Kuma Kuma Kuma Bear Volume 5 – Capitulo 99

A Ursa Retorna ao Porto de Mileela

O sol se pôs por volta do momento em que saímos do túnel. A brisa do mar soprou sobre nós e encheu nossos pulmões com ar fresco — o que era ainda melhor considerando que passamos horas e horas andando embaixo das montanhas. Cliff e Milaine pareciam tão aliviados quanto eu enquanto nós três olhávamos para o oceano.

É tão bonito — disse Milaine.

Mm. É mesmo.

Com o novo túnel, acho que poderíamos tirar férias aqui.

Talvez eu traga minha filha da próxima vez.

(E tomara que traga. A Noa ia surtar completamente.)

Nunca imaginei que chegaríamos ao outro lado das montanhas Elezent em um único dia.

Nem quero pensar em quanto tempo levaria para dar a volta.

Eu também não queria, e eu já tinha feito aquilo. Os três caminhamos conversando, observando o pôr do sol no mar. O mesmo guarda que tinha me recebido estava do lado de fora do porto. Eu desfiz a invocação de Kumayuru e Kumakyu e então seguimos para a entrada.

Garota urso! Você voltou! — o guarda correu até mim, radiante. — Me disseram que você partiu quando eu não estava. Não poder agradecer antes de você ir me destruiu, meu irmão!

Agora que ele mencionou, realmente havia outra pessoa no posto quando fui embora. Ops.

Obrigado por salvar a cidade, viu?

Era muita coisa ouvir alguém dizer isso diretamente para mim, na minha cara. Talvez eu tenha ficado vermelha, talvez não.

Um monte de gente já me agradeceu, então você não precisa. E, tipo, vocês já me deram arroz pra caramba!

O arroz de agradecimento tinha sido a melhor parte, para ser sincera. Não era muito bonito preferir presentes aos bons sentimentos, mas ehh.

É, mas eu queria que soubesse que eu também trouxe arroz de casa! Não é muito, mas eu trouxe!

Sério? Obrigada. Vou saborear cada grão quando for comer — respondi, e isso fez o rosto dele se iluminar.

Eu até gosto de ouvir história de arroz da vitória dos outros — disse Cliff — mas você poderia deixar a gente entrar logo?

Ah! Foi mal, cara. Vocês dois conhecem ela? Isso é muito legal.

Sim, isso mesmo.

Ahem. — O guarda se endireitou e voltou ao modo profissional. — Posso ver suas cartas? Apenas parte do trabalho.

Cliff e Milaine entregaram seus cartões obedientemente. O homem analisou cada um deles. Sua expressão mudou diante de nossos olhos.

Vocês são o Conde… e a mestra da guilda… — Ele devolveu as cartas e fez uma reverência profunda. — Aceitem minhas sinceras desculpas. Por aqui, milorde.

Cliff deu de ombros.

Não precisa se martirizar. Não precisa ser tão formal.

Isso mesmo — disse Milaine, cutucando Cliff. — Não precisa se curvar para esse cara.

O guarda parecia tão surpreso de ver que Milaine era a mestra da guilda quanto eu tinha ficado.

Entramos finalmente no porto. O sol já tinha desaparecido por completo e o céu estava escuro. Parecia que não conversaríamos muito naquele dia.

Está bem tarde. Vocês querem fazer o quê? Posso levar vocês a uma estalagem, se precisarem.

Não, quero encontrar o mestre da guilda dos aventureiros primeiro.

Certo — disse Milaine. — Como não temos prefeito, deveríamos cumprimentar os três anciãos que representam a cidade, mas já está tarde demais. Primeiro, vamos pegar as informações com o mestre da guilda.

Enquanto caminhávamos até a guilda dos aventureiros, os moradores que me reconheciam me cumprimentavam. A maioria agradecia, mas alguns reclamavam porque eu tinha ido embora sem avisar.

Parece que você é bem popular, Yuna — comentou Milaine.

Ela derrotou o kraken, caso tenha esquecido.

Sim, sim, mas isso não pode ser tudo. Olha pra essa garota adorável e me diga honestamente que isso não influencia na popularidade.

Minha aparência? O traje de urso? Ah, ótimo. Exatamente o que eu temia. Sempre tive receio de que o macacão de urso fosse virar minha única característica — tipo alguém dizer que meu único charme era usar laços ou óculos — e aqui estava isso acontecendo. Ugh. E se eu andasse sem ele e ninguém mais falasse comigo?

Que sensação estranha, né? Eu vivia reclamando que as pessoas falavam demais comigo, mas se ninguém falasse… seria pior. Eu só me sentiria sozinha.

Três vivas para os traumas de abandono, eu acho?

Bom… o importante era que o macacão de urso não era parte de mim. Não era “Yuna”. Certo? Certo. Com certeza.

Encontramos os funcionários limpando a guilda, mas nenhum aventureiro. Diziam que muitos estavam presos por conspirarem com a guilda do comércio, e outros tinham fugido pela culpa.

Srta. Yuna? — um funcionário me notou, e então todos me notaram.

A Atola está aí?

Sim, vou chamá-la agora mesmo.

O funcionário correu para os fundos, escutamos uma porta bater e Atola apareceu, com sua roupa usual e… chamativa.

Ora, se não é a Yuna! Já de volta?

Oi, Atola. É bom estar de volta.

E então? O que o lorde de Crimonia disse? — acho que ela ainda não tinha percebido Cliff e Milaine.

Atola, vem cá um pouco. Eu explico.

Beleza. Então, quem são essas duas pessoas? — ela perguntou, olhando Cliff e Milaine.

Esse homem é o lorde de Crimonia, Cliff Fo…Fro…? Enfim, é um nome nobre maneiro aí.

Cliff cutucou minha cabeça.

Você nem sabe meu nome? Se apresentasse outro nobre assim, teria problemas. Você deu sorte de ser comigo.

Eu dei de ombros.

Então por que trouxe isso à tona?

O nome dele era longo demais, eu não conseguia lembrar. E eu nunca tinha dito em voz alta.

Você é… — Cliff soltou um suspiro exasperado antes de olhar para Atola. — Sou o lorde feudal de Crimonia, Cliff Fochrosé. Chegamos agora. Mesmo tarde, achamos certo cumprimentá-la imediatamente.

O lorde de Crimonia, mm? — Atola repetiu com os olhos brilhando.

Revirei os olhos. Igualzinha à Atola de sempre. Mas Cliff já tinha uma esposa linda chamada Ellelaura, então era melhor ela maneirar.

E esta mulher — Cliff continuou — é a mestra da guilda do comércio de Crimonia, Milaine.

Você é a mestra da guilda do comércio? — Atola ficou surpresa.

Sou Milaine, com o prazer de servir como mestra da guilda. Parece que um dos nossos membros causou um grande problema. Peço perdão por isso.

Finalmente Atola voltou à postura séria.

S-Sim, claro. Sou Atola, mestra da guilda dos aventureiros deste porto. Obrigada por terem vindo tão longe.

É longe? — perguntou Cliff, arqueando uma sobrancelha.

É mesmo? — Milaine completou.

Eles claramente estavam se divertindo. Atola os analisou com um olhar desconfiado.

Nunca imaginei que o lorde e a mestra da guilda viriam pessoalmente.

Considerando o conteúdo da carta — disse Cliff — não podíamos delegar a ninguém. Peço desculpas por não terem sido feitos preparativos.

Imaginem, não foi incômodo algum.

Fico feliz em ouvir isso.

Mas, Lorde Cliff — disse Atola hesitante — já está muito tarde para uma reunião. Gostaria de discutir tudo amanhã. Pode ser?

Claro.

Quanto à hospedagem… normalmente vocês ficariam na residência do prefeito, mas como não temos prefeito, não podemos oferecer a melhor acomodação, então…

A voz dela ficou cada vez mais baixa.

Não se preocupe. Chegamos sem avisar, afinal. Uma estalagem serve.

Atola fez outra reverência.

Obrigada. Enviarei alguém pela manhã. Naturalmente, cobriremos os custos da hospedagem.

Agradecemos.

Yuna — disse Atola, virando-se para mim — imagino que você vá ficar na pousada do Deigha?

Sim, quero avisar que voltei. Também havia a questão do Anz, e… honestamente? Eu não ligava para as outras pousadas.

Aliás, Atola, por que você tá falando desse jeito estranho?

Atola piscou.

Yuna! Com quem você acha que estamos falando?

Com o Cliff? — respondi. Não parecia suficiente.

O Cliff, lorde de Crimonia e tal?

E tal? Você devia saber melhor. E devia chamá-lo de Senhor Cliff, não pelo primeiro nome.

Oh. Verdade. Eu tinha trocado naturalmente para o primeiro nome sem perceber. Isso começou quando? Desde quando nos conhecemos? Ou quando lidamos com o orfanato?

Uh… Senhor… Cliff? Cliff o Senhor?

Cliff fez uma careta.

Pare! Ouvir você falar assim é… repugnante!

Nossa, que grosso.

Não é isso… Atola está agindo como pessoas normais agem diante de nobres. Você é a estranha aqui. Não que eu goste que exagerem comigo, mas também seria um problema se todos agissem como você, Yuna. Mestra da guilda, por favor aja normalmente.

Vou tentar. Quantas pessoas o acompanharam?

Nenhuma.

Atola ficou muda. Nobres sempre vinham com guardas, certo?

Temos a Yuna. Não precisamos de guardas.

Você está falando sério?

Sim. Viemos nas ursas da Yuna. Pela carta, achei melhor vir o mais rápido possível.

M-Muito obrigada. Atola parecia profundamente emocionada. Estranho, vinda dela. — Por favor, permita que os funcionários os guardem.

Atola, tá tudo bem — eu disse. — Temos as ursas. Digo, a mim.

Mas…

Que tal assim: quando eu não estiver com eles, você dá guardas para eles.

Atola mordeu o lábio.

Tudo bem. Contarei com suas ursas hoje.

Enquanto eles estiverem na estalagem, as ursas — isto é, eu — cuidarei deles.

Kumayuru e Kumakyu nem precisavam dormir.

Depois disso, fomos para a pousada do Deigha.

Senhorita! Você voltou? — Deigha, enorme como sempre, veio correndo.

Voltei. A partir de hoje, sou seu problema de novo.

Ha! Você é sempre bem-vinda. Quem são esses dois?

Sou Cliff, amigo da Yuna. Vamos incomodar um pouco.

E eu sou Milaine.

Amigos da Yuna são meus amigos. Temos quartos sobrando. Fiquem o tempo que quiserem. De graça, claro!

Já que Atola ia pagar, não fazia diferença.

Tem certeza que pode falar isso assim? — Milaine fingiu espanto. — E se fôssemos pessoas ruins? E se quiséssemos ficar… para sempre?

Ela não faz amizade com esse tipo de gente. Se vocês fossem isso, seriam impostores.

Parece que ele confia bastante em você, Yuna!

Eu não confiaria em estranhos, mas essa garota é diferente. Todo mundo aqui concorda.

Que exagero assustador. Será que eu tinha feito tudo isso mesmo?

Bem… comida, ladrões, escravos, guilda do comércio, kraken, doações… é. Tinha lógica.

Se ela diz que vocês são amigos dela, isso basta pra mim.

Calma aí, isso estava ficando meio culto. Eu não queria um culto. Que trabalheira.

Não é grande coisa. Só fiz o que dava na hora. Por favor, não exagerem, não sou salvadora de nada.

Mas… — Deigha fez uma careta.

Se quer agradecer mesmo, faça um favor simples pra mim outro dia.

Qual favor?

Ainda é segredo.

Se for algo que eu possa fazer, eu faço.

Será mesmo? Dar permissão para eu “pegar” a filha dele… No ritmo que estava, era só o que faltava. Mas dava pra esperar.

Bem então, amigos da garota urso, vou preparar um festim! Comam à vontade!

Ele lotou a mesa de comida do mar e Cliff e Milaine comeram até explodir.

Depois, pegamos nossos quartos e descansamos da aventura. Eu não esqueci de invocar Kumayuru e Kumakyu como guardas.

Avisem se alguém suspeito aparecer perto dos quartos do Cliff ou da Milaine — pedi, acariciando suas cabeças. Eles responderam com um suave cwoom

 

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