Kuma Kuma Kuma Bear Volume 4 – Capitulo 84

A Ursa Salva Pessoas

Havia pessoas na nevasca.

Elas tinham que ser aventureiros como eu, certo? Quem mais entraria numa nevasca dessas? Teriam vindo até aqui para matar monstros? Por outro lado, Ellelaura disse que a cadeia de montanhas era severa, e que os monstros não valiam o esforço. Por que aventureiros escalariam até aqui?

Seja quem fossem, seria um problema se vissem a Kumakyu e surtassem. Decidi evitá-los com a ajuda da minha habilidade de Detecção e mudei de direção. Hmm. Nenhum movimento vindo dos sinais.

Pensei se podia ser uma daquelas coisas… um acampamento improvisado? Talvez houvesse uma caverna? Nesse caso, acho que estava tudo bem seguir o mesmo caminho, certo?

Não consegui decidir o que fazer, então apenas continuei. Se estavam abrigados no lugar, provavelmente nem notariam minha presença. Mesmo que notassem, duvido que quisessem brigar.

A nevasca ficou cada vez mais forte, e eu segui os sinais através dela.

Não era uma caverna, nem uma pedra, nem um iglu ou qualquer coisa do tipo. Também não encontrei pessoas em pé… mas havia sinais. O que significava que… estavam enterrados na neve? Ah, não.

Concentrei meus olhos e examinei tudo de novo. A superfície toda estava coberta de branco e não vi nada que parecesse humano. Ok, talvez não? Quando olhei em volta, Kumakyu reagiu. Quando olhei naquela direção, encontrei algo que parecia uma mochila enterrada na neve.

Saltei de Kumakyu, corri até lá e comecei a cavar a neve o mais rápido que pude. Sob as camadas de frio, encontrei um homem e uma mulher deitados no chão, abraçados.

– Vocês estão bem?!

Usei magia de vento para soprar o resto da neve de cima deles. Sacudi-os. Nada funcionou. Estavam inconscientes, mas respirando. Invoquei Kumayuru e os coloquei sobre meus ursos.

Como não havia abrigo por perto, eu teria que fazer um. O mais silenciosamente possível, tomando cuidado com avalanches, escavei um buraco na parede da montanha. Kumayuru e Kumakyu me seguiram para dentro e — seguros por enquanto — tirei a casa de urso móvel do meu armazenamento.

Levei os dois para dentro da casa e os coloquei no sofá. Cobri com vários cobertores, mas não seria o suficiente. Aumentei o aquecimento da casa — normalmente eu gosto da temperatura moderada, mas a situação pedia mais. Uma gema de fogo deu conta do recado e aumentou o calor. Agora só restava esperar.

Depois de escalar montanhas e caminhar na nevasca, minha fome era real. Como eles não acordariam tão cedo, preparei algo quente para comer e uma bebida refrescante. Depois, fui verificar como estavam.

– O-Onde estamos?

– Casa de urso. Você acordou?

A mulher olhou ao redor da sala com os olhos embaçados antes de finalmente olhar para mim.

– Você… é um urso?

– Me chamo Yuna, sou uma aventureira. Encontrei vocês na montanha de neve. Lembra?

A mulher franziu a testa por um momento. Então, de repente, gritou:

– Damon!

– Esse é o nome dele? Ele ainda está dormindo. — Apontei para o sofá ao lado dela.

A mulher suspirou aliviada.

– Graças a Deus. Você nos salvou?

– Eu estava por perto. Encontrei vocês desmaiados na neve. Foi sorte.

– Muito obrigada. Me chamo Yuula. Este é meu marido, Damon. — Yuula fez uma reverência. Parecia ter uns vinte e cinco anos, talvez? Embora, com pessoas como a Ellelaura por aí, quem podia dizer? Ela parecia ainda com frio, mesmo com o cobertor, então ofereci leite quente.

– O que vocês estavam fazendo num lugar como aquele? — Apesar de aventureiros não virem aqui com frequência, ela e Damon pareciam tudo, menos aventureiros.

– Viemos do porto de Mileela e estávamos indo para Crimonia.

– Ah — Mileela é aquela cidade do outro lado da montanha, né? A cidade costeira — meu destino.

– Isso mesmo. Estávamos atravessando a montanha para comprar comida em Crimonia, mas ficamos exaustos.

– Comida? Por que atravessar uma montanha cheia de nevascas por comida?

– Parece que a notícia ainda não chegou a Crimonia — disse Yuula, abaixando a cabeça.

– Hã?

– Há cerca de um mês, um monstro apareceu no mar de Mileela. — Monstros marinhos? Bem, por que não? — É um kraken, segundo os aventureiros. Apareceu perto do porto e tem destruído navios. Não dá pra entrar nem sair.

No jogo, o kraken era um chefe de evento marítimo. Um clássico molusco assassino gigante. Era fraco contra fogo e eletricidade, mas o dano de fogo era reduzido em zonas aquáticas. Relâmpago funcionava bem, mas… né, água ao redor? Um feitiço mal lançado e você fritava o próprio grupo. Eu odiava esse chefe — classes de combate corpo a corpo, como a minha, eram inúteis contra ele.

– Além disso, como o kraken apareceu, navios de outros portos pararam de chegar com suprimentos. Estávamos tentando encontrar comida em Crimonia…

– Não há uma guilda de aventureiros por lá? Eles não poderiam se unir para derrotar o molusco?

Yuula balançou a cabeça.

– Não temos aventureiros capazes de derrotar um kraken.

Mesmo sendo um chefe de evento, ainda era um chefe. Quanta força seria necessária para derrotar algo assim?

– Por que não comer peixe, então, ao invés de atravessar uma montanha?

– Não podemos enviar navios, nem mesmo para águas rasas. Eles são atacados onde quer que estejam, e o kraken se aproxima cada vez mais. Desde então, ninguém pode navegar nem se aproximar do mar.

Sim, se o kraken chegasse ao porto, comida seria o menor dos problemas.

– Não dá pra pescar com varas da margem?

Yuula balançou a cabeça de novo.

– Pescamos, mas pegamos muito pouco. E só certas pessoas podem pescar.

– Por quê?

– Quando muita gente se reúne na orla, o kraken aparece. Não podemos deixar muitos irem. O pouco que conseguimos é gerenciado e distribuído pela guilda comercial. Como é pouco, não recebemos nada.

Enquanto ouvia Yuula falar sobre o porto, o homem no sofá começou a se mexer e abriu os olhos.

Yuula correu até ele.

– Damon, você está bem?

– Yuula? Nós… estamos salvos? — Ele se sentou e segurou a mão de Yuula.

– A aventureira aqui, Srta. Yuna, nos ajudou.

– Um urso?

E lá vamos nós de novo.

– Damon, que grosseria. Ela nos salvou quando estávamos desmaiados na neve.

– Ah, me desculpe. Sou Damon. Do fundo do coração, obrigado. Mas… onde estamos?

– Esta é minha casa. Bem, a móvel.

– Então fomos salvos…

Eles se abraçaram. Muito meloso, mas merecido. Para fazê-lo se sentir mais confortável, fui à cozinha, aquecei leite e levei para Damon.

– Obrigado. Você nos salvou mesmo. — Ele começou a beber imediatamente. Estavam começando a se acalmar.

– Mas por que estavam na montanha? Seria bonito, mas não há uma estrada costeira? Foi o que me disseram. Por que arriscar?

– Bem… — Damon começou, mas suspirou.

Yuula continuou:

– Pouco depois do kraken aparecer, bandidos começaram a surgir na estrada costeira. Qualquer um que saísse da cidade era atacado. As estradas não são seguras.

– Mesmo que não consigam lidar com o kraken, aventureiros não poderiam cuidar de alguns bandidos? Não poderiam submeter uma missão à cidade?

Eles balançaram a cabeça.

– Não podemos. Os aventureiros de maior patente foram contratados por pessoas fugindo da cidade. Todos já se foram.

– Só restaram aventureiros de nível baixo…

Os aventureiros não podiam derrotar o kraken, nem os bandidos. E os de alto nível fugiram sem cumprir seus deveres.

Que pesadelo. Não podiam pescar, nem navegar, nem buscar comida em outras cidades, nem passar pelos bandidos. E os aventureiros eram inúteis. Nem peixe suficiente havia.

– E as montanhas? — Tinha que haver algo! — Por que não caçar nas montanhas?

– Conseguimos caçar um pouco, mas não muito. E o pouco que conseguimos é explorado por nossos próprios comerciantes!

– Os outros portos sabem que o mar de Mileela está sendo atacado? O país não faz nada?

– Ah, não somos subordinados ao rei… nem a nenhum rei. Então, ninguém vem nos ajudar.

– Sério?

Yuula assentiu.

– Dizem que o porto foi fundado por refugiados de uma era de guerras.

Sem aventureiros, sem comida, sem país. Estavam completamente encurralados. Ninguém podia fazer nada… exceto talvez eu? Mas como lutar com um kraken? Nem meus ursos poderiam lutar no mar.

– O que vão fazer agora?

– Se possível, iríamos até Crimonia.

– Conseguiriam voltar para o porto depois? Dessa vez foi sorte.

– Se não formos, nossos filhos e pais ficarão sem comer…

Eles pareciam derrotados; provavelmente lembrando da jornada. Claro que continuariam… e talvez acabassem enterrados para sempre.

Eu poderia deixá-los partir, mas não poderia deixá-los morrer. Tinha quase cinco mil lobos para comida, toneladas de farinha para pão e pizza. Comida suficiente para apodrecer… não que apodrecesse no meu armazenamento.

– Hmm, então… onde estamos agora? — perguntou Damon.

– Estamos nas montanhas.

– Hã? – O quê?

Os dois ficaram surpresos. Acho que qualquer um ficaria ao saber que há uma casa no meio das montanhas.

– Estamos numa caverna perto de onde vocês desmaiaram.

– Sério?

– Se acham que estou mentindo, podem conferir.

Eles olharam pela janela da casa de urso. Mesmo dentro da caverna, podíamos ver a nevasca do lado de fora.

– Tem uma casa nessa caverna?

– Sim. É mágica.

– Incrível!

– Foi assim que consegui chegar até aqui. Sem meus ursos, nunca teria subido essa montanha. Roupa de urso, invocações, casa de urso, armazenamento de urso… o que eu faria sem eles?

– E sobre a comida — disse —, tenho bastante. Vou compartilhar.

– Sério? Seria maravilhoso, mas… quanto você cobraria? — Damon pegou uma bolsa de couro e espalhou moedas de prata e cobre na mesa. Provavelmente juntaram tudo que tinham. Não era muito para mim.

– Isso é tudo que temos. Quanto mais puder nos dar, mais ajudará. — Damon se curvou bem baixo para uma garota da minha idade. Mas se tivesse sido arrogante e exigido comida, eu teria recusado.

– Não quero dinheiro. Só quero pedir um favor.

– Qual?

– Me mostrem a cidade quando chegarmos lá.

– Tem certeza que é só isso?

– Só isso. Não vou pedir nada absurdo.

Se o kraken não estivesse por perto, eu teria pedido uma indicação de peixaria. Por enquanto, só queria chegar à cidade.

– Obrigado. — Mais reverência. Estavam sendo tão educados com uma garota de roupa estranha. A situação devia ser mesmo terrível. — Mais importante, vocês devem estar cansados, certo? Vou preparar a comida. Descansem depois de comer. Assim que a nevasca passar, partimos bem cedo.

Preparei uma refeição quente para eles. Choraram baixinho enquanto comiam. Acho que não estavam comendo quase nada no porto. Meio famintos, tentando escalar uma montanha… céus. Depois que terminaram, levei-os até o quarto no andar de cima.

Quanto a mim, me aconcheguei sob os cobertores no meu quarto, esperando apagar mais um dia exaustivo.

 

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