Alguns dias se passaram desde a inauguração, e tudo estava indo muito bem… exceto pelo estoque de batatas e queijo. Ainda tínhamos o suficiente, mas estávamos vivendo perigosamente no limite (amidonado). Antes que acabasse de vez, decidi ir pessoalmente até as vilas que forneciam esses ingredientes.
A vila das batatas era mais próxima. Montei no Kumayuru para chegar rápido — Kumayuru era definitivamente mais veloz. Será que minhas invocações estavam ficando mais poderosas junto comigo?
Diminuí a velocidade ao entrar na vila e… um estranho se aproximou.
– Q-q-quem é você?! – perguntou, tremendo. Por um momento, não entendi por que ele estava tão assustado, até perceber que ele estava olhando para o Kumayuru.
– Sou a aventureira Yuna. Esse é meu urso, então está tudo bem. – Dei um tapinha na cabeça do Kumayuru para mostrar.
– Tem certeza?
– Sim, desde que você não tente machucá-lo. Gostaria de ver um cara chamado Zamoru. Ele está por aqui?
– Zamoru?
– É, conheci ele na capital. Me vendeu umas batatas.
O homem relaxou.
– Você é aquela garota-ursa que comprou dele?
– A menos que tenha outra garota vestida de urso por aí, sim. – Céus, espero que não tenha. Seria um problema.
– Você realmente está vestida de urso. Zamoru contou pra todo mundo, mas… Ok, esse seu urso é mesmo inofensivo, né?
– Tudo certo.
Mais uma vez, dei um tapinha no Kumayuru, que respondeu com um satisfatório – Cwooom…
– Ok. Vou chamar o Zamoru, então espere aqui. Não entre direto, vai assustar o pessoal.
Fazia sentido. Qualquer aldeão normal ficaria apavorado se um urso invadisse a vila, então obedeci enquanto ele ia buscar Zamoru. Alguns moradores me observavam de longe, e pude ouvir o homem dizer: “Zamoru conhece ela; está tudo bem.”
Logo ele voltou com Zamoru.
– Quanto tempo, hein? – disse com um sorriso.
– Uma garota-ursa e um urso de verdade. – Ele olhou para mim, depois para Kumayuru, e de volta. – Sabe, achei que era brincadeira esse papo de garota montada num urso, mas aqui estamos. O que você precisa? Nosso encontro em Crimonia não era mais pra frente? Veio reclamar que alguém ficou doente?
– Ugh. Que negatividade. Podia pelo menos perguntar antes de assumir coisas.
– Então?
– Estou sem batatas. Vim comprar mais.
– Tá brincando. Te vendi um monte lá na capital.
– Pois é, né. Mas não previmos a popularidade absurda das refeições que fiz com elas, e agora estamos praticamente sem nada. Não dá pra esperar até nosso encontro em Crimonia. Não mais.
– Inacreditável…
Sem mais opções, tirei batatas fritas e chips da minha bolsa.
– Fiz isso com as batatas.
Zamoru experimentou os chips feitos das próprias batatas.
– Hm. Delicioso.
– Bom pra petiscar, né? Só fritei no óleo e joguei um salzinho.
– Isso aqui também está macio e gostoso.
– Também foi frito.
– Tem certeza de que isso é feito com as batatas?
– Aham. Até usamos na pizza, então estamos gastando bastante.
– Pizza-Sa?
Ah, claro. Tirei uma pizza da minha bolsa também.
– Piz-za. As batatas são coadjuvantes aqui, mas ainda essenciais. Experimenta.
Zamoru, surpreso, comeu.
– Incrível! Isso foi feito com as batatas que eu produzi?
– Sim. Bastante. Então, por favor, continue cultivando batatas.
– Claro, mas não é algo imediato.
– Tudo bem. Ainda não estou com pressa, mas quanto antes melhor. Pode levar tudo pra Crimonia quando estiver pronto?
– Ok. Levo assim que der.
– Beleza. Toma isso. – Entreguei um saco de itens que peguei dos ladrões.
– E isso?
– Um saco mágico. Nunca usei, então não sei o quanto cabe, mas acho que as batatas vão caber.
– Um saco mágico? E vai me dar assim?
– Claro. Quando não estiver usando, pode emprestar pros outros moradores. Vai facilitar carregar as coisas, né?
– Realmente vai…
– Então tá certo. Só me traga as batatas.
– Sim, claro! Quantas devo levar?
– A mesma quantidade da última vez. Entregue para uma mulher chamada Morin, na loja Bear Lounge em Crimonia.
– Morin, da Bear Lounge. Entendido.
Subi no Kumayuru.
– Já vai?
– Tenho mais lugares pra visitar. Coisas para pegar.
Kumayuru e eu partimos como o vento rumo à vila do queijo, em busca daquele tesouro derretido…
A vila apareceu rápido. Segui as instruções do velho vendedor de queijo. Pelo que ele disse, parecia ser ali.
Dessa vez, pra não assustar ninguém, pedi pro Kumayuru andar devagar e desci antes de entrar. Mesmo assim, um homem com lança se aproximou. Justo. Fiquei na frente do Kumayuru para que ele não virasse alvo.
– Você… está vestida de urso? Seria por acaso a garota que comprou queijo na capital?
– Isso mesmo. Comprei queijo, tô de urso, tudo isso aí. Posso falar com o vendedor?
– Sim. Ouvimos sobre você do chefe da vila.
– Ele falou de mim?
– Disse para deixar “a garota de roupa de urso” entrar. Como você foi uma compradora generosa, ele mandou os guardas tratarem você com respeito.
Olhei em volta.
– Vocês parecem bem armados. Aconteceu algo?
– Goblins apareceram e começaram a atacar o gado. Estamos em patrulha desde então.
Ah, goblins. Então o Kumayuru não foi o problema.
– Bom, vou chamar o chefe.
– Posso levar meu urso?
– Infelizmente, melhor não. Vou chamá-lo, espere aqui.
Mais uma vez, fiquei esperando. Logo o velho do queijo apareceu.
– Ah, a garota-ursa! Veio mesmo!
– Prometi, né? E não esqueceu que ia me dar desconto se eu viesse, certo?
– De jeito nenhum.
O guarda assentiu.
– Chefe, vou voltar à patrulha.
– Sim, por favor.
O homem se curvou e voltou ao posto. O chefe olhou atentamente para o Kumayuru.
– E esse urso?
– É meu. Não se preocupe.
– Soube que goblins estão atacando o gado. Está tudo bem?
– Reforçamos as patrulhas, então devemos resistir.
– Não enviaram pedido à guilda?
– Enviamos, com o dinheiro que você nos deu, mas…
Ninguém apareceu. Os aventureiros escolhem as missões que quiserem. Vão nas mais fáceis, mais próximas. Eu faria o mesmo, pra ser sincera.
– Estamos fazendo o que dá, mas o número de goblins cresce. Estão dizimando nosso rebanho. Se continuar assim, não vamos conseguir fazer queijo.
Como é?! Sem queijo? Isso é uma emergência! Só havia uma coisa a fazer.
– Vou matar os goblins. Todos.
– O quê? Todos?
– Sou aventureira. Não se deixe enganar pelo traje de urso. – Mostrei meu cartão da guilda.
– E tenho meu urso. – Dei um tapinha no Kumayuru.
– E sem queijo, adeus pizza. Não posso deixar essa vila nas mãos dos goblins.
– Vai mesmo?
– Pelo bem do queijo.
Parti com Kumayuru para a floresta infestada de goblins. Diziam que ninguém conseguia nem entrar lá. Usei meu Detector e encontrei todos.
– Vamos nessa, parceiro.
Demos início ao massacre dos goblins.
Nem preciso dizer — terminou rapidinho. Goblins erradicados. Voltei.
– Moça, desistiu? – perguntou o chefe da vila, esperando na entrada.
– Veja com seus próprios olhos. Não sobrou nenhum goblin. Tinha até um orc lá, matei também.
– Muito engraçada você…
Tirei todos os corpos da bolsa. Todos. Cada monstro. Um monte na entrada da vila.
– Isso são…!
– Extremamente mortos, sim.
– Você realmente derrotou todos…
O velho ficou emocionado. Logo os aldeões se reuniram.
– Chefe, o que é isso?
– Parece mentira, mas essa garota de urso… exterminou tudo isso.
Quando viram os corpos e o Kumayuru, acreditaram. Aparência importa.
Em troca de se livrarem dos corpos, deixei as pedras mágicas com eles. Fui com o chefe até o estoque de queijos. Um armazém subterrâneo, com vários tipos.
– Tem certeza?
Estavam me dando queijo como agradecimento.
– Claro. É o mínimo que podemos fazer.
Conversamos sobre o futuro. Até então, faziam só para consumo local. Isso não serviria. Se eu comprasse tudo, acabava logo. Fizemos um contrato: eu compraria periodicamente, ele faria mais.
– Você gosta tanto do nosso queijo assim…?
O velho quase chorando de novo. Glândulas lacrimais hiperativas, certeza.
– Só faça queijo delicioso, tá?
– Sim! Darei meu corpo e alma nisso!
Ele me mostrou os animais da vila e, por curiosidade, pedi para me ensinar a fazer queijo. Ele aceitou.
– Mas não é segredo da vila?
– Não de você, salvadora da vila.
Legal. Fiquei até meio culpada. Mas não ia sair fazendo queijo por aí só porque aprendi.
Teve uma festa de boas-vindas também. Mas acho que fui eu que animei: para mostrar como o queijo deles era maravilhoso e agradecer, fiz fornos e preparei pizzas com o próprio queijo da vila.