Kuma Kuma Kuma Bear Volume 5 – Capitulo 97

A Ursa Vai se Encontrar com Cliff

DEPOIS DE TOMAR UM BANHO, relaxar da exaustão mental de cavar através de uma cordilheira inteira e ir dormir um pouco mais cedo, acordei com os primeiros raios de sol. Não estava nem um pouco cansada. Depois de um café da manhã leve, invoquei novamente a Kumakyu, que eu tinha dispensado mais cedo, e parti para Crimonia.

Fiz a Kumakyu correr, então não demorou muito para chegarmos. Cumprimentei os guardas do portão, entrei na cidade e mandei minha ursa para casa descansar.

Antes de avisar Fina e Tiermina que eu tinha voltado, fui logo resolver o favor. Cheguei à mansão do lorde, disse a um dos guardas que vinha falar com Cliff e, antes que eu pudesse dizer “aff, esse cara de novo”, fui levada imediatamente a uma sala para encontrá-lo.

Nada ocupado para um lorde, hein?

— Não é sempre que você vem me procurar em vez da Noa — disse Cliff.

— Alguém me pediu um favor.

— Um favor?

Entreguei a carta de Mileela a ele. Cliff a pegou e leu ali na hora. Quando terminou, soltou um suspiro.

— Eu juro, você… — Ele esfregou as têmporas. — Sério, Yuna? Enfrentar um kraken sozinha?

— Está dizendo aí que eu derrotei sozinha? — E não era pra Atola manter segredo?

— Diz que uma única aventureira derrotou a criatura e… Yuna? Eu conheço você. — Ele suspirou.

Ok, justo. Levando em conta que ele sabia que eu tinha derrotado dez mil monstros e uma víbora negra. Mas será que o velho Kuro não podia ter sido um pouquinho mais discreto? Inventado uma historinha?

— Não é como se eu tivesse matado a coisa por diversão. O kraken simplesmente estava no meu caminho. — Cruzei os braços. — Ele tava me atrapalhando.

(No caminho para um arroz gostoso e nutritivo, isso sim. O kraken teve o azar de ficar — ou nadar — no caminho.)

— Estava… no seu caminho? — Cliff me encarou. — Você realmente precisa ouvir a si mesma às vezes. Você soa como uma overlorde vilanesca tentando dominar o mundo.

— Dominar o mundo seria um saco.

Cliff piscou.
— Espera… então você não está dizendo que… você não conseguiria fazer isso, certo?

— Hã? — Dei de ombros. — Acho que não?

Mas não é como se eu fosse fazer isso, né? O que tem de divertido em dominar o mundo? Você até poderia, mas… também poderia tirar cochilos, comer lanchinhos e viver sua vida de boa. Já li todas aquelas light novels de gente atropelada por caminhão e reencarnada como heróis ou reis demônios ou bárbaros sem camisa. Sabe o que isso significa? Trabalho. Essa ursinha aqui prefere hibernar, obrigada.

— Bem — disse Cliff, limpando a garganta — acho que o conteúdo da carta é mais importante do que você no momento.

— O que tem na carta? — Eu mais ou menos sabia, mas não os detalhes.

— Em resumo, eles explicam os eventos do último mês e dizem que estão dispostos a pagar impostos para se unir ao território de Crimonia. Tem, ah… várias pistas sobre o que você aprontou por lá. — O olhar dele ficou distante.

— Pistas?

— Diz que uma única aventureira salvou a cidade doando comida. Que uma única aventureira se juntou a quatro outros aventureiros para derrotar bandidos e resgatar reféns. E que uma única aventureira derrotou o kraken, salvando-os da escassez de alimentos. Não se preocupe, sem nomes. Só… “uma única aventureira”.

Acho que quem não me conhecia não suspeitaria de nada pela carta. E Atola e o velho Kuro nem tinham como saber o quanto Cliff me conhecia, então era meio inevitável.

— Ah, deixando de lado a parte sobre você ser uma adolescente absurdamente poderosa, o problema agora é como prosseguimos com a negociação. Provavelmente vou ter que encontrá-los, mas eles não têm prefeito. Só três anciãos representando o porto, com a mestre da guilda ajudando. Convocar idosos para vir até aqui parece cruel.

— Você não tá ocupado, né? Por que não vai até Mileela?

— Não ocupado— escuta aqui, eu ainda sou um lorde! Tenho muito trabalho! Não posso simplesmente deixar a cidade sem supervisão por vários dias.

— Se quiser só chegar lá, dá pra fazer em um dia.

Cliff me olhou como se eu fosse um caso perdido.

— Oh, céus. Você… está se sentindo bem? Viajar muito pode cansar a mente. Se precisar de um médico—

— Se está dizendo que eu tô delirando, não tô!

— Você diz isso, mas não existe forma alguma de chegar em Mileela tão rápido. As montanhas? Você se lembra das montanhas? A menos que esteja sugerindo que voemos. — Cliff bateu os braços como se fossem asas. Sério isso?

— Eu não posso voar — respondi, tentando não ranger os dentes — mas eu fiz um túnel.

Cliff congelou no meio do “bater de asas”, com uma expressão tão incrédula que Noa jamais o levaria a sério se visse.

— Me desculpe. Pode repetir? Acho que ouvi errado.

— Eu cavei um túnel. Agora dá pra chegar lá com a Kumayuru em um dia.

Cliff agarrou a cabeça com as duas mãos.

— Você… não está mentindo, está? Suponho que… ah… suponho que não seja impossível? Não vindo de você. Um túnel. Nas montanhas. Em poucos… apenas alguns… dias.

Na verdade foi um dia, mas deixei quieto.

— Um túnel? — repetiu Cliff. — Um túnel, mesmo?

— Um túnel. Eu queria criar uma rota de distribuição de frutos do mar. — E também queria trazer o Anz para Crimonia, mas isso não precisava saber.

— Um túnel… — Cliff suspirou como se estivesse em um funeral. — Sempre achei sua existência absurda, mas cada conversa deixa tudo ainda pior

 

 

– Isso aí, ótimo, beleza. Enfim, podemos subir na Kumayuru e chegar lá em um único dia. A outra opção é fazer os velhotes virem até aqui, mas teriam de vir de carruagem, e isso demoraria um tempão.

– Sim, sim. Considerando a situação, irei até eles.

Bom, isso foi rápido. Melhor do que ele ficar enrolando e arrastando os pés.

– Preciso avaliar esse túnel que você fez, afinal – ele acrescentou.

Não gostei muito do jeito que ele disse avaliar, como se fosse um professor avaliando uma prova minha.

– Quando você quer partir? – perguntei.

– Tenho alguns trabalhos urgentes que preciso terminar amanhã. Também preciso entrar em contato com a guilda de comércio. Suponho que partiremos depois de amanhã.

– A guilda de comércio?

– De acordo com a carta, o mestre da guilda de comércio deles cometeu alguns crimes. Tenho que verificar isso com o nosso, não? Se possível, gostaria de levar o nosso mestre da guilda junto. Quantas pessoas seus ursos conseguem carregar?

– Duas, sem problema.

– Tem certeza?

– Sim. Mas não vou deixar o mestre da guilda montar se ele assustar meus ursos.

– Não acho que ela vá assustá-los – disse Cliff. – Mas se assustar, iremos sem ela.

Até que ele estava bem maleável. Aceitável.

– Irei até sua casa depois de amanhã – ele disse. – Então, por favor, espere por mim lá.

Prometi que sim e saí para o corredor… onde Noa surgiu correndo na minha direção.

– Yuna! Por favor, me avise quando estiver vindo, está bem?

– Hoje eu vim para ver o Cliff.

– E já terminou isso?

– Por hoje, sim.

– Então isso significa que você tem tempo.

Ela estava com um sorriso doce. Mas atrás dela… o sorriso da Lala era puro caos condensado.

Ergui uma sobrancelha.

– Tem certeza? Você percebeu que a Lala está sorrindo pra gente já faz um tempo, né?

Noa virou-se e empalideceu ao ver o sorriso da Lala — e a adaga invisível que vinha junto com ele.

– Lady Noir – disse Lala –, a senhorita ainda está no meio dos seus estudos.

– Mas eu tô cansada. Quero uma pausa. Preciso da minha dose de urso.

Dose de urso. Se descobrissem isso na Terra, o prêmio Nobel ia virar… Nobel Ursístico.

Noa implorou até que Lala soltou um suspiro derrotado.

– Muito bem. Mas só por um pouco. Srta. Yuna, posso pedir que acompanhe Lady Noir por um curto período?

– Claro.

– Então, se puder. Vou preparar o chá.

Ela fez uma leve reverência e saiu.

– Certo, Yuna, vamos para o meu quarto – disse Noa, puxando minha luva de fantoche de urso. – Você tem que me contar, onde você estava?

– Sabe aquele oceano que você alcança depois de cruzar a cadeia de montanhas Elezent?

– O—não acredito… você atravessou aquela montanha?

– Bom, eu tenho meus ursos.

– Isso é tão incrível! O oceano… que legal. Eu queria ir também.

– Podemos ir quando esquentar.

– Eu queria, mas meu pai não permite viagens tão distantes.

– Tudo bem. Estou trazendo ele para mais perto, de um jeito.

– Hm? – Noa inclinou a cabeça.

Não podia contar sobre o túnel ainda, então deixei tudo vago.

– Vou fazer ele perceber que é mais perto do que parece.

– Vai mesmo? Então é uma promessa. E, hum, Yuna? Posso pedir um favor? – Ela me olhou com olhos brilhantes e bochechas coradas. Poder demais. – Posso pegar seus ursos emprestados?

Era óbvio. Depois da “dose de urso” não esperava outra coisa. Perfeito para mostrar as formas compactas.

Whoosh.

– Q-Q-QUE É ISSO?! Que ursinhos são esses?!

– São Kumayuru e Kumakyu. Eles devem caber no seu quarto nesse tamanho, certo?

Noa se aproximou lentamente. Já conhecia os dois, mas mesmo assim avançou como se estivesse lidando com duas criaturas lendárias prestes a fugir.

E então, com coragem repentina, abraçou os dois com força.

– Yunaaaaaa?

– Simmmmm?

– Posso ficar com eles?

– Você sabe que não.

Como esperado, Noa levou bronca da Lala por não soltar os ursos dez, vinte, trinta minutos depois do fim da pausa.

 

 

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