Kuma Kuma Kuma Bear Volume 5 – Capitulo 101

A Ursa É Desnecessário? – Parte Dois

DE LÁ, começamos a conversar sobre como o túnel deveria ser usado.

— Precisamos deixar o túnel utilizável o mais rápido possível — disse Cliff.

— Ele já não está utilizável? Você veio por ele, não veio?

— Sim, mas agora ele é menos um túnel e mais um… buraco longo, digamos assim.

Ouch. Eu coloquei muito esforço naquele negócio, sabe? Mas… ele não estava errado, exatamente. Então eu não tinha uma boa resposta.

— O interior do túnel está completamente escuro, então precisamos instalar pedras de mana de luz. Há árvores demais obstruindo o caminho também: o suficiente para esconder a entrada ou impedir carruagens de passarem. Vamos ter que fazer algum trabalho de limpeza.

Ok, claro, uma carruagem não conseguiria passar. Isso nós dois concordávamos. Mas um cavalo grande e bonito? Talvez? Quem sabe? Espremido?

— Acho que podemos dizer que esse é o motivo pelo qual o túnel não foi descoberto até agora. Seu porto terá que fornecer trabalhadores e limpar o terreno, do mesmo modo que faremos do nosso lado. Obviamente, forneceremos os salários, então não se preocupe. Mas vocês terão que gerenciá-los — ele disse, encarando Jeremo.

Jeremo piscou. — Você quer dizer… eu?

— Claro que quero dizer você. Não é você quem representa o guild de comércio?

— E-Eu entendi. Acho que sou.

Ai. Difícil de assistir, mas aposto que ele se acostuma.

— E quanto às pedras de mana de luz? — perguntou Jeremo, ficando um pouco mais ereto… e um pouco mais pálido.

— Eu cuidarei das pedras de mana, então fiquem tranquilos. Vamos precisar também de pedras de vento e terra, afinal.

Atola e os outros suspiraram de alívio. Aposta que eles entrariam em pânico se tivessem que pagar por isso.

— Suponho que é tudo que podemos discutir — disse Cliff. — O resto anda mais rápido quando vocês mesmos verem o túnel. Hoje, se possível.

— Então, por favor — disse Atola — deixe-me preparar as carruagens.

Ela saiu para falar com Sei… e voltou tão rápido quanto saiu.

— Desculpem a demora.

Cliff não pareceu notar — ou não se importou.

— Elejam um representante para o porto, também. Quero conversar com ele da próxima vez. Não me oponho se for um de vocês.

— Como um prefeito?

— Como um prefeito. Não podemos finalizar discussões sem um representante apropriado para o povo de vocês.

— Sim, claro. Dê-nos alguns dias e teremos um prefeito.

— Então, em alguns dias, me encontre com ele — disse Cliff, satisfeito, passando a conversa para Milaine.

— Agora então — disse Milaine, abrindo um sorriso radiante para Jeremo — o assunto do guild de comércio. Preciso me desculpar mais uma vez pelos problemas causados pela nossa guild-irmã nesta cidade. Eu li a carta de Atola — li de novo, na verdade, e só fiquei mais irritada. Não toleramos esse tipo de comportamento e não vamos ignorá-lo. A punição será a mesma que daríamos em Crimonia.

— Se… se posso perguntar — disse Jeremo baixinho — qual seria exatamente essa punição?

— Execução — disse Cliff sem hesitar. — O porto se tornará parte do meu território, então aplicaremos aqui a mesma punição. Eles assassinaram pessoas, roubaram propriedades, e fizeram isso em uma das minhas cidades. Portanto… execução. Nada de bom viria de deixá-los viver. O povo precisa do consolo frio da justiça.

Os moradores que perderam pais, mães, filhos, avós… ninguém esqueceria aquilo facilmente. Era impossível imaginar simplesmente deixar pra lá.

— Vamos realizar a execução na praça do porto em alguns dias — disse Cliff. — Visível a todos. Depois que a justiça for feita, poderemos virar a página.

— E os ladrões também? — perguntou alguém.

— Se cometeram assassinato ou estupro, pena de morte. Os culpados de crimes menores trabalharão nas minas até ganharem sua liberdade.

Aquilo doeu de ouvir. Ele falava com tanta certeza — julgava e seguia em frente. Claro que eram criminosos horríveis, mas… eu não conseguiria tomar decisões assim com tanta naturalidade. Não como trabalho diário. Cliff realmente… era de outro nível.

— Se algum parente dos condenados tiver reclamações, pode me contatar livremente. Usem meu nome.

Jeremo se curvou vigorosamente. — Entendido. Muito obrigado, Lorde Cliff.

— Não me agradeça. Apenas cumpro meu dever.

— Certo, certo — disse Milaine. — Mas agora, vamos falar sobre o futuro do guild de comércio.

Jeremo ficou rígido.

— Primeiro, preciso perguntar — disse ela. — Esse tal de Jeremo… vocês confiam nele? Ele trabalha bem? Que tipo de pessoa ele é?

Os velhos se entreolharam, depois responderam rapidamente:

— Jeremo não é exatamente diligente, mas entrega seu trabalho.

— Às vezes falta, mas o povo gosta dele.

— Ele estava roubando peixe para distribuir aos pobres, até hoje.

— Verdade. Reclama muito, mas faz o trabalho e tem o coração no lugar.

Depois de mais conversas sobre o caráter dele:

— Nesse caso — disse Milaine — faremos de Jeremo o mestre do guild do porto.

— O quê? — ele piscou. — A última parte.

— O mestre do guild.

— Antes disso.

— Do porto.

— Mas… o mestre do guild? Eu?

— Enviarei alguém para ajudar. Pode aprender no seu ritmo.

— Jeremo — um dos velhos disse — esse pedido também vem de nós. Você trouxe esperança a todos nós.

Outro: — E se quiser matar o dia, pode jogar o serviço nos seus funcionários.

Outro: — Jeremo, estamos implorando.

Os velhos se curvaram. Parecia meio irresponsável eles darem permissão oficial para ele matar aula… mas o mestre do guild de Crimonia também fazia isso, então talvez fosse parte da cultura.

— Yuna, algo a acrescentar? — perguntou Milaine.

— Nope.

Ela me encarou como quem não acredita. Me enfiei dentro do capuz de urso. Ah, capuz… melhor amigo de uma hikikomori.

— Certo — disse Jeremo — eu aceito. Podem parar de se curvar. Se vocês acham que sou bom o bastante, então aceito o julgamento de vocês.

O sorriso de Milaine quando ouviu isso… fez Jeremo ficar vermelho na hora. Talvez fosse a luz. Talvez não.

— Excelente, Jeremo. Tenho documentos importantes para você, sobre o guild. Estude-os assim que chegarem. Informar funcionários e moradores fica por sua conta, Mestre Jeremo.

Depois de mais algumas instruções, ela se virou para Cliff:

— Então está tudo resolvido. Vamos ao guild? Ou…

— Podemos começar pelo túnel. Quero que os funcionários ouçam tudo diretamente de vocês. E precisamos de vocês cinco para examiná-lo como representantes do porto.

— Hm. Suponho que tem razão. Vamos, então?

E lá fomos nós: três mestres de guild (um deles novinho), alguns velhos, uma futura prefeita… e a garota urso que começou tudo isso.

Do lado de fora da guild dos aventureiros, duas carruagens pequenas nos esperavam. Sei estava lá.

— Lorde Cliff, Lady Milaine. Peço desculpas por só podermos preparar carruagens pequenas.

Não era brincadeira — eram minúsculas comparadas à do nobre Gran.

Cliff não ligou. — Está ótimo.

Ninguém no porto tinha uma carruagem extravagante, afinal.

Entramos: Cliff, Milaine, Atola e eu na primeira; Jeremo e os velhos na segunda.

As carruagens começaram a andar.

— Yuna, obrigada por trazer o lorde de Crimonia — disse Atola. — Nunca poderei agradecer o suficiente.

— Eu prometi, não prometi?

— Sim, mas eu não esperava que você… cavasse um túnel através de uma montanha para isso.

Certo, certo, deixaria que pensassem assim, em vez de explicar meu verdadeiro motivo de recrutar um chef de frutos do mar.

Cliff me lançou um olhar.

— Yuna… por que essa cara? Hm! Parece que ela não fez o túnel pela cidade.

— Você não fez? — perguntou Atola.

— Do que vocês estão falando? — falei, péssima atriz.

— Mentiras — disse Cliff.

— Mentiras — disse Milaine.

— Yuna, fale logo.

Traída pelo capuz de urso…

Até Atola me julgava agora?!

Não tinha mais saída. Contei a verdade: o túnel existia para criar uma rota de distribuição para levar frutos do mar a Crimonia… e trazer Anz junto.

Cliff: “…”

Milaine: “…”

Atola: “…”

— Eu simplesmente não acredito — disse Cliff.

— Você fez tudo isso… para trazer um cozinheiro? — disse Atola.

— Não. Digo, sim, mas não SÓ sim. Eu pensei que seria ótimo ter frutos do mar, sim! Mas vocês e o velho Kuro queriam trocar mais com Crimonia, não queriam? Então eu pensei que seria bom ter um túnel! Eu juro que pensei nisso!

Eles me olharam como se minha justificativa tivesse acabado.

— Acho que é melhor não contar nada disso ao velho Kuro e aos outros — disse Cliff.

— Concordo — disse Milaine.

— Sim, seria arruinar a imagem deles — disse Atola.

E foi isso.

Todo o reconhecimento por cavar um túnel gigantesco… caiu como uma pedra no mar.

 

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