Kuma Kuma Kuma Bear Volume 3 – Capitulo 73

A Ursa Consegue Padeiros – Parte Dois

NO DIA SEGUINTE, quando conversei com Morin e Karin sobre nossos próximos passos, notei uma comoção do lado de fora.

– Saiam daí!
– Vamos arrombar essa porta!
– Apareça, ursa!

Estavam bem barulhentos lá fora. Talvez fosse hora de colocar isolamento acústico.

– Você acha que são os de ontem… – Morin se levantou.

– Yuna – disse Fina, com um olhar preocupado.

Dei um sorriso para acalmá-la.

– Só vou dar uma espiada.

– Yuna?! – Morin se assustou com o que eu disse. – É perigoso!

– Não se preocupe. Apesar da roupa, eu sou mesmo uma aventureira.

Morin me olhou dos pés à cabeça. Acho que fiz ela se preocupar ainda mais.

– Você me viu enfrentando aqueles caras na loja.

– Vi, mas… se algo acontecer…

– Como empregadora, é meu dever proteger meus funcionários.

Depois de dizer às três que não saíssem de casa, fui sozinha. No gramado estava um homem rechonchudo liderando um grupo de uns dez homens.

– Então finalmente saiu, garota-ursa – disse o homem, sorrindo de canto.

– Quem é você?

– Sou o comerciante Lorde Jowlz.

– Lorde Gordz? Isso foi de propósito, né?

– Sua insolente! – gritou um dos capangas.

Pelo visto, não gostaram do apelido. Achei ótimo, sinceramente.

– Quietos! Então, garota-ursa, parece que você deu uma bela surra em alguns dos meus homens ontem.

– Foram eles que puxaram uma faca primeiro. Era melhor eu ter esquartejado?

– Acha que pode desafiar Lorde Jowlz nessa capital e sair impune? Que tal se eu te vender junto com a filha da padeira?

Ele ainda sorria. Deu vontade de driblar ele como uma bola de futebol pelo jardim inteiro.

– Mas se você devolver a família da padaria, te perdoo dessa vez.

– Você tá seriamente enganado se acha que tudo sempre vai sair do jeito que você quer.

– Parece que você não entende como o mundo funciona. Há pessoas com quem não se deve mexer. Só porque tem algum talento, não pode se intrometer onde quiser.

Os capangas puxaram suas facas.

– Chega. Pode calar a boca? Está fedendo.

Nem senti cheiro nenhum à distância, mas só de olhar já enjoava.

Abri um buraco no chão sob os pés dos homens. Apenas o comerciante Jowlz ficou de pé, os outros caíram. A queda tinha uns cinco metros. Com certeza quebraram uns ossos. Se tivessem azar, podiam até ter morrido.

– Maldita… então você é uma feiticeira?

– Sou uma aventureira.

– Uma garota vestida assim, dizendo que é aventureira…

Não importa a roupa, eu era aventureira. Me aproximei.

– Fique longe!

– Quer cair no buraco também?

Eu só ia ficar satisfeita se desse pelo menos um soco por Morin e Karin.

– Sabe com quem está falando? Sou Jowlz, o comerciante! Tenho contatos até com o mestre da guilda dos aventureiros! O que uma garotinha como você pode fazer?!

– Ah, eu não sei quem você é.

Jowlz ficou surpreso com essa resposta inesperada. Ele se virou e encontrou uma pessoa com orelhas longas e cabelo verde-claro.

– Sanya? O que está fazendo aqui?

– Estava andando por aí e ouvi esses homens falando: “A casa-ursa é por aqui”, “A ursa é forte, cuidado”, “Queremos vingança contra a ursa”. Pensei que fosse com você, Yuna, e segui eles.

Bom, se estavam falando isso, com certeza era comigo.

– Ouvi que devíamos nos conhecer. Foi imaginação minha?

Sanya parecia irritada.

– Você é a mestra da guilda dos aventureiros?

– Sim, sou. Na verdade, não conheço esse homem. Mas conheço bem aquela ursa ali.

– Tá de brincadeira?! Que se dane a mestra da guilda! Tenho contatos com o próprio rei! Se eu contar pra ele o que aconteceu, sabem o que vai acontecer com vocês?

Esse comerciante era burro ou só fingia?

– Quem é você? Nunca te vi antes.

Pois é, por algum motivo… o rei apareceu.

– O rei? Não tem como ele estar aqui.

Também achei isso. Mas ele estava.

– Pode acreditar ou não, mas você usou o nome do rei em um crime. Isso não será tratado de forma leve. Sanya, desculpe pedir, mas poderia prendê-lo? Avise o castelo também.

– Ai ai… acho que sou a única aqui que pode fazer isso.

Sanya colocou Jowlz em uma chave de braço. Eu nem consegui dar um soco.

– Me solta! Sabe quem eu sou?!

– Você é bem barulhento.

Sanya o derrubou com um golpe. Já que ela bateu por mim, tudo bem.

Eles resolveram tudo rápido. Menos trabalho pra mim, ótimo.

– Então, qual seria o assunto que Sua Majestade queria tratar comigo?

– O quê? Não vai me convidar pra entrar? – disse ele, olhando a casa-ursa.

– Quer entrar?

Não queria muito convidar o rei para dentro da casa urso.

– Quem não ia querer, depois de ver essa casa?

– Antes disso, como soube onde eu morava?

– Ellelaura me contou, claro.

Bom, era a única fonte possível mesmo.

– Ah, tá certo.

E assim, a pessoa mais importante do país entrou na casa-ursa.

– Yuna, está tudo bem? – perguntou Fina.

Ela e Morin estavam preocupadas.

– Tudo certo. A mestra da guilda apareceu.

– Ainda bem. E… quem é esse homem? – perguntou Fina.

– É o rei.

– Hããã? O rei? – Fina inclinou a cabeça.

– Sim, o rei.

– O homem mais importante do país?!

– Isso.

– P-por que alguém assim estaria aqui?!

– Sei lá. Pergunta pra ele.

Fina olhava de um lado pro outro, confusa. Morin e Karin estavam pálidas. Talvez já soubessem como era o rei.

– Então, o que deseja de mim? – perguntei enquanto ele olhava a sala.

– Ah, claro. Gostaria de pedir que você fizesse aquele pudim para a celebração de aniversário. Tenho certeza que todos ficariam surpresos se servíssemos aquilo no banquete.

O que esse rei estava pensando?! Podia dizer não?

– Por acaso… posso recusar?

– O quê? Vai recusar um pedido do rei?

Aparentemente, com o rei era “sim” ou “sim”.

– Não é isso. Preciso de ingredientes pra fazer o pudim.

– Se for dinheiro, eu pago.

Não era questão de dinheiro. O problema eram os ovos. Eu tinha reabastecido outro dia, então podia fazer o pudim. A dúvida era a quantidade. Não podia voltar para Crimonia buscar mais ovos.

– Quantos precisa?

– Se possível, trezentos.

Trezentos, hein… pensei. Se usasse os pudins que fiz no outro dia e os ovos que sobraram, talvez desse. Era o momento perfeito pra ensinar Morin e Karin a fazer pudim.

– Então? Consegue fazer?

Pensei no festival. Quando seria, mesmo?

– Acho que sim. Mas… quando vai ser a festa?

– Sério mesmo?! – disse o rei, rindo.

Eu só… não estava interessada. Fazer o quê? Só sabia que era em breve.

– Yuna, é em cinco dias – sussurrou Fina atrás de mim.

– Nesse caso, posso entregar na manhã do dia.

– Isso serve.

– Também… preferia que ninguém soubesse que fui eu quem fez.

– Certo. Vamos te fazer entrar no castelo escondida e colocar os pudins em uma sala vazia.

– Se não estiverem gelados, ficam sem graça.

– Nesse caso, preparamos um refrigerador na sala.

Se ele ia se esforçar tanto, não tinha como recusar.
O pudim foi adicionado ao cardápio da celebração de aniversário do rei.

O rei foi embora, e Sanya levou o lixo barulhento para a delegacia. Finalmente, minha casa ficou quieta de novo.

Mas o clima na sala mudou.

– O que foi agora?

Todos me olhavam diferente.

– Yuna, quem é você, afinal? É uma nobre? – Morin perguntou, cautelosa.

– Não. Sou só uma aventureira normal.

– Mas o rei parecia tão próximo de você.

– Foi só uma oportunidade que tivemos de nos encontrar.

– Mas ele veio até sua casa!

– Só queria pudim.

– Mas…

Elas não queriam acreditar. Até Fina estava começando a me olhar como se eu fosse uma aristocrata. Aquele rei só trouxe mais problemas.

O que mais pensariam? Quando alguém quase divino aparece na sua frente, qualquer um próximo a essa pessoa parece ser igualmente importante. Isso vale em qualquer mundo.

Se você fosse político, conheceria políticos.
Se fosse médico, conheceria médicos.
Se fosse professor, conheceria professores.
Se fosse artista, conheceria artistas.
Se fosse um recluso… conheceria outros reclusos (nos jogos, pelo menos).

Ou seja, a realeza conhece muitos nobres.

– Aaah! De qualquer forma, não sou nobre nem ligada à realeza.

Encerrei o assunto à força e falei sobre como fazer pudim.

– Vai ser um pouco antes do planejado, mas quero que vocês duas me ajudem a fazer pudim a partir de amanhã.

– Isso quer dizer que vamos cozinhar para o banquete do rei?!

Assenti. Já que iam aprender mesmo, seria mais rápido praticando.

– Não podemos fazer isso.

– Por quê?

– Vai pro estômago do rei?

– Acho que sim.

– Não posso fazer algo tão assustador.

– Não vamos envenenar ninguém.

Não era nada tão grave, mas elas não cederam.

– Nem pensam em ajudar?

Comecei a me sentir culpada. Pensando bem, para pessoas comuns, fazer comida pro rei devia ser absurdo. Se alguém dissesse que eu faria comida para o presidente, também acharia surreal.

Como forçar o impossível não era boa ideia, decidi fazer cem pudins com Fina.

– Então, Fina, nós duas faremos.

Mas Fina balançou a cabeça.

– Eu não consigo!

Você também, Fina?!

No dia seguinte, fiz os pudins sozinha, depois de falhar em convencer Fina. Por ora, as três ficaram só observando para aprender. No mínimo, poderiam quebrar os ovos… mas nem isso quiseram fazer.

Juntando com os que fiz no dia anterior, me propus a fazer trezentos pudins sozinha. Em silêncio, quebrei os ovos e bati tudo. As três só assistiam.

Será que tinham tanto medo assim de cozinhar pro rei e seus convidados?

Não perceberam o ressentimento que eu exalava, e acabei fazendo os trezentos pudins sozinha.

Organizei a quantidade absurda em uma geladeira gigante. A maioria dos ovos recém-repostos se foi, mas Morin prometeu fazer pão, então eu estava ansiosa para o dia seguinte.


 

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