Kuma Kuma Kuma Bear – Volume 2 Extra pt 2

Os Aventureiros Novatos – Parte Dois

Montada no Kumayuru, com a Fina no Kumakyu, deixamos Crimonia e atravessamos as planícies. O clima estava ótimo — perfeito para uma caminhada. Por outro lado, se alguém nos visse, provavelmente me mandaria conferir a definição de “caminhada” no dicionário. Depois de um tempo, avistei uma floresta familiar. Contanto que eu usasse minha habilidade de mapa, não nos perderíamos. A vila apareceu após alguns minutos a cavalo de urso.

A barreira que eu tinha criado ainda estava firme. Ao nos aproximarmos, encontrei o Bogue de guarda na mesma entrada da vila da última vez.

– Senhorita Yuna?!

Por um momento, achei que havia algo estranho no tom dele, mas talvez eu só estivesse ouvindo coisa.

– Quanto tempo! A Marie já teve o bebê?

– Sim, senhora, um menino saudável.

Fiquei feliz por ela não ter tido complicações.

– Senhorita Yuna, vieste nos abençoar com tua presença?

Ok, talvez eu não estivesse ouvindo coisa… talvez ele fosse só um bobo mesmo.

– E quem seriam aquele urso branco e a donzela além dali?

Certo, pensei, ele não conhecia o Kumakyu.

– Esse também é um dos meus ursos, então relaxa. A garota é a Fina. Ela estava livre, então veio comigo pra dar uma volta.

Fina fez um aceno com a cabeça e se apresentou.

– Quero visitar o Brandaugh e a Marie. Posso entrar na vila?

– Sim, claro. Mas, antes, poderia visitar o chefe da vila?

– Tudo bem.

– Muito obrigado.

Explicar como funcionavam as invocações para os aldeões seria um saco, então decidi não dispensar os ursos. Como eles chamavam atenção, as crianças começaram a se aglomerar assim que passamos pelos portões — e os adultos também.

Eu meio que senti que estavam fazendo um alarde exagerado.

– Yuna…

Pelo visto, Fina não sabia bem como lidar com as crianças que se aproximavam. Bogue disse para não chegarem muito perto; as crianças pareceram desapontadas ao se afastarem. Uhh, pensei, acho que vou ter que brincar com elas mais tarde ou algo assim.

O chefe deve ter notado a comoção, porque já estava do lado de fora quando chegamos à casa dele.

– O que está acontecendo aqui? – disse ele, antes de me notar. – Senhorita Yuna!

Tá, a fala de bobo era contagiosa.

– O que a traz às nossas humildes terras?

– Estava com tempo livre, então saí para caminhar. Também queria saber se a Marie já tinha tido o bebê.

– Sim, um menino saudável.

– É, o Bogue me contou. Que ótimo. Trouxe alguns presentes, então certifique-se de que todos da vila recebam.

– Trazeste-nos dádivas? Estamos gratos, mas nada temos para agradecer, Senhorita Yuna.

Espero que o problema seja com os meus ouvidos.

– Hum… por que está me chamando de “Senhorita Yuna”?

– Ora, porque és a salvadora da vila, é claro. Jamais poderemos agradecer o suficiente pela muralha que construíste; ela protege nossas colheitas dos outros animais.

– Entendo por que estão fazendo isso, mas por favor, não me chamem de “Senhorita”. Não sou nada demais.

– Mas…

– Se continuarem, eu destruo as paredes – disse com cara séria.

– B-bem… tudo bem. Podemos chamá-la de Senhorita Yuna?

– Tá bom, assim pode.

De um jeito ou de outro, consegui fazê-los parar com esse papo de “senhorita”.

– Yuna!

Uma voz me chamou. Quando desviei os olhos do chefe e procurei a origem, vi a Marie vindo com o bebê nos braços.

– Marie, parabéns.

– Muito obrigada.

– Feliz por saber que o bebê nasceu com saúde.

– Tudo graças a você, Yuna, como nas outras vezes. Como você derrotou o guardião da floresta, consegui me concentrar no parto.

– Qual é o nome dele?

– Se fosse menina, estava pensando em chamá-la de Yuna.

Por favor, não, pensei. Só não dê meu nome pro bebê, por favor. Obrigada, Deus, por fazer ele ser um menino.

– O nome dele é Yuuk. Pegamos uma sílaba do seu nome.

Bom, acho que tem muita gente com nomes que começam com “Yu”, então deve estar tudo certo. Yuuk não chorou quando dei uma espiada. Talvez ele não tivesse senso de perigo com estranhos? Na verdade, ele estava rindo. Mas não estava rindo da minha cara, estava?

– E o Brandaugh?

– Está caçando.

Nada mudou por aqui.

– Acho que ele volta logo, então pode vê-lo. Tenho certeza de que vai gostar de te ver também.

Era o que eu já pretendia fazer desde o começo, então apenas assenti.

– Ah, trouxe umas coisas boas pra sua saúde, então coma quando quiser, Marie.

– Fico feliz, mas tem certeza? Não fiz nada por você. Enquanto isso, você só tem nos ajudado.

– Não se preocupe com isso. Você precisa se fortalecer com comida boa pra conseguir criar bem esse garotinho.

Aposto que ela devia estar lidando com choros noturnos e várias outras coisas. Ela precisava se alimentar bem também.

Quando deu meio-dia, o chefe nos ofereceu almoço em sua casa. Fina estava balançando o Yuuk no colo ao meu lado.

– Fina – disse Marie – você leva jeito com bebês.

– Sim, cuidei da minha irmãzinha quando ela tinha essa idade.

Shuri? Pensei. Mas elas só têm três anos de diferença.

Ouvi dizer que o marido da Tiermina faleceu enquanto ela estava grávida da Shuri. Isso significa que, se Tiermina precisasse trabalhar, Fina teria que cuidar da irmã. Mesmo com a ajuda do Gentz, deve ter sido uma época difícil, cuidando de uma criança tão pequena.

Estendi a mão e afaguei a cabeça da Fina.

– Y-Yuna?

Ela pareceu confusa.

– Só estava pensando em como você é incrível.

Acho que ela não entendeu o que eu quis dizer, pois inclinou a cabeça de lado, sem entender.

Depois da refeição, entreguei os presentes que trouxe de Crimonia ao chefe e à Marie.

– É tanta coisa assim…

– Pensei que você precisava de nutrição adequada. Pode dividir com outras gestantes ou com o pessoal da vila.

– Muito obrigada.

Fiquei feliz por ela não tentar recusar por educação.

– Então, Fina, você veio mesmo só pra caminhar até a vila? – perguntou Marie.

– Sim. Quando cheguei na casa da Yuna, ela simplesmente me chamou pra dar uma volta e me trouxe até aqui – respondeu Fina, com um sorriso forçado.

– Haha, isso é bem a cara da Yuna mesmo. Acho que dá pra dizer que ela é bem… tranquila. Parece sempre de boa.

– É.

Por que ela tá concordando? Eu tô mesmo tão relaxada assim? No Japão, eu não ia à escola. Não ouvia meus pais. Só jogava. E agora eu basicamente fazia o que queria nesse mundo de fantasia. Não consegui pensar em nada pra rebater isso.

– Enfim, quanto tempo você acha que o Brandaugh ainda demora?

– Acho que volta a qualquer momento, se tiver pego algo…

– Aconteceu alguma coisa? – perguntei, achando que ela queria dizer algo pelo tom.

Marie olhou para o chefe. Ele assentiu e começou a falar.

– Você derrotou o guardião da floresta.

– Derrotei, sim.

– Não sabemos se esse é o motivo, mas tem aparecido mais lobos ultimamente – disse o chefe, com um tom preocupado. – Mas é claro, somos gratos por você ter vencido o guardião.

– Achamos que os lobos evitavam vir por causa da presença dele.

– Os lobos parecem até fofos comparados ao guardião. Temos várias pessoas na vila capazes de lidar com eles. O problema é que há muitos.

– Brandaugh tem saído para caçá-los, mas não conseguimos reduzir a população.

– Então, outro dia, quando um mercador passou por aqui, pedimos para que colocasse uma missão de caça na guilda.

– Alguns aventureiros jovens chegaram ontem à noite.

– Eles saíram para caçar hoje de manhã, então não se preocupe. Achamos que o número de lobos vai diminuir.

Certo, pensei. Esperava que isso não fosse algum tipo de ponto de virada. Achei que a população de lobos diminuiria com os aventureiros novos, mesmo sendo novatos. E de qualquer forma, a vila tinha quem soubesse se defender.

Depois disso, fiquei ouvindo eles falarem sobre a vila enquanto esperávamos o Brandaugh voltar. Aparentemente, tinham decorado o fundo da casa do chefe com a pele do guardião da floresta. Fina foi ver e se surpreendeu com o tamanho.

– Não conseguiram vender?

– Vendemos a carne e trocamos por comida nas vilas vizinhas, mas quisemos manter uma prova de que você salvou a vila. Todos os moradores discutiram e decidimos guardar isso.

– Quando meu pequeno crescer, quero contar a história dos seus feitos enquanto mostramos essa pele – disse Marie, olhando para o filho.

Foi meio embaraçoso; queria que parassem com isso.

Ao sairmos da casa do chefe, algumas crianças estavam observando meus ursos de longe. Fiz sinal para que se aproximassem, e algumas correram até mim.

– Ei, querem acariciar os ursos?

As crianças assentiram.

– Podem acariciar, mas não aprontem com eles.

Elas se agarraram ao Kumayuru e ao Kumakyu assim que ouviram a permissão. Seguiram minhas ordens direitinho e não fizeram nada que incomodasse os ursos.

Depois de um tempo brincando, ouvi uma comoção na entrada da vila. Alguém corria até nós.

– Chefe! É terrível! – gritavam. Várias pessoas vieram atrás dele.

– O que está acontecendo? – disse o chefe. Os outros da casa vieram para fora.

– Tem um lobotigre!

– Um lobotigre?!

– O Brandaugh tá bem?! – questionou Marie, aflita.

– Me desculpe. Ele estava comigo até certo ponto, mas ficou para distraí-lo – disse o homem, abaixando um pouco a cabeça em sinal de desculpas.

Ele carregava uma aljava cheia de flechas. Devia ser outro caçador.

– Não… – disse Marie, caindo de joelhos.

A situação era meio séria, pelo visto.

– Chefe! – disse o caçador. – Rápido — reúna os homens e fortaleça a entrada. Ele pode conseguir pular a muralha, então avise as mulheres e crianças para se trancarem em casa.

O chefe assentiu e deu as ordens. As crianças que brincavam com os ursos se agarraram ao Kumakyu e ao Kumayuru, nervosas.

– Moça urso…

– Vai ficar tudo bem, mas como pode ser perigoso, voltem pra casa e ouçam o que seus pais disserem.

As crianças assentiram e foram para suas casas.

– Viram algum dos aventureiros?

– Quando eu estava caçando, vi eles de longe, mas não sabíamos sobre o lobotigre, então nos separamos. Não sei o que aconteceu com eles depois disso.

– Chefe! Acha que esses aventureiros conseguem lidar com um lobotigre?

– Me mostraram os cartões da guilda, mas eram apenas novatos de rank F. Acho que é impossível. Na verdade, estou preocupado com eles.

O chefe abaixou a cabeça e franziu a testa. Então a levantou e me olhou em silêncio. Depois, voltou o olhar para os homens reunidos.

– Rápido, fechem a entrada. Alguns fiquem de guarda nas muralhas!

– E quanto ao Brandaugh e aos aventureiros?

– Esperamos que consigam fugir até aqui. Se formos atrás deles sem cautela, podemos perder mais gente.

– Mas…

Marie estava tão tomada pela preocupação que não conseguia continuar. Tudo o que pôde fazer foi apertar o filho contra o peito.

– Yuna… – Fina me olhou, preocupada.

– Vai ficar tudo bem.

Dei um afago gentil na cabeça da Fina.

 

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