Kuma Kuma Kuma Bear Volume 4 – Capitulo 83

A Ursa sobe a montanha

Foi no galinheiro que contei para a Tiermina e a Fina sobre meu plano de atravessar a cadeia de montanhas e visitar o oceano.

– Você vai mesmo até lá? – perguntou Tiermina, com preocupação na voz.

– Quero ver o oceano – disse com firmeza. – Então, por favor, cuide da loja pra mim.

Na verdade, nem precisava pedir. A loja já estava funcionando bem sob os cuidados da Tiermina e da Morin.

– Isso deve estar bem, Yuna, mas a cordilheira Elezent é difícil de atravessar.

– Estou com meus ursos, então vai dar tudo certo. Se parecer perigoso, eu volto.

– Yuna… – Fina também parecia preocupada.

– Vou ficar bem. Sempre fico. Entro em contato com vocês quando chegar lá.

Tirei dois ursos em miniatura, do tamanho da palma da mão, do meu armazenamento de ursa e entreguei um para a Fina.

– Esse é o Kumayuru? – Fina olhou o primeiro que entreguei, depois o segundo. Os ursos eram em forma do Kumayuru e do Kumakyu.

– É um dispositivo mágico que permite conversar à distância.

Depois de derrotar dez mil monstros na capital, adquiri duas habilidades novas. Uma delas era a de fabricar ursos-fones que permitiam falar com outras pessoas ao canalizar mana neles. Eram dispositivos de comunicação que usavam mana no lugar de ondas de rádio. A outra habilidade era a ursificação de invocação. Não parecia muito útil… por que eu iria querer transformar meus ursos em filhotes?

Se eu pudesse deixá-los maiores, até entenderia. Mas menores… não serviriam para lutar. Nem daria para montá-los!

Por outro lado, ver o Kumayuru e o Kumakyu miniaturizados era tão… relaxante. Suas forminhas pequenas trotando atrás de mim eram simplesmente adoráveis! E eu podia até tomar banho com eles! Eles podiam dormir na cama comigo sem atrapalhar, e eu podia abraçá-los como almofadas… ok, era uma habilidade bem aconchegante. Acho que podia gostar dela.

– Se acontecer alguma coisa, canalize mana nesse urso-fone e pense com força que quer falar comigo. Vai se conectar com o meu – expliquei, mas…

– Yuna, eu não sou uma criança, tá? Sei que não tem como falar com alguém que está longe. Não inventa só pra me deixar tranquila – Fina fez beicinho, emburrada.

Uhh… ela não acreditou em mim? E ela só tem dez anos. Poxa!

– Yuna – disse Tiermina com suavidade –, até pode haver dispositivos mágicos assim na capital, mas isso…

Será que era tão raro assim? No jogo, era tipo uma função de chat.

– Então que tal testar? Eu vou falar com você pelo urso-fone. Vamos lá pra fora tentar.

Na verdade, era a primeira vez que eu usava um. Nunca tinha pedido pra ninguém testar e também não dava pra testar sozinha. Nem eu sabia como conectar com o outro urso-fone. Teria um toque mágico?

Fomos as três até uma parte mais isolada, longe do galinheiro e do orfanato, pra ninguém estranhar.

Canalizei mana no urso-fone da minha mão e desejei me conectar com o da Fina… e ele começou a tocar! Meio que…

– Cwooon, cwooon, cwooon, cwooon, cwooon.

Era… o som de um urso?

Sério? Mesmo?

Talvez desse pra trocar, como em celulares…

– Y-Yuna, o que eu faço?! – O urso-fone cantava na palma da Fina e ela olhava toda nervosa. Ah, certo.

– Canaliza mana como num cristal mágico, igual quando liga uma luz.

Fina fez isso e o urso-fone parou de cantar.

– Ok, agora vou me afastar.

Me afastei uns bons metros da Fina.

– Fina, consegue me ouvir? – falei para o urso-fone que o fantoche de urso estava segurando.

– Yuna?

Consegui ouvir a voz da Fina pela boca do urso-fone.

– Consegue me ouvir agora?

– Uhum, estou ouvindo.

– Ótimo! – Uau, realmente funcionava. Era tipo celular ou walkie-talkie. – Ok, vou me afastar ainda mais… Fina, ainda me ouve?

– Perfeitamente.

– Yuna, esse é mesmo um dispositivo mágico de conversa à distância? – ouvi a voz da Tiermina sair pelo urso-fone.

– Não sei o alcance exato, mas acho que podemos estar bem longe uma da outra.

Como nunca tinha usado, não sabia até onde dava pra ir. Mas era uma habilidade que recebi dos deuses. Deuses não dependem de torres de celular, né? Provavelmente.

– Bom, vou desligar agora.

– Desligar o quê?

– Encerrar a conversa. Agora tenta me ligar, como expliquei: canaliza mana e pensa que quer falar comigo.

– Ok, vou tentar.

Desliguei o urso-fone e esperei a Fina me chamar. O urso-fone começou a tocar de novo.

– Cwooon, cwooon, cwooon, cwooon, cwooon.

Eu não sei o que esperava. Era fofo, mas difícil de descrever. Não faria sentido esse mundo ter toques eletrônicos ou musiquinhas, mas se tivesse função de gravação, eu adoraria registrar a voz da Fina.

“Yuna, estou te chamando. Yuna, estou te chamando.” Algo assim seria ótimo. Vou pesquisar depois.

Canalizei mana no meu urso-fone. O som parou.

– Uhm, Yuna, tá me ouvindo?

– Alto e claro.

Perfeito. A comunicação funcionava nos dois sentidos. O único problema era a distância máxima, mas não dava pra testar agora. Eu poderia ir até a capital usando o portal-urso pra checar, mas… preguiça.

– Ok, estou voltando. Vou desligar.

Desliguei e voltei até a Fina.

– Yuna, esse urso é incrível!

Ela segurava o urso-fone com cuidado.

– Né? Podemos falar mesmo estando longe agora.

– Sim!

– É realmente incrível – disse Tiermina. – Não acredito que podemos falar com alguém distante assim.

– Se acontecer qualquer coisa, me avisa. Se der pra voltar, eu volto. – E eu podia voltar na hora com o portal-urso.

– Mas tem certeza que vai deixar a Fina com um item mágico tão valioso?

– Claro. Não tem por que eu carregar dois.

Se eu andasse com dois, ia parecer uma criança brincando com walkie-talkies.

– Mas vai nos dar algo assim? Não gostaria de entregar isso a algum amigo ou família lá da sua terra?

Ah. É… acho que sim.

Am…i…gos. Que palavra bonita.

Fa…mí…lia. Que conceito.

– Yuna, o que foi? – Tiermina me olhou. Acho que fiquei quieta.

– Minha terra natal é muito longe – falei. – Não posso usar isso com eles.

– É mesmo? – perguntou Tiermina suavemente. – Me desculpe.

Ela não insistiu. Acho que entendeu.

– Tá tudo bem. Sério. Pode ficar com isso, Fina.

– Ok. Vou cuidar direitinho.

Dei um afago na cabeça da Fina.

Logo cedo, montei no Kumayuru e segui em direção à cordilheira Elezent.

Fazia tempo que eu viajava sozinha, mas o progresso foi tranquilo.

Logo avistei o topo branco: havia neve acumulada. Mas minhas roupas de urso tinham resistência ao frio, então sem problemas. Só uma garota subindo a montanha com seu equipamento de ursa super apelão, nada de novo aqui. Como sempre, sem motivo pra usar outra coisa.

Kumayuru saiu da cidade e correu rumo às montanhas. Conforme a montanha se aproximava, meu mapa foi atualizado.

– Nossa… isso sim é montanhoso.

Logo cheguei à base da montanha. Ouvi dizer que havia um caminho, mas… será que era essa trilha minúscula? Mesmo assim, era larga o bastante pro Kumayuru passar.

Se havia uma trilha, seguir seria mais fácil. Mesmo se me perdesse, com meu mapa-urso dava pra voltar. Só não dava pra saber o que esperar mais à frente.

Agradeci ao Kumayuru por me trazer até ali e chamei o Kumakyu pra seguir o resto do caminho. Afinal, se eu só andasse com o Kumayuru, o Kumakyu ficava emburrado.

– Kumakyu, escolho você! Vamos nessa, parceiro!

Kumakyu seguiu pela trilha. A inclinação foi aumentando, mas ele seguia firme. Havia muitas árvores na base e vegetação densa, mas foram rareando à medida que subíamos. Kumakyu nem parecia cansado, claro.

Minha habilidade de Detecção mostrava sinais de monstros, mas todos distantes e nenhum se aproximava. Com o tempo, as árvores sumiram, substituídas por pedras espalhadas. Olhando para trás, percebi que já tínhamos subido bastante.

– Tudo certo aí, Kumakyu?

– Cwoom – respondeu ele, me olhando.

– Que bom. Se cansar, me avisa.

Afaguei a cabeça dele. Kumakyu acelerou feliz e subiu o caminho íngreme. A neve começou a cair, acumulando suavemente no chão. Kumakyu seguia deixando pegadas na neve.

Dizem que o clima nas montanhas muda rápido, mas eu não sabia que era tanto assim. Ou talvez fosse coisa de mundo de fantasia?

A neve aumentou. Graças ao Kumakyu, chegamos até ali sem problemas, mas uma pessoa comum teria precisado de várias pausas. Se vestisse roupas quentes, ficaria sobrecarregado. Se não vestisse, viraria picolé. Com meu macacão de ursa, nem calor nem frio.

A neve aumentava mais e mais, cobrindo o chão. Kumakyu nem ligava e corria por cima da neve. Ao subir, avistei um lobo branco à direita, entre os flocos.

Um lobo de neve, com pelagem pura. Talvez fosse um bom presente pra Fina? Mas ele me viu e fugiu logo. Com Kumakyu ao meu lado, não ia me atacar. Até queria aquela pele, mas não a ponto de persegui-lo.

Parecia haver três tipos de monstros na montanha: lobos de neve, coelhos de neve e snowmin.

Lobos de neve eram iguais aos normais, só que brancos.

Coelhos de neve… eram coelhos. Na neve. Maiores. Inofensivos, se você os deixasse em paz.

Já os snowmin… eram feitos da neve que se juntava em torno de gemas de mana de gelo. Imagine bonecos de neve com braços e pernas. Seus ataques eram monótonos: se jogavam em você ou sopravam nevascas. Pelo menos, no jogo, era assim. Eles congelavam minhas armas e armaduras. Irritante.

E ataques físicos não funcionavam. Se atacasse, eles se despedaçavam e se regeneravam na hora. A única forma de vencê-los era com fogo.

Então joguei bolas de fogo neles. Ao acertar, a neve evaporava e eles largavam uma gema de mana de gelo. Super efetivo. Essas gemas servem pra geladeiras e congeladores. Úteis. Peguei todas.

As coisas iam bem, mas a neve virou uma nevasca. Talvez fosse hora de uma pausa?

Graças ao equipamento de ursa, eu não sentia frio. Kumakyu também estava bem. Poderíamos seguir, mas a visibilidade estava horrível. Como não ia adiantar forçar, decidi descansar até a nevasca passar.

Tentei achar um abrigo no meio daquela neblina branca, mas…

– Uhhm, não estou vendo nada.

Olhei ao redor, mas não encontrei nenhum refúgio. Talvez eu pudesse criar um?

Enquanto eu pensava no que fazer, Kumakyu sentiu algo. Um monstro? Não…

Usei minha habilidade de Detecção. Eram duas pessoas.

 

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