Kuma Kuma Kuma Bear – Volume 2 Extra Story 2

Encontro com um Urso – As Crônicas da Diretora

Hoje também não tínhamos nada para comer. Estávamos nos virando como podíamos para fazer uma sopa com restos de vegetais uma vez por dia. Já se passaram cerca de três meses desde que nossos recursos foram cortados, e não conseguimos fornecer uma alimentação adequada para as crianças.

Como adulta, eu precisava fazer algo. Liz e eu íamos buscar comida, mas havia limites. Se pedíssemos esmola todos os dias, as pessoas nos olhariam com desprezo. E mesmo se fôssemos a outro lugar, não seríamos bem recebidas. Ainda assim, como as crianças estavam esperando, éramos obrigadas a suportar o desgosto das pessoas e continuar pedindo.

Liz havia saído desde cedo, mas eu não sabia quanto ela traria de volta. Enquanto eu acalmava uma criança pequena à minha frente, não conseguia deixar de me preocupar com o futuro. As outras crianças tinham saído. Provavelmente foram até a praça central. Elas costumavam procurar restos de comida nas barracas que vendiam alimentos por lá.

Eu mal podia repreendê-las por isso.

Se ao menos eu pudesse preparar algo para elas, não precisariam fazer isso. Mas sem meios para tal, tudo o que eu podia fazer era pedir que não causassem problemas. Se as coisas continuassem assim, alguém poderia morrer — ou então, as crianças começariam a roubar. E se isso acontecesse, aqueles que hoje ainda nos davam um pouco de comida iriam parar. Nesse caso, seria o fim do orfanato. Pensei em pedir ajuda ao lorde, mas se ele achasse que estávamos nos rebelando, poderia nos expulsar. E as crianças não teriam para onde ir.

Não havia nada que eu pudesse fazer. Segurei a cabeça entre as mãos e mergulhei nos meus pensamentos… até perceber uma agitação lá fora. Parecia que as crianças tinham voltado mais cedo do que o normal.

Será que algo aconteceu?

Saí apressada e vi as crianças reunidas em volta de uma garota com uma aparência estranha. Um urso?

– Quem é você? Eu sou a diretora, Bo. Cuido deste orfanato.

– Eu sou Yuna, uma aventureira. Vi essas crianças na praça central.

– Na praça central… foram lá de novo?

Eu já sabia, mas precisava repreendê-las, ao menos por aparência. As crianças se desculparam, mas, no fundo, a culpa era toda minha.

– Tudo bem. Afinal, sou eu que não consigo providenciar comida para vocês. Essas crianças fizeram algo de errado?

Mesmo que tivessem feito, eu só poderia pedir desculpas. Esperava que ela aceitasse.

– Não, só me pareceu que estavam com fome.

– Me desculpe. Bem… embora seja vergonhoso, não temos quase nada para comer.

Não era algo a esconder, então contei a verdade. Normalmente não falaria disso na frente das crianças, mas como ela estava fazendo tantas perguntas, acabei contando.

Então, Yuna, a garota vestida de urso, tirou carne de lobo para nós. E era uma quantidade considerável. Ela também trouxe pão e algo para beber.

Disse que podíamos comer à vontade. Na verdade, não queria aceitar sem motivo, mas as crianças não conseguiam tirar os olhos da comida. Agradeci e aceitei.

Depois de preparar a comida, as crianças comeram com alegria. Quanto tempo fazia desde que eu as via sorrindo assim?

Yuna se levantou e começou a inspecionar o interior do orfanato. Como eu estava grelhando a carne que ela nos trouxe, não pude sair dali.

– Já terminaram de comer?

Ainda havia carne. As crianças olhavam para ela com desejo.

– Senhorita, não preciso de mais.

– Eu também não.

Todas colocaram seus garfos e hashis sobre a mesa.

– Por quê?

– Quero comer amanhã…

Claro. Só porque tinham comida hoje, não significava que teriam amanhã.

– Certo. Vamos perguntar à Yuna se podemos guardar para comer amanhã.

Fui atrás de Yuna. Quando a encontrei, ela estava reparando as paredes cheias de buracos com magia.

– O que está fazendo?

Era óbvio, mas precisei perguntar.

– Estou consertando as paredes. Deve ser frio com o vento entrando pelas frestas.

Realmente era. Yuna inspecionou o cômodo, consertando as paredes por onde passava. Depois foi até o dormitório das crianças e viu as toalhas pequenas que usávamos como cobertores. Não tínhamos mantas quentes. Ela então tirou peles de lobo bem quentinhas do urso em sua mão e me entregou.

– Yuna?

– Por favor, dê isso às crianças. Deve estar frio demais só com toalhas finas. Tem o suficiente para você também, e até algumas extras.

Por que ela estava fazendo tudo isso por nós? Fiquei tão confusa com suas ações que esqueci de perguntar sobre a carne, e acabamos voltando para o refeitório. Quando Yuna percebeu que a comida ainda não tinha sido toda consumida, perguntei:

– Se não se importar, gostaria de guardar isso para amanhã. As crianças disseram que preferem comer amanhã.

– Ah, desculpe. Esqueci de falar. Vou preparar o suficiente para vários dias, então podem comer sim.

Yuna tirou ainda mais carne e pão.

– Hum… por que está fazendo tudo isso por nós? – não consegui me conter.

– Se um adulto não pode comer, é culpa dele por não trabalhar. Mas se uma criança não pode comer, não é culpa dela. É culpa dos adultos. Se elas não têm pais, então cabe aos adultos por perto ajudá-las. Isso nos torna aliados.

Quase chorei. Mesmo sendo apenas uma aventureira, aquelas foram palavras muito mais calorosas do que eu esperava de uma jovem. As crianças comeram até ficarem satisfeitas. Enquanto as observava, Yuna nos dava ainda mais comida. Tudo o que pude fazer foi agradecer.

Depois de passar um tempo no orfanato, ela se despediu. As crianças ficaram tristes e correram até ela.

– Não coloquem a Yuna em uma situação difícil. Vamos todos agradecer.

– Obrigado, senhorita urso!

– Obrigado!

Na manhã do terceiro dia desde que Yuna apareceu, tomávamos café da manhã com a comida que ela havia nos dado. Graças à grande quantidade, agora podíamos tomar café da manhã todos os dias. As crianças estavam radiantes. Precisávamos agradecer à Yuna novamente quando ela voltasse. No início, pensei que ela fosse só uma garota estranha. Acho que não se pode julgar um livro pela capa. Tinha que ensinar isso às crianças também.

Depois do café, as crianças foram brincar do lado de fora, mas logo voltaram correndo.

– Diretora!

– O que foi?

– Tem uma parede esquisita lá fora!

Não entendi o que diziam. Mas elas me puxaram até lá, e vi… uma gigantesca parede que fazia sombra sobre tudo. Aquilo não estava ali ontem. Se estivesse, as crianças teriam feito esse mesmo alvoroço antes. Perguntei à Liz, mas ela apenas balançou a cabeça. Mesmo sendo algo potencialmente perigoso, não podíamos fazer nada. Avisei as crianças para não se aproximarem e voltei para dentro.

O que será que era aquela parede? Não conseguia entender como algo assim apareceu do nada. Mas desde que não representasse um perigo, estava tudo bem.

Enquanto pensava nisso, a porta se abriu e… as crianças entraram com um urso? Não, era só a Yuna.

Deixei a questão da parede de lado e fui cumprimentá-la e apresentar a Liz.

– Então, o que a trouxe aqui hoje?

Para minha surpresa, ela respondeu que queria dar trabalho para as crianças. Me preocupei que fosse algo perigoso.

– Não se preocupe, não é nada perigoso.

– Que tipo de trabalho seria?

Apesar de toda a ajuda que nos deu, eu precisava saber exatamente o que pretendia. Era minha responsabilidade proteger essas crianças.

Yuna explicou que ela mesma havia feito a parede ao lado e estava criando aves lá dentro. O trabalho envolvia coisas simples como recolher ovos, limpar e cuidar das aves. Nada parecia perigoso. Ela disse que venderia os ovos e pagaria salários às crianças.

Enquanto elas ouviam nossa conversa, perguntei:

– O que acham, crianças? Parece que a Yuna tem um trabalho para vocês. Se trabalharem, poderão comer. Se não, voltaremos à situação de poucos dias atrás. A Yuna não trará mais comida.

Forçar as crianças seria errado. Elas tinham que decidir por si mesmas. Esperei pela resposta.

Elas se entreolharam e assentiram todas de uma vez.

– Eu topo!

– Me deixa fazer!

– Eu também quero!

– Eu também!

– Eu também!

Suas respostas animadas me deixaram muito feliz.

– Yuna, confio as crianças a você.

Inclinei-me em reverência.

Yuna levou Liz e as crianças até a parede. Tenho certeza de que elas estariam bem com Liz por perto.

Depois, Yuna me apresentou a uma mulher chamada Tiermina, que seria nossa intermediária com a guilda dos comerciantes. As crianças disseram que ela era gentil. A quantidade de aves aumentou antes mesmo que percebêssemos, para surpresa geral.

Enquanto eu cuidava dos menores no orfanato, Tiermina veio me procurar.

– Diretora.

– Sim, o que houve?

– A Yuna me disse que havia uma câmara fria aqui. A senhora sabe onde fica?

– E o que tem?

Dias atrás, Yuna havia criado uma câmara fria para nós. Disse que seria útil com tantas crianças. No momento, só havia carne de lobo lá dentro.

– Alguém vai trazer alimentos logo. Quando vierem, pode mostrar onde é?

– Vão trazer comida?

– Com tantas crianças, e agora com a Liz nos ajudando, deve estar difícil sair para comprar coisas. Por isso, organizamos entregas com o básico para preparar as refeições.

– Muito obrigada.

Finalmente entendi — estavam nos fornecendo alimentos em troca do trabalho das crianças.

– Se precisar de mais alguma coisa, me avise. Qualquer coisa, desde que não seja cara. Claro, se for algo realmente necessário e caro, eu teria que conversar com a Yuna antes.

– Com licença, mas… por que a Yuna está fazendo tudo isso por nós?

Essa pergunta me inquietava. Talvez Tiermina soubesse.

– Acho que é porque ela é a Yuna, né?

– Porque ela é ela?

– Não sei o que passa pela cabeça dela, mas ela é gentil. Minha filha, Fina, também gosta muito dela. Não acho que vá fazer nada de ruim ao orfanato. Pode ficar tranquila.

– Entendo…

– Ah, mas às vezes ela solta umas coisas absurdas, então se prepare.

Tiermina deu uma risada.

Aquela garota vestida como um adorável urso… surgiu do nada em nossas vidas, nos deu comida, deu trabalho às crianças, e até mesmo salários justos. Mudou completamente nossa situação. As crianças riam, e sorrisos se espalharam pelo orfanato. Podíamos comer até nos sentirmos satisfeitos. Não via mais crianças tristes por passarem fome. Tínhamos lugares quentinhos para dormir. Não precisávamos mais enfrentar o frio.

Era um fato inegável: tudo isso, quem nos deu, foi a garota urso.

Decidi confiar na Yuna de agora em diante.

 

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