Os preparativos para a loja estavam praticamente prontos, mas um problema persistia: ainda não tínhamos um nome. Quando pedi sugestões para a Morin, ela disse que a loja era minha, então eu deveria decidir.
Até aí tudo bem, mas… eu era terrivelmente ruim para dar nomes. Usei meu próprio nome real no jogo. Chamei meus ursos invocados de Kumayuru e Kumakyu porque eram kuma—kuma no sentido da palavra japonesa para urso.
Os ursos pareciam felizes com os nomes, mas eram ursos mágicos e provavelmente tinham suas próprias opiniões. Enfim, eu não tinha nenhuma confiança na minha habilidade de nomear as coisas, e mesmo depois de pensar nisso por vários dias… nada. Cabeça vazia.
Então, resolvi pedir sugestões para todo mundo.
Reuni a gerente da loja, Morin, e sua filha, Karin; os ajudantes do orfanato; a Milaine da guilda de comércio, que ajudou na reforma; a Helen, da guilda dos aventureiros; Tiermina e suas filhas Fina e Shuri, que sempre me ajudavam; e a Noa, que tinha voltado da capital—quatorze pessoas no total.
Fomos direto ao ponto:
— Padaria da Ursa.
— Refeitório da Ursa.
— Pizzaria da Ursa.
— A Ursa e o Pudim.
— Restaurante da Ursa.
— Com a Ursa.
— Ursa…
— Da Ursa…
Veio um enxurrada insuportável de nomes com “ursa”.
— Ok, então… todo mundo está bem obcecado com esse negócio de “ursa” no nome. Por quê?
Eu meio que já sabia a resposta, mas perguntei mesmo assim. Vai que vinha algo inesperado.
— É que…
— Yuna…
— Humm…
Todos me encararam. Tudo bem, era a minha loja, então tinha a ver com “ursa”. Parecia só uma repetição da história do Kumayuru e Kumakyu. Eu não ia dizer não, e também não ligava tanto. Existiam lojas com “bear” no nome no meu mundo também. Mas ainda me deixava meio desanimada ouvir todo mundo dizendo isso.
— Então — disse Helen — que tal “A Loja da Aventureira Yuna”?
— Não! — cortei na hora. Aquilo soava genérico demais. Se fosse para ir por esse caminho, “Padaria da Morin” funcionaria igualmente bem.
Quando falei isso para a Morin, ela simplesmente respondeu:
— Essa é a sua loja.
— Acho que tem que ter “ursa” no nome — disse Karin.
Noa assentiu.
— É. Porque é a loja da Yuna.
Todos assentiram com a Noa. Ficou decidido que teria “ursa” no nome, e começaram a surgir mais ideias. Pelo visto, eu estava presa ao “ursa” mesmo. Talvez todo mundo fosse tão ruim para nomes quanto eu.
Ursa? Confirmado. Mas o resto do nome? Ninguém conseguia decidir.
— Então, que tal decidirmos o uniforme da loja primeiro? — sugeriu Milaine. — Tive algumas ideias.
Pisquei.
— Uniforme?
— Precisam de algo para vestir ao atender os clientes.
Lembrei de já ter visto funcionários de uma loja grande na capital usando algo como vestidos com avental. Era um visual bem fofo. Talvez roupas de empregada e mordomo funcionassem num mundo de fantasia? Tentei imaginar as crianças com isso. Humm.
Assenti devagar.
— Boa ideia—uniformes.
— Não é? Então, preparei um só pra testar — Milaine tirou um uniforme dobrado da bolsa de itens e o abriu.
— Isso é um urso?
— Se é a sua loja, Yuna, é claro que o uniforme tem que ser de urso.
Ao dizer essas palavras temíveis, ela exibiu a roupa de urso. Ugh. Eu não era literalmente um urso, e não queria que isso fosse minha marca definitiva para sempre.
Milaine então olhou em volta até seus olhos pararem em uma das meninas do orfanato.
— Miru, você não quer experimentar?
Sério mesmo? Nem Miru usaria uma roupa tão… “ursosa”.
— Ooo! Posso mesmo?!
Mas Miru parecia empolgada. Nada de nojo ou horror. Na verdade, algumas das crianças estavam com inveja.
— Que sorte a sua.
— Não vale!
— Eu sou a próxima!
Mas… mas…! Argh! Miru estava radiante ao pegar o uniforme de urso e as outras crianças, morrendo de inveja. Será que eu era a estranha aqui?
Esfreguei as têmporas.
— Você não está com vergonha?
— Não! Eu vou ficar igualzinha a você, Yuna. Estou tão feliz!
As outras crianças assentiram. Isso era por causa de eu ter salvado o orfanato? Será que estavam me vendo como uma heroína ou algo assim?
Miru começou a tirar a roupa para trocar ali mesmo.
— Miru, pare! — falei. Ela inclinou a cabeça. — Encontre um vestiário ou algo assim.
Milaine assentiu.
— Isso mesmo. Você já está grande demais pra isso. Venha comigo.
Ela levou Miru para um dos cômodos nos fundos. Miru já tinha doze anos, então precisava começar a se cuidar quanto a essas coisas. Os meninos talvez fossem mais novos, mas ainda eram meninos, e estavam crescendo. Acho que vou ter que designar vestiários.
Depois de um tempo, Miru voltou com o uniforme. Parecia muito com meu macacão de urso, com direito a capuz e um rabinho fofo. Na verdade, não era exatamente um uniforme, e sim um parka de urso? Elas iam mesmo trabalhar com isso?
— O que acham? — Miru girou devagar, radiante, mostrando o uniforme. Por que ela estava tão feliz com aquilo?
— Ficou ótimo!
— Aaaah! Que inveja.
— Que fofuraaa!
Foi elogiada de todos os lados. Realmente, não estava ruim. Estava fofa. Mas, poxa… um uniforme de urso. Queria dizer algo, mas não consegui. Era fofo demais.
Ainda assim, senti que faltava algo. Olhei Miru dos pés à cabeça. Oh? Faltavam os sapatos. Milaine percebeu meu olhar e tirou algo da bolsa.
— Miru, experimente isso.
Ela tirou um par de sapatos parecidos com os meus. Eram pretos para combinar com o uniforme, diferentes do meu par preto e branco. Miru tirou os próprios sapatos e colocou os novos. Agora ela era um urso da cabeça aos pés.
Tiermina riu.
— Céus, você até fez sapatos!
— Na verdade, pedi para alguém fazer. Mas são bons, não são?
Os pezinhos da Miru estavam bem encaixados nos sapatos parecidos com os meus. Sabia que a Milaine era proativa, mas isso foi longe demais.
— Na verdade — continuou Milaine — eu pensei em fazer luvas também, mas acho que atrapalhariam na cozinha e no atendimento, então fiquei só com os sapatos. A não ser que você queira as luvas — disse com um olhar esperançoso.
— Acho que estamos bem sem luvas.
Milaine tentou não parecer desapontada.
— E então, Miru?
— São ótimos! — Miru praticamente pulava de alegria com os sapatos de urso.
Suspirei.
— Vocês vão mesmo trabalhar com essas roupas?
— Se você permitir — respondeu Milaine.
— Yuna, eu quero usar! Por favoooooor?
Humm. Bem, eu não estava usando… Espera, eu tava usando roupa de urso, né? Droga.
— Se todos estiverem bem com isso — disse —, acho que tudo bem.
Contanto que as crianças estivessem felizes, tanto faz. Ninguém estava forçando ninguém.
— Eu topo — disse um dos meninos.
— Eu também — disse outro.
— Eu também!
Espera aí… os meninos também?! Isso ia ser constrangedor quando fossem mais velhos. Bom, sem volta agora, meninos.
— Então vamos com o uniforme de urso! — Milaine cantou as palavras.
— Espera aí — disse Karin. — Isso quer dizer que eu vou ter que usar isso?
Certo. As crianças não eram as únicas funcionárias. Karin também cuidaria da loja, então…
— Fica bonitinho nas crianças, mas não sei se funcionaria comigo…
Karin tinha dezessete anos, né? No Japão, seria uma colegial do segundo ano. Usar isso nessa idade era meio… embaraçoso.
— Acho que ficaria lindo em você, Karin.
— Mas senhorita Milaine, você usaria isso?
— Bem, estou nos vinte, então não seria apropriado. Mas acho que você está na idade certa para aproveitar. Use essas roupas enquanto pode!
— Não tem jeito de eu atender clientes vestida com isso!
Uau. Eu tinha que usar esse “uniforme embaraçoso” o tempo todo porque perderia meus poderes se tirasse. E não só atendia clientes — derrotava bandidos, monstros, ia até a capital e conhecia o rei com essa roupa de urso.
— Como vou ficar na cozinha com minha mãe, posso ser dispensada?
— As crianças não podem atender clientes sem supervisão — falei. — E você não ia cuidar do salão?
Já tínhamos decidido isso. Morin na cozinha, Karin na frente e orientando as crianças.
— Mas…
Karin olhou para todos, desesperada.
— Pff. Heh. Bwahahaha! — Milaine caiu na gargalhada.
— Senhorita Milaine?
— Era só pras crianças. Mas se quiser usar também, posso providenciar.
— Argh, prefiro morrer.
Isso foi um pouco demais.
— Mas… que tal um boné de urso?
Enfim, Karin ficou aliviada ao perceber que não teria que usar o uniforme, e Milaine parecia encantada com a Miru toda de urso.
— Obrigada por modelar, Miru.
Quando perguntei quanto custariam os uniformes, Milaine disse que arcaria com tudo, mas eu não podia aceitar isso. E ainda precisaríamos de peças reservas, então combinamos que eu pagaria os extras.
— Mas… como vai se chamar a loja? — perguntou Fina, voltando ao assunto principal.
Depois de uma longa discussão, decidimos.
Bear’s Lounge. Aí está. Um lugar aconchegante e relaxante. Pegue uma pizza e hiberne um pouco, por que não?