gostaria de ir até o guilda de comércio.

– Certo. Vou precisar da ajuda deles — é melhor eu ir também.

– Sem dúvida — ter o lorde de Crimonia presente me dará bastante vantagem, se eu precisar.

– E… eu? – comecei a dizer. Não tinha como eles precisarem de mim nisso, certo? Eu podia ir embora… né?

– Claro que você vai nos acompanhar – disse Cliff, como se fosse óbvio. – Você tem mais influência do que eu, afinal.

Ele devia estar brincando. Não tinha como uma ursa ter mais poder político que um lorde.

– Ele tem razão – disse Milaine. – Com base em tudo até agora, Yuna teria mais influência.

Sério? O lorde não era o suficiente?

Como se estivessem lendo minha mente só pra me irritar, até Atola entrou na conversa:

– Acho que, com Yuna por perto, as negociações vão fluir muito melhor.

Influência política? Eu?! Argh. Eu queria gritar. Eu? Eu?!

– Mandarei as carruagens para o guilda de comércio – disse Atola, e o cocheiro seguiu viagem.

Sim, eles venceram: eu acabei indo junto para o guilda de comércio, e tudo nas mesmas carruagens de antes.

– Atola – falei, tentando mudar de assunto – sobre aquele terreno…

Pedi a Atola um pedaço de terra onde eu pudesse construir uma Casa de Urso. Já que seria uma casa numa cidade costeira, queria garantir que tivesse uma boa vista.

– Encontrei algumas boas opções. Pensei que você poderia escolher sua favorita.

– Sobre isso… eu poderia construir minha casa em algum lugar entre o túnel e o porto, como o Cliff mencionou antes? Assim não chamaria tanta atenção.

– Isso seria possível, mas vai construir sozinha? – Atola riu. – Acho que você é capaz. – Ela tinha visto a estátua, afinal, então parecia meio convencida.

– Você vai se cansar tentando acompanhar as loucuras dela – disse Cliff. – Ela construiu uma Casa de Urso do dia pra noite na minha cidade. Você não imagina a confusão.

Ah, é verdade, né? Parecia coisa de séculos atrás, mas tinha sido só alguns meses.

– Uma Casa de Urso? – repetiu Atola.

– Toda casa que ela faz é uma Casa de Urso. Ela tem uma na capital real, tão ursística quanto as outras.

Olhei para ele.

– Como você sabe da minha casa na capital?

– Eu vi, obviamente. A Ellelaura caiu na gargalhada quando viu.

Claro, Cliff tinha visitado a capital, então fazia sentido ele saber dessa e da minha casa itinerante. Nada que eu pudesse fazer, exceto aceitar.

– Cliff.

– O que foi?

– Sobre a casa… posso colocar onde eu quiser? Tem alguma sugestão? Posso ouvir.

– Nenhuma em particular. Construa onde quiser, contanto que não bloqueie a estrada.

Olhei para Atola para confirmar.

– Sim, por mim tudo bem. Vou avisar o velho Kuro e os outros.

Com a permissão de Cliff e Atola, eu podia colocar a Casa de Urso onde eu quisesse. Comecei a olhar pela janela da carruagem imediatamente, imaginando lugares. Talvez… ali? Não, espera, aquele ponto era bem melhor! Anotei mentalmente alguns candidatos e tentei imaginar como ficaria. Aquele lugar era perto do túnel, mas longe do porto. O outro lugar era perto do porto, mas longe do túnel.

Ooo, mas e aquele outro? Ficava perto da praia.

Toda essa imaginação fez a viagem passar depressa — logo chegamos ao guilda de comércio. Descemos da carruagem, e Jeremo e o grupo dos velhos também. Atola nos guiou para dentro.

– Atola? Aconteceu alguma coisa? – Os funcionários ficaram surpresos ao ver Atola e o grupo dos velhos entrando.

Atola olhou ao redor.

– Está todo mundo aqui?

– Ah, algumas pessoas saíram – respondeu um dos funcionários após checar rapidamente.

– Certo. O suficiente já está aqui. Quero que escutem com atenção o que tenho a dizer. Podem informar quem não estiver quando eles voltarem.

Os funcionários pararam o que estavam fazendo e se reuniram.

– Todos sabemos o que aconteceu com o antigo mestre do guilda, e sabemos que precisamos de um novo imediatamente. Para isso, gostaria de anunciar que escolhemos Jeremo.

– Vocês escolheram o Jeremo? – Os funcionários olharam para ele. Jeremo olhou de relance para a porta, como se quisesse fugir.

– Peço desculpas pela decisão unilateral – disse Atola –, mas era necessária.

– Não, imagina – disse um dos funcionários rapidamente. – Atola, se você e os anciãos decidiram, então não vamos nos opor.

Os outros concordaram… bem, a maioria.

– Tem certeza de que a filial do porto pode escolher um mestre por conta própria? Não deveríamos consultar a sede da guilda?

– Eu enviarei um relatório – disse Milaine, dando um passo à frente –, então não precisam se preocupar.

– E… quem é você?

– Sou Milaine, mestre do guilda de comércio de Crimonia. Depois de ouvir Atola e os anciãos, decidi nomeá-lo como mestre. Claro, isso é temporário, então se ele não parecer adequado, vou removê-lo.

Os funcionários ficaram chocados com a entrada repentina de Milaine. Dá pra entender — para eles, ela simplesmente apareceu do nada.

– Além disso – continuou Milaine – este porto está agora sob a jurisdição do Lorde Fochrosé e sua família, de Crimonia.

Os funcionários olharam para Cliff, o lorde de Crimonia, e ondas de choque passaram pelo grupo.

– Mas achei que estávamos longe demais de Crimonia!

– Isso – disse Milaine com um sorriso – não é um problema.

Ela explicou que eu tinha… “descoberto” um túnel que conectava as cidades, e que logo pessoas poderiam ir e vir normalmente.

Os funcionários ficaram confusos. Jeremo se tornara mestre do nada, tudo porque uma mestre de guilda estrangeira e o lorde de Crimonia apareceram de surpresa. Aí, também, descobrirem que existia um túnel recém-encontrado ligando as cidades, e ouvirem todos os planos futuros para o porto… era muita informação de uma vez só.

E eu? Eu só fiquei numa cadeira no canto, ouvindo. Será que precisavam mesmo de mim?

No fim, eu não ligava de ter vindo até o guilda, mas Cliff e Milaine ficavam falando: “Yuna pediu para virmos”, “A Ursa pediu isso”. Eu nem tinha dito uma palavra.

Jeremo veio até mim, suspirando.

– Cliff e Milaine são impressionantes.

Lá estavam eles, dando instruções detalhadas ao pessoal do guilda. Viva. – Tem certeza de que não deveria estar lá ouvindo?

– Eles já me disseram o que preciso fazer. Você é que não devia ficar aí num canto?

– O que eu deveria fazer?

– Não sei, mas Cliff e Milaine confiam muito em você.

Confiavam? – Temos um histórico longo.

Tudo tinha começado com Cliff e o orfanato. Recusei-me a vender os ovos para ele, resolvemos o mal-entendido, e escoltei Noa até a capital. Até enfrentei dez mil monstros para proteger Cliff. Com Milaine, teve toda a história dos ovos de kokekko, e ela ajudou tanto para abrir a loja da Morin. E eles sabiam que eu tinha derrotado tigerwolves e uma víbora negra.

Vendo assim, eu devia muito a eles. E também os ajudei, mesmo que não nos conhecêssemos há muito tempo. Tanta coisa tinha acontecido, tão rápido…

Nada disso — nenhuma dessas relações — teria acontecido quando eu vivia trancada no meu quarto, todos os dias.

Não demorou para Cliff e Milaine terminarem as explicações, e voltamos à estalagem. Eu não conseguia evitar pensar se havia sido inútil ter ido até lá, mas…

Tanto o pessoal de Crimonia quanto o de Mileela disseram “Sim”.

Afinal, eu era a única que tinha vivido bastante tempo em ambas as cidades. Provavelmente era isso.

Como Cliff disse:

– Eles confiam em mim porque você está aqui.

Ou, como disse o grupo dos velhos:

– Confiamos no Lorde Cliff porque você parecia confiar nele.

Até os funcionários do guilda disseram que confiavam em qualquer pessoa que fosse amiga da garota que salvou o porto. O que era uma responsabilidade e tanto, né? Se um lado traísse o outro, isso não cairia sobre mim? Que estranho. Em que momento minha vida virou isso?

Ninguém perguntou como eu me sentia.


 

Comentar

Options

not work with dark mode
Reset