— Chegamos.
O lugar para onde a Lady Noa nos trouxe estava cheio de mesas e cadeiras. Era espaçoso. Vi muitas pessoas sentadas, descansando, comendo ou conversando. Como havia cadeiras livres, parecia que poderíamos descansar ali, mas pensei que seria agoniante fazer isso sem comer algo. As barracas e as mesas ao redor exalavam cheiros deliciosos.
Senti que meu estômago começaria a roncar a qualquer momento. Então ouvi o estômago de outra pessoa roncando. Parecia ter vindo da Lady Misa. Ela ficou envergonhada.
— Você está com fome.
— Sim…
Eu me sentia da mesma forma. Aparentemente, viemos até aqui para comer.
— Então, vamos comprar alguma coisa e descansar depois.
Concordei com a sugestão.
A primeira barraca que visitamos vendia espetinhos. O cheiro da carne grelhando era delicioso. Lady Noa ficou em frente à barraca e fez o pedido.
— Com licença. Três espetinhos, por favor.
— Pode deixar! Vou grelhar umas carnes bem gostosas pra essas meninas fofas.
O homem passou molho nos espetinhos e os colocou na grelha. O cheiro estava maravilhoso. Engoli em seco. Espero que as outras duas não tenham ouvido. Elas estavam observando a grelha, então acho que não perceberam. Que alívio.
— Aqui está! Obrigado por esperarem. Aqui estão seus espetinhos deliciosos.
Quando tentei pagar com o dinheiro que a Yuna me deu, Lady Noa me impediu.
— Eu vou pagar.
— Mas a Yuna me deu esse dinheiro para…
— Hoje eu pago. Peguei dinheiro com minha mãe para todas nós, então não se preocupe.
O quê? A Lady Noa pegou dinheiro com a mãe dela? Fiquei tonta. As pessoas continuavam me dando dinheiro. Para mim, isso era demais, considerando que até pouco tempo atrás, eu mal conseguia comida para comer. Eu poderia trabalhar para devolver o dinheiro da Yuna, mas se fosse de aristocratas, eu não saberia como retribuir. Não achava que a Lady Noa e a Lady Ellelaura quisessem algo de volta, mas eu não sabia o que fazer. Com certeza existiam barreiras entre nobres e plebeus que pareciam impossíveis de superar.
Tentei pensar em alguma razão para recusar, mas as palavras não saíam. Eu não sabia mais o que fazer. Enquanto pensava, Lady Noa pagou pelas três e nos entregou os espetinhos.
— Fui eu quem te convidou hoje — disse ela. — Aqui, pegue. Ainda vou comprar um monte de outras coisas.
Será que isso era mesmo certo? E, como Lady Noa disse, ela realmente começou a comprar uma coisa atrás da outra. Minhas mãos, as de Lady Misa e as de Lady Noa estavam cheias de tantos tipos diferentes de comida que mal conseguíamos segurar tudo.
Depois de comprarmos a comida, colocamos tudo em uma mesa livre. Quando organizamos tudo, parecia muita coisa. Será que nós três conseguiríamos comer tudo aquilo? Lady Misa parecia não ter muita experiência comprando comida em barracas, então ficou um pouco envergonhada ao pedir. Por outro lado, Lady Noa parecia saber muito bem o que estava fazendo.
Tentei perguntar discretamente:
— Isso é porque você compra com frequência nas barracas?
— É, eu sempre compro comida nas barracas.
Então até aristocratas comiam comida de rua? Ou será que Lady Noa era especial? Colocamos a comida sobre a mesa e nos sentamos. Eu, é claro, já estava cansada de tanto andar.
— Bem, vamos comer o que quisermos. Se não for suficiente, compro mais.
Não, Lady Noa. Isso já é mais do que suficiente. Por favor, não compre mais. Não consegui dizer isso em voz alta, então só pensei.
Mas eu realmente estava com fome. O cheiro delicioso da comida me deixava ainda mais faminta. Queria comer logo, mas esperei Lady Noa e Lady Misa começarem. Lady Noa foi a primeira a estender a mão. Quando Lady Misa viu, também pegou a comida que mais queria. Depois que me certifiquei de que ambas estavam comendo, peguei um espetinho e levei à boca.
O sabor era diferente dos que comi nas barracas de Crimonia, o que tornava aquilo uma novidade, mas estava muito gostoso. Fiquei triste por não poder comprar e levar alguns para casa como presente.
— Então, Fina, por que não nos conta tudo? — disse Lady Noa enquanto eu comia.
Fiquei tão surpresa que nem sabia o que dizer. O que será que ela queria dizer?
— Sobre você e a Yuna — explicou. — Pode nos contar como se conheceram?
— Eu e a Yuna?
— Também quero saber! — disse Lady Misa.
— Mas eu já contei quando nos conhecemos, Lady Noa.
Eu havia contado enquanto viajávamos nos ursos até a capital.
— Misa quer saber também. E tenho certeza de que há coisas que você não me contou ainda.
A Yuna disse que certas partes eram segredo, então não podia contar tudo. Primeiro, contei para Lady Misa como conheci Yuna e sobre o trabalho de açougue que ela me deu.
— Fina, é perigoso ir sozinha colher ervas na floresta.
— Eu também acho.
Elas me repreenderam. Eu realmente pretendia procurar só nos arredores, mas acabei me afastando para encontrar mais ervas.
— Mas então a Yuna já usava aquelas roupas desde aquela época? Por que será que ela se veste assim? — perguntou Lady Misa.
Eu não sabia a resposta.
— O Kumayuru e o Kumakyu saem das luvas de urso dela, então acho que ela precisa delas. Mas, se fosse só isso, ela só precisaria das luvas…
— Então você não sabe, Fina?
Balancei a cabeça. Eu realmente não sabia.
— Mesmo assim, é incrível como ela derrota lobos com tanta facilidade. Eu queria ver a Yuna lutando também — disse Lady Misa.
Quando enfrentamos os orcs, Lady Misa estava escondida na carruagem, então parece que ela não viu. E ninguém viu quando enfrentamos os bandidos. Na verdade, nem eu vi Yuna lutar tantas vezes assim.
— Fina, você já viu a Yuna lutar?
— Um… Vi quando ela enfrentou alguns aventureiros.
Contei sobre quando levei Yuna ao sindicato dos aventureiros pela primeira vez. Ela lutou só com uma faca? Nem usou como arma… então acho que foi só com as luvas. Contei como ela enfrentou vários aventureiros usando apenas suas luvas de urso.
— Eu também vi a Yuna lutando na cidade — disse Lady Noa.
Aparentemente, Yuna enfrentou aventureiros que discutiram com ela usando magia.
— Invejo vocês duas — disse Lady Misa, fazendo um biquinho. Não sabia o que dizer. Quando vi Yuna lutando pela primeira vez, fiquei preocupada que ela se machucasse.
Eu não imaginava que ela fosse tão forte.
— Ah, tem algo que eu queria te perguntar, Fina.
— Sim? O que é?
Lady Noa me olhou com seriedade.
— A Yuna realmente derrotou lobos-tigre e uma víbora negra? Não é que eu não acredite, mas me pergunto se uma garota como ela conseguiria mesmo fazer isso.
— É verdade. Eu estava com ela quando aceitou a missão dos lobos-tigre.
— S-sério?!
— Então você viu os lobos?
Balancei a cabeça.
— Eu esperei por ela de longe com o Kumakyu, mas ela me mostrou os lobos que derrotou.
Como a casa-urso era segredo e Lady Misa não sabia sobre ela, não podia contar.
— Você não estava com ela quando derrotou a víbora negra, né?
— Não, acho que ela foi só com a mestra do sindicato. Mas ouvi dizer que derrotou sozinha.
— Ouvi isso do meu pai. Parece que é verdade.
— Sim. Eu ajudei a cortar o corpo. Era enorme, deu muito trabalho.
O corpo da víbora negra foi difícil de lidar. O mais complicado era cortar a pele com a faca. Meu pai dizia que, se estivesse viva, a pele seria ainda mais dura. Yuna devia ser mesmo incrível para conseguir derrotar um monstro daqueles.
— Agora que mencionou, você sabe cortar carne, né, Fina?
— Sim. Fiz isso com os orcs. A Marina disse que fiz um bom trabalho.
Mas isso não era algo tão grandioso. Desde pequena eu sabia fazer isso, então era normal. Não achava que fosse algo incrível, mas Yuna sempre me elogiava.
— Foi porque meu pai já não estava mais conosco e minha mãe estava doente, então eu precisava trabalhar.
Quando falei da minha família, o clima ficou sombrio.
— Mas agora está tudo bem, então por favor, não se preocupem. Minha mãe foi curada e agora trabalha com a Yuna.
— Ela trabalha com a Yuna? Mas a Yuna não é uma aventureira? Então… sua mãe também é aventureira?
Pelo jeito, Lady Noa não sabia sobre as aves e os ovos. Contei a elas sobre o orfanato.
— Então a Yuna fez tudo isso?
— A Yuna é incrível.
Quando elas diziam coisas boas sobre a Yuna, por algum motivo, eu também me sentia feliz.
— A Yuna fez o pudim que vocês comeram com aqueles ovos.
— O que é a Yuna, afinal?
Eu também não sabia. Ela era uma pessoa misteriosa vestida de urso, que tinha o Kumayuru e o Kumakyu, era uma aventureira, salvou um orfanato e curou minha mãe. Me pergunto se a Yuna tem família. Ela nunca falou sobre isso. Com certeza há um motivo, mas nunca tive coragem de perguntar.
Não importa o que ela vista, Yuna salvou minha vida. E ela é minha pessoa favorita.