Kuma Kuma Kum Bear Volume 4 – Capitulo 86

A Ursa Vai à Guilda dos Aventureiros

— Yuna, querida, essa é a estalagem.
Era bem maior do que eu esperava.
— Normalmente, vêm pessoas de outros portos comprar peixe. Mas, agora… temos quartos vagos.
Os dois entraram primeiro e eu os segui.

— O Deigha está aí?

— É você, Damon?

Um cara bronzeado e bombado estava atrás do balcão, musculoso como um deus do mar saído direto das ondas. Nossos olhares se encontraram.

— Músculos? — soltei.

— Urso? — ele respondeu na mesma hora.

Os músculos dele eram realmente exagerados. Parecia alguma divindade marinha.

— Damon — ele resmungou —, quem é essa garotinha fofa com roupa de urso?

— A garota que salvou nossas vidas. Quase morremos na neve indo para Crimonia.

— Isso é exagerar um pouco — eu disse.

— E ainda é modesta! Caímos na nevasca, e ela nos encontrou. Depois nos protegeu e nos trouxe até o porto.

— Essa garotinha de roupa de urso fez isso…

— Ela quer ficar na estalagem. Tem quartos livres?

— Hm. Só estão os aventureiros que chegaram mais cedo. Tem bastante vaga.

— Pode deixá-la ficar aqui?

— Claro. Mas não posso servir refeições. Aposto que o Damon já contou, mas estamos com falta de comida aqui no porto. Desculpa a grosseria, mas não tenho como alimentar uma estranha.

Ehh. Eu tinha os pães que a Morin fez pra mim e um monte de outras coisas, então não tinha problema com comida.

— Se você tiver ingredientes — ele acrescentou —, posso preparar alguma coisa.

Como ele ofereceu, resolvi aceitar. Pena que não dava pra conseguir frutos do mar. Tirei carne, legumes, farinha e outras coisas do meu armazenamento de urso e coloquei tudo diante do machão.

— Se puder preparar algo com isso…

— Uou, uou — como é que você tá carregando tanta comida assim?!

Dei de ombros.

— Não sei por quanto tempo vou ficar. Só prepare algo gostoso, se puder. Se precisar de mais ingredientes, é só falar.

— Certo, entendido. Vou preparar alguma coisa agora. Queria poder servir frutos do mar, mas… Ah, meu nome é Deigha.

— Eu sou Yuna.

— Bem, prazer em conhecê-la, Senhorita Urso.

Por que ninguém podia simplesmente usar meu nome como uma pessoa normal?

Damon e Yuula voltaram para casa, e eu recebi minha refeição, que estava surpreendentemente deliciosa. O cara cozinhava bem. De barriga cheia, fui conduzida ao meu quarto. Como havia muitos disponíveis, ele me deixou ficar no maior quarto individual, com pagamento adiado. Até dava pra invocar meus ursos lá dentro.

Sentei na cama e tirei meu telefone de urso. Fina podia estar preocupada comigo, então resolvi ligar.

— Yuna?!

Depois de alguns chamados de urso, Fina atendeu.

— Fina — falei com minha melhor voz de agente secreto —, missão cumprida.

— Sério? Que alívio. — Dava pra sentir o quanto ela estava aliviada. Era tocante ver o quanto ela se preocupava. — O oceano é bonito?

— É sim. Bonito, grande, azul. — Embora eu ainda não tivesse visto de perto.

— Que inveja… Queria tanto ver também…

— Se a Tiermina deixar, quer vir comigo da próxima vez?

— Você tá falando sério?!

Bom, eu não podia levá-la até lidar com os bandidos e o kraken, mas… por que não? Só que não queria deixá-la preocupada, então não falei nada sobre os bandidos, o kraken ou a fome. Disse apenas que estava curtindo a brisa do mar e que talvez demorasse um pouco pra voltar pra Crimonia.

— Então, se algo acontecer, não hesite em ligar.

Já era tarde, então queria encurtar a conversa.

— Tá bom. Mas, Yuna, não faz nada imprudente, hein?

Na manhã seguinte, acordei com dois grandes pãezinhos preto e branco sobre minha cama. Ao observar melhor, vi que Kumayuru e Kumakyu estavam encolhidos e dormindo em forma de filhotes. Ah, é, eu tinha invocado os dois como medida de segurança. Afinal, havia uma donzela de quinze anos dormindo aqui — era preciso alguma proteção.

Meus ursos estavam dormindo tão tranquilos… Eles iam me acordar se alguém aparecesse, certo? Quando os acariciei, eles me olharam, bocejaram em sincronia e… imediatamente voltaram a dormir. Recolhi os pequenos, saí da cama e troquei minha roupa de urso branco pela de urso preto. Depois, fui até o refeitório no andar de baixo.

— Acordou cedo. Tenho comida pronta, se quiser.

O bombadão Deigha me serviu o café da manhã, que estava tão delicioso quanto antes.

Os funcionários da estalagem incluíam Deigha, sua esposa e os filhos, que puxaram mais à mãe. Todos eram mais velhos que eu. O filho ajudava na estalagem e também trabalhava como pescador. Como os pescadores estavam presos em terra, ele estava ajudando mais por ali mesmo.

A irmã, acho que era alguns anos mais velha que eu. Ajudava com a limpeza, a lavanderia, a cozinha e tudo o que a mãe precisasse. Fiquei aliviada ao ver que eles não eram bombados como o pai. Já tinha músculo demais pra um único prédio.

— Tá gostoso? — resmungou Deigha. Mas ele resmungava tudo.

— Uma delícia!

— Que bom ouvir isso. Tem certeza de que podemos comer um pouco também?

— Vocês estão me dando um quarto ótimo. É o mínimo que posso fazer.

Segundo Deigha, algumas famílias estavam quase sem comida. Eles estavam dividindo entre conhecidos, mas mesmo assim, quase acabando.

— Pelo menos — acrescentei —, a guilda do comércio está distribuindo comida, certo?

— Hmph! Estão fingindo que sim. Na verdade, só estão enchendo os bolsos dos ricos.

Igual Yuula e Damon tinham dito. Nesse caso, melhor evitar a guilda do comércio pra distribuir comida.

— E você também não consegue comida?

Deigha balançou a cabeça.

— A guilda dos aventureiros está caçando lobos e outros animais na floresta pra distribuir, mas não dá conta de tudo.

— A guilda dos aventureiros tá fazendo isso?

— Sim, eles estão ajudando muita gente.

Então a guilda do comércio era lixo, mas a dos aventureiros podia ser decente. Interessante.

Quando saí da estalagem, fui em direção à guilda dos aventureiros com a ajuda das direções do Deigha. Encontrei o lugar rapidinho; era menor que a de Crimonia. Me preparei para mais uma briga com aventureiros barulhentos ao entrar, mas…

— Ninguém por aqui?

— Que rude. Eu tô bem aqui, sabia?

Olhei na direção da voz e vi… uma exibicionista. Ela usava uma saia curtíssima, uma blusa que realçava o decote e estava bebendo — mesmo sendo de manhã.

— Muito bem, ursinha fofa, o que você tá fazendo numa guilda de aventureiros?

 

 

— Essa é a guilda dos aventureiros, certo? — Eu não tinha entrado por engano numa loja de produtos para adultos, né?

— É sim. E o que tem?

— E essa roupa aí?

— Que rude. Essa é a minha roupa. Deixa os rapazes loucos. — Ela se inclinou para frente, destacando ainda mais os seios. Tá bom, esfrega mesmo na cara da garota-urso com peito de tábua. Mas eu alcançaria ela em alguns anos… certo?

— Ok — respondi lentamente —, mas não tem nenhum homem por aqui? Ou… ninguém?

— Claro que não. Você não ouviu o que tá acontecendo nessa cidade, ursinha?

— Kraken, bandidos, fome… Já entendi o básico. E alguns aventureiros de alto nível fugiram com alguns moradores da cidade, deixando só os de nível baixo pra trás. E ninguém mais.

— Tá quase certo, garotinha. Mas os aventureiros que ficaram estão lá na guilda do comércio.

— Sério? Por que na guilda do comércio?

— Eles são de nível baixo, mas ainda conseguem caçar monstros menores. A guilda do comércio compra essas coisas por um bom preço, então a maioria foi pra lá.

Entendi. Então estavam ganhando dinheiro vendendo pra guilda do comércio em vez de aqui. Os aventureiros estavam preferindo grana alta a… bem, melhor não comentar isso em voz alta.

— A guilda dos aventureiros não pode pagar preços melhores?

— Hmph. Já ouvi essa antes. — A mulher me lançou um olhar afiado. Acabei recuando sem querer — o olhar dela era cortante. — Ha ha, tô brincando. Você é bem nervosinha, hein. E então, o que veio fazer aqui, ursinha fofa?

— Ouvi dizer que vocês estão com falta de comida, então vim ajudar. Sou uma aventureira.

— Você? Uma aventureira? Pff. Heh. Ahahahaha! Faz tempo que eu não dou uma boa risada, obrigada. Você, garotinha de roupa de urso, é uma aventureira? Ahaha ha!

Ela continuava rindo sem parar.

— Sou sim, uma aventureira. Tá bom?

A mulher tomou um gole da bebida e quase cuspiu de tanto rir.

— D-desculpa, desculpa, é que—pfffeeeahhahahaha! Eu só não consigo imaginar uma garota com uma roupa de urso tão fofa sendo uma aventureira. Só pra garantir… pode me mostrar sua carteirinha da guilda?

— Mostra a sua primeiro.

— Ah, é. Foi mal. Eu sou a mestra da guilda dessa cidade. Me chamo Atola.

Jamais teria adivinhado. Mas, pelo visto, estavam com falta de pessoal mesmo. Entreguei minha carteirinha pra Atola.

— Não tem mais ninguém da equipe por aqui?

— Não dá tempo pra ficar à toa com a cidade nesse estado — disse ela, e tomou um gole enorme de bebida. — Uff. Sem enrolação. Os que sabem lutar estão nas montanhas buscando comida, e os mais fortes estão negociando pra trazer reforços de aventureiros. O resto tá preparando os monstros caçados ou distribuindo a comida.

O Deigha tinha dito algo parecido, que a guilda dos aventureiros estava ajudando a distribuir comida.

— Agora, não sei se você percebeu por “basicamente tudo ao seu redor”, mas estamos passando por uma escassez de comida. Culpa das lulas gigantes e tudo mais. Muita gente sem o que comer. Eu não posso simplesmente ficar parada e deixar que morram de fome. Vou fazer tudo ao meu alcance por eles.

Hmm. Acho que fui injusta julgando ela pela aparência; estava trabalhando duro pelo povo da cidade.

Atola foi até atrás do balcão da guilda e colocou minha carteirinha sobre um painel de cristal, que começou a operar.

— Aventureira de Rank D… Nome: Yuna — Atola leu em voz alta. — Isso é… — Ela estreitou os olhos enquanto lia. Eu queria poder ver também. — Monstros derrotados… tigre… víbora negra… bandidos… taxa de sucesso nas missões… cem por cento?

Ela começou a murmurar tão baixo que mal dava pra entender. Pelo que ouvi, parecia que estava lendo sobre os monstros que eu tinha derrotado. Atola terminou de ler e… congelou.

— Certo, chega de brincadeira. Isso é… — Ela respirou fundo. — Isso é inacreditável. Quem é você de verdade?

— Só uma aventureira. — O que mais eu poderia dizer?

— “Só uma”—com licença, mas você derrotou sozinha uma horda de goblins e o rei dos goblins. Venceu tigrelobos e uma víbora negra. Acabou com bandidos, e não tem nenhuma falha registrada. Nenhuma. Isso é absurdo.

Mas era verdade.

— E você fez tudo isso—cada coisa dessas—sozinha? Fala sério. — Atola me encarava com os olhos semicerrados. — Não parece possível.

O que foi? Era por causa da roupa de urso?

— Isso já é demais, e ainda por cima… isso? Sério?

— Isso o quê? — Não deveria ter nada registrado sobre os dez mil monstros que eu derrotei, certo? A Sanya cuidou disso.

— Tem uma anotação aqui que só o mestre da guilda pode ver. — Ela me observou novamente, como se tentando captar minha reação. — Garotinha, você tem o selo do Reino de Elfanica aqui.

— Selo de Elfanica? — Primeira vez que ouvia falar nisso. — E o que isso quer dizer?

— É concedido a aventureiros e comerciantes que ganharam a confiança máxima do reino. Só recebem aqueles que fizeram algo grandioso pelo país. Você não está mentindo a sua idade, né? Alguma doença de envelhecimento reverso, ou coisa do tipo?

— Tenho quinze anos. — E nenhuma ideia desse selo que colocaram na minha carteirinha. Devia ter sido o rei. Devem ter colocado isso enquanto inseriam a permissão de entrada no cartão. Se iam fazer isso, bem que podiam ter me avisado, né?

— O que você fez no Reino de Elfanica?

— Só, ah, ajudei alguém, sabe? — Quer dizer, não dava pra falar que eu tinha destruído um exército de monstros sedentos por vingança querendo aniquilar o reino. Com certeza era por causa daquilo dos dez mil monstros.

Atola estreitou os olhos e me olhou com desconfiança.

— Você não tem envolvimento com a família real, tem?

— Não. Sou só uma aventureira comum. — Como se alguém da realeza sairia por aí com roupa de urso. Mas agora eu me perguntava: será que em toda guilda por onde eu passasse ia ter esse alvoroço? — Dá pra apagar essa informação ou algo assim?

— O-o que você tá dizendo?! Tá falando em apagar o selo do Reino de Elfanica!

— É que causa uma confusão danada quando todo mundo reage assim.

— Olha, relaxa. Só os mestres de guilda conseguem ver esse selo. No uso normal da carteirinha, ninguém vai saber. Mas se você tiver problemas em alguma guilda, pode mostrar pro mestre e provavelmente vai receber um bom tratamento.

Parecia aquelas identificações usadas no Japão feudal. Ainda assim…

— Mas e se o mestre da guilda sair espalhando?

— É melhor que não. Selos exclusivos para mestres de guilda são considerados ultra secretos. Divulgar seria uma violação grave de privacidade.

Ótimo. Mas como a Atola era uma bêbada de marca maior, isso não deixava tão tranquila assim.

— Você se veste de um jeito estranho — ela disse —, mas é poderosa. Estamos honrados em recebê-la na nossa guilda.

Ela estendeu a mão, e eu apertei com minha patinha de urso. Assim, ela finalmente entrou no papel de mestra da guilda.

— Vamos ao que interessa — disse, cruzando as mãos. — O que trouxe você até a guilda dos aventureiros, Yuna? Por acaso, você veio cuidar do nosso problema com os bandidos?

— Eu posso cuidar disso também, se quiser, mas vim principalmente pra oferecer comida pra quem precisar. Parece que vir até a guilda dos aventureiros é uma ideia melhor do que ir na do comércio.

— Nem me diga. Fico feliz em ouvir isso, Yuna.

— Lobos servem?

— É carne, não é? Poxa, mesmo um ou dois já ajudariam muito agora.

Ótimo. Eu tinha uns cinco mil lobos mortos.

— Sei! Tá aí, Sei? — Atola chamou da porta dos fundos.

— O que foi? — Um funcionário apareceu vindo dos fundos.

— Sei, como estão os nossos estoques de comida?

— Nada bons. Estamos priorizando a distribuição para os idosos e crianças, mas nem pra eles está dando.

— Entendi. Aparentemente essa garota vai nos dar lobos, então se puder cuidar disso…

O funcionário, Sei, me lançou um olhar.

— Mestra da guilda, quem é essa criança adorável?

— Essa é a Yuna, uma aventureira. Chegou ontem, segundo ela.

— Uma aventureira? Entendo. Eu sou o Sei, trabalho aqui na guilda dos aventureiros. Muito prazer. — Ele não fez escândalo por causa da minha aparência e apenas me cumprimentou educadamente. Nem mencionou a roupa de urso!

— É verdade que vai nos dar lobos?

— É. Tenho outras coisas também, mas principalmente lobos. Tipo, muitos lobos.

— Isso seria de grande ajuda. — Ele se curvou em agradecimento.

— Beleza. Então… eu tenho mais ou menos uns mil quinhentos e setenta e oito — talvez setenta e nove? — lobos mortos pra vocês, então provavelmente vou precisar de um lugar, tipo, pra empilhar todos eles. Uma… zona de empilhamento de lobos.

Não era o número exato, mas parecia o suficiente pra abastecer essa cidade. Pena que eu não tinha legumes nem pão.

— O que foi que você disse?

Eles ficaram de queixo caído.

— Ah, tô procurando uma zona de lobos mortos. Pro tanto de lobo morto que tenho.

— Não, não é isso. Você disse mil e quinhentos?!

Talvez mil não fossem o suficiente pra uma cidade portuária morrendo de fome?

— Posso dar dois mil, se quiserem.

— Não é isso que—hm. Você tem mesmo muitos lobos. Onde está guardando tudo isso?

— Olha, eu derrotei os lobos e tô com eles, tá bom? Tenho uma bolsa mágica que guarda um monte de coisa — respondi. Não era mentira.

Atola assentiu lentamente.

— Aquele selo que você tem… Acho que tô começando a entender por que.

— Selo? — repetiu Sei.

— Não se preocupe com isso, Sei — disse Atola. — Yuna, se você realmente tem tudo isso, cem já bastam. Não conseguiríamos esquartejar mil deles, mesmo se você nos desse.

Fazia sentido. Eu não sabia quantos funcionários ela tinha, mas preparar cem lobos já tomaria tempo. Mas poxa, cem lobos mal iam ajudar a liberar meu estoque.

— Sei, leve ela até o depósito. E chame todo mundo pra ajudar a esquartejar e distribuir a carne.

— Ah, e pessoal? Não contem pra ninguém que fui eu quem doou os lobos.

— Por que não?

— Não quero chamar atenção.

Atola e Sei olharam novamente pra minha roupa. Eu sabia exatamente o que eles queriam dizer. Mas uma coisa era se destacar pela aparência, outra bem diferente era atrair atenção por ter alimentado uma cidade inteira. As pessoas podiam começar a me procurar querendo mais comida. Eu não queria lidar com isso.

— Entendido. Sei, mantenha isso em segredo.

— Entendido. Senhorita Yuna, por aqui, por favor — disse Sei, me guiando até o depósito.

— Essa é a nossa… “zona de lobos mortos”, como você mesmo nomeou.

Tirei os lobos do Armazém do Urso e empilhei tudo no chão do depósito.

— Muito obrigado, de verdade. Isso vai ser de grande ajuda.

Pena que não consegui me livrar de tantos lobos quanto queria, mas Sei disse que me avisaria se precisassem de mais. Parecia que teria outra chance de esvaziar meu estoque.

Por agora, fui até o mar — finalmente.

Quer dizer, se tivesse um mercado, eu teria comprado frutos do mar logo de cara. Mas parecia que isso não ia rolar. E se eu começasse a pescar sem permissão, com certeza me meteria em encrenca, né?

Enquanto andava em direção ao mar, vi a Yuula vindo na minha direção.

— Oi, Yuula. Tá indo pra onde?

— Atrás de você, claro. Não prometi ontem que ia te mostrar o porto? Mas quando fui até a pousada mais cedo, me disseram que você já tinha saído. Estava te procurando.

— Desculpa. Fui até a guilda dos aventureiros. — Eu não tinha esquecido — só estava tão preocupada com a escassez de comida do porto.

— Mas agora tá livre, né? Posso te mostrar a cidade, se quiser.

— Pra mim tá ótimo — respondi com um sorriso grato.

— Ótimo! Pra onde quer ir, Yuna?

— Por enquanto, queria ir até o oceano.

— Nesse caso, vou te guiar. O que gostaria de fazer depois disso? Tem algum lugar que queira visitar? Não tem muita coisa acontecendo agora, pra ser sincera.

— Se tiver algum lugar vendendo peixe, gostaria de dar uma olhada. — Não que eu estivesse esperando que tivesse algum.

— A guilda do comércio tá controlando os peixes, então provavelmente você vai precisar ir até lá pra comprar. Talvez consiga se pagar, mas os preços estão absurdos.

Oferta e demanda, né. Eu tinha dinheiro, então podia comprar, mas era meio errado comprar os escassos recursos de comida da cidade só porque tava com vontade de comer peixe.

— Ah, e onde tá o Damon?

— Ele tá distribuindo a comida que você nos deu pras pessoas que conhecemos.

— Tem certeza que isso é uma boa? Tem o suficiente?

— A gente vai ficar bem. Estamos trocando nossa pouca comida entre nós.

— Se não tiverem o suficiente, me avisem. Tipo, posso dar mais… lobos, por exemplo.

Depois de andarmos por um tempo, a costa apareceu à frente. A imensidão azul do oceano se estendia diante de nós. Um mar azul e sem fim, sob um céu pontilhado de branco. O mar estava tão calmo que era até estranho pensar que um kraken pudesse estar à espreita. À esquerda, vi um monte de barcos pesqueiros atracados no porto. Aposto que estariam em alto-mar se não fosse pelo kraken.

— O barco de vocês também tá aí?

— Sim, temos um ali. Mas ele quase não é usado ultimamente.

— Onde o kraken costuma aparecer?

Apontei para o oceano à minha frente. Era difícil acreditar que um kraken pudesse existir num lugar tão sereno.

— Em qualquer lugar. Ele ataca qualquer navio que vá longe demais. Como algumas pessoas foram atacadas mesmo pescando perto da costa, sabemos que ele não tem uma área de caça definida. Já falei antes — ele até chegou perto do porto. Pode aparecer em qualquer lugar.

No momento, eu não tinha nenhuma forma de lutar contra um kraken. Não podia lutar em cima da água. Não podia voar, nem mergulhar. No jogo, tinha um item que permitia respirar debaixo d’água, e alguns jogadores tinham a habilidade de sereia pra isso. Mas eu não tinha nada que me ajudasse a respirar ou nadar. Nem voar. Eu não tinha como derrotar um kraken com as habilidades que tenho agora.

Se fosse possível lutar em terra firme, eu teria servido lula assada pra cidade inteira. Mas reclamar do que eu não tinha não ia adiantar. Mesmo com o equipamento de urso, não dava pra lutar no mar. Só podia torcer pra algum aventureiro de alto nível ou pro exército resolverem o problema.

Continuei andando pela costa e olhando o mar. Tinha umas coisinhas na areia — talvez conchas? Se eu tivesse missô, podia fazer uma sopa com aquilo.

Pensei em contratar um aventureiro de alto nível pra cuidar do kraken. Enquanto caminhávamos pela praia, vi um penhasco logo à frente.

— Yuna, os bandidos costumam aparecer depois daquele penhasco — avisou Yuula. Se eu andasse sozinha, será que iam me atacar?

Eu e Yuula ficamos andando pela cidade até o pôr do sol. Quando passamos pela guilda dos aventureiros, vi que eles estavam distribuindo os lobos e outros alimentos que doei.

 

 

 

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