Kuma Kuma Kuma Bear Volume 5 – Capitulo 105

A Ursa Resolve Vários Afazeres Antes de Voltar Para Casa

O porteiro do porto me lançou um olhar muito estranho quando me viu entrar. Bem, tanto faz — só mostrei minha carteirinha da guilda e entrei. Ele não era a pessoa de sempre, então talvez fosse a primeira vez que me via?

Mas… enquanto eu seguia para a pousada, percebi que as pessoas da cidade também estavam me olhando do mesmo jeito. Ninguém dizia uma palavra.

Ok, então a estranheza não era só dele — era de todo mundo, porque definitivamente eles falariam algo comigo se tudo estivesse normal. Aconteceu alguma coisa? Acelerei o passo em direção à pousada.

Quando cheguei lá, encontrei Cliff no meio da refeição. Corri até ele na hora.

– Cliff, tem algo acontecendo no porto. Aconteceu alguma coisa?

– Ah, acho que sim.

Eu sabia — algo estava errado. Cliff me lançou um olhar seríssimo.

– O que foi?

– Um urso preto virou um urso branco — disse ele, ainda completamente sério.

Um urso preto virou… espera. Olhei para meu macacão. Ops.

– Então você também tem uma versão branca disso aí, hein?

– GYAAAAAAAAAH!

Quando tudo dá errado, grite e fuja. Fiz exatamente isso, subi correndo para o meu quarto no segundo andar e troquei para minha roupa de urso preto. Argh, eu sei que era só outra cor, mas era tão… tão constrangedor!

Tenho certeza de que era só porque eu não tinha me acostumado a usar essa versão na frente dos outros, mas as roupas brancas me deixavam envergonhada. Por quê? Bem, eu meio que usava elas como pijama, né? Então parecia que eu estava andando de PJs por aí, mesmo sendo iguais às outras, tirando a cor.

Ainda assim, deve ter sido estranho para o pessoal da cidade. Milaine não comentou nada, mas… talvez ela estivesse me olhando de um jeito esquisito justamente por eu estar com o macacão de urso branco.

Voltei até o Cliff.

– Só você está aqui? A Milaine está por aí?

– Ela ainda não voltou. Como está ficando sua casa?

– Você sabia disso?

– Encontrei a Milaine e ela me contou.

– Acho que está praticamente pronta. Falta arrumar por dentro, mas vou comprar tudo o que preciso quando voltar para Crimonia, então aqui terminei por enquanto.

– Eu sei que quase não faz sentido dizer isso pra você, mas qualquer pessoa normal não conseguiria construir uma casa em um ou dois dias — disse ele rindo.

Ele estava brincando, mas… bem, não estava errado, né? Eu deixei passar e pedi uma refeição para o Deigha.

– Então, Cliffy, o que você anda fazendo?

– Bom, amanhã de manhã teremos um comunicado oficial — é quando vou contar sobre o túnel e que o porto está entrando para o meu território. Depois começamos a recrutar trabalhadores para nivelar aquela área. Hoje decidimos os salários desse projeto específico. Complicado… se pagarmos pouco, ninguém vai aparecer; mas se pagarmos demais, vamos sobrecarregar a economia.

Claro, eu não entendia nada disso. Preços de mercado, salários, contratação… ótimo, bacana, mas nada do que eu pudesse ajudar.

– Vai ficar tudo bem?

– Vamos usar os materiais do kraken, então devemos estar tranquilos agora.

– Você vai usar o kraken?

– Sim — você doou as partes do kraken para o porto, não foi?

– Doei sim, não precisava deles.

Cliff massageou as têmporas.

– Yuna. Yuna. Quanto você acha que partes de kraken valem?

(Ugh, lá vai ele ficar bravo só porque eu não sei o que ele sabe…)

– A pele do kraken — disse ele — é um dos melhores materiais impermeáveis que existem, e só ela já vale uma fortuna. A carne também pode ser vendida por um preço alto. E você deu tudo isso… por nada.

– Isso ajuda o porto a se reerguer, certo? Não parece nada demais.

– Você realmente é estranha. Ninguém normal doaria algo assim. Você foi quem os salvou… e teria sido perfeitamente razoável pedir algo em troca.

Cliff suspirou, mas sorriu.

– Eu dei para eles poderem reconstruir, então estou bem com isso, desde que usem para um bom propósito.

– Claro que vamos. Vou vender tudo por um ótimo preço e usar os fundos para manter o túnel. Dinheiro sempre ajuda.

Quando terminamos de conversar, Anz trouxe minha comida. Cliff já havia comido, então estava relaxando com seu chá… e quando eu finalmente comecei a comer, Milaine voltou.

– Oh, Yuna, já está jantando? Cliff, você ainda está esperando a sua?

– Já terminei.

– Terminou? Hmph. Então eu sou a última?

Milaine chamou o Deigha na cozinha, que começou imediatamente a preparar sua refeição.

– E então, como foi lá? — perguntou Cliff.

– A guilda comercial já era pequena, mas agora quatro deles foram presos, incluindo o mestre da guilda. Vamos ficar bem desfalcados, e ainda tem o enorme fluxo de viajantes… — Ela balançou a cabeça. — Desfalcados é pouco. Ainda não temos um prefeito, e vamos ter que procurar conselheiros quando um for eleito.

– Nosso prefeito fujão não tinha nenhum?

– Não, eles mantinham tudo na família e nos amigos antes de fugir com todos os bens.

É, parecia mesmo uma operação familiar daquelas. O primeiro líder era ótimo, mas o segundo e o terceiro faziam tudo um pouco pior.

Cliff tomou um gole longo de seu chá e suspirou.

– Pelo menos você ainda tem gente disponível, Milaine. Eu estou numa situação onde preciso depender da guilda dos aventureiros e dos três anciãos para tudo.

– Deve ser difícil.

– Pessoalmente, seria um alívio se a Atola virasse prefeita, mas aí não teríamos ninguém para comandar a guilda dos aventureiros. Então terei que consultar a guilda de Crimonia… — ele fez um gesto circular com a mão.

– Parece que a única opção é trazer gente de Crimonia o quanto antes.

– E treiná-los.

Parecia que os dois teriam muito trabalho pela frente.

Eu comia enquanto escutava, fingindo que não tinha nada a ver com aquilo.

– Se eu quiser resolver o problema da guilda comercial, Cliff, vou precisar voltar para Crimonia logo. Quando planeja partir?

– Tenho meu trabalho normal e a questão do mestre da guilda que mencionei antes, então estamos mirando no dia depois de amanhã, se possível.

– Serve pra mim. Crimonia é o destino, se quisermos fechar esses assuntos. E você, Yuna?

Claro que sim — eu precisava de móveis para minha casa de urso.

– Tudo bem pra mim.

No dia seguinte, acordei cedo quando Kumayuru e Kumakyu me chamaram, e fui sozinha até o porto. Tinha coisas relacionadas a frutos do mar que eu queria perguntar para Yuula e Damon.

Eu tinha vindo procurá-los aqui, mas os navios estavam no mar, então não estavam no porto.

Cheguei cedo demais, então. Decidi passar o tempo observando o oceano. Andei pelo porto e assisti, um por um, os barcos voltarem do mar cintilante. Todos carregavam montes de peixes, e cada pescador sorria. Eu havia derrotado o kraken e trazido tudo aquilo de volta. Era uma boa sensação.

Enquanto eu observava os pescadores retornarem, alguém me chamou:

– Garota dos ursos, o que você está fazendo no porto tão cedo?

– Vou voltar para Crimonia amanhã, então queria me despedir da Yuula e do Damon. Talvez comprar alguns frutos do mar para levar também.

Isso mesmo, esse era o principal motivo — não dava para voltar para Crimonia sem comprar frutos do mar.

– O quê? Você já vai voltar?

O pescador pareceu desapontado.

– Foi por isso que vim aqui da primeira vez, lembra? Para comprar peixe?

Mas então aquele kraken começou a balançar e atrapalhou tudo…

– Foi? Nesse caso, pode levar quantos quiser da nossa pesca de hoje. É um símbolo da nossa gratidão.

O pescador abriu os braços e apontou para os peixes no barco… e os outros pescadores se juntaram.

– Espera aí. Se for pegar algum, pegue os meus.

– Não, os meus são muito mais saborosos.

– Quer um pouco de polvo?

– Tenho mariscos gigantes aqui!

E assim começou a competição para ver quem me venderia peixes. Tudo havia sido pescado há pouco, então com certeza estava tudo fresco e delicioso.

– Yuna, o que está acontecendo?

E então Yuula e Damon chegaram atrás dos pescadores, interrompendo minha indecisão.

– Vim ver vocês dois porque vou embora amanhã de manhã. E também vim comprar uns peixes fresquinhos desses caras aqui.

— Nesse caso, leve o peixe que eu peguei. E claro, não vamos aceitar seu dinheiro. Você já nos ajudou tantas vezes, afinal. Damon disse isso, e as pessoas ao redor começaram a fazer barulho.

— Ei, Damon! Você não pode aparecer aqui por trás da gente, nos apunhalar e falar isso. A gente também quer que a garota-urso leve nossos produtos. Você não foi o único que ela salvou. Todos nós somos gratos por conseguir pescar assim. Essa é a nossa chance de devolver um pouco do favor.

— Isso mesmo. E os velhos falaram pra gente não chegar perto dela porque íamos causar problema pra ela!

Então o grupo dos velhos tinha proibido eles de se aproximarem… por minha causa? Damon franziu a testa.

— Mas ela também salvou a gente quando estávamos naquela montanha coberta de neve.

— Isso não tem nada a ver agora.

— É. Você não é o único que quer agradecer.

— Todos os pescadores aqui querem mostrar nossa gratidão pela garota-urso.

Isso ia virar uma confusão? Nessas horas, acho que o esperado seria fazer uma pose dramática e dizer: “Parem! Por favor, não briguem por minha causa!”… se eu fosse escrava de clichês e não soubesse ler o ambiente.

— Hãmm… se puderem se acalmar, eu ficaria feliz em pagar um preço justo se me deixarem comprar um pouco do peixe de vocês.

— Não vamos aceitar seu dinheiro, garota-urso!

— Isso mesmo! Não seria um presente se você pagasse.

— Queremos mostrar nossa gratidão, então só aceite.

— Sem chance. Se eu não colocar um limite agora, vai ser difícil comprar peixe de vocês depois.

— Eu daria de graça depois também, garota-urso!

— Não. Eu tenho um restaurante em Crimonia. Vou abrir um negócio de frutos do mar em breve, e quero comprar peixe regularmente, então não posso simplesmente aceitar de graça.

Claro, aceitar uma ou duas vezes tudo bem, mas depois que eu fosse com a Anz, precisaríamos de estoque constante. Para manter boas relações com os pescadores, a primeira impressão seria crucial.

— Tá bom… da próxima vez você compra. Mas hoje você leva de graça.

Olhando para os pescadores, dava para ver que eles não iam abrir mão desse ponto. Então… tudo bem, só por hoje. Mas na próxima, eu compraria.

— E avise a gente se algo acontecer! A gente faz qualquer coisa que você precisar, garota-urso.

Os outros pescadores concordaram com a cabeça. Bem… me colocaram na fogueira, mas… isso me deu uma ideia.

— Então posso pedir um favor?

— O que é?

— O lorde de Crimonia está aqui agora, conversando com os velhos sobre o futuro do porto. Seria bom se vocês não brigassem com eles sobre o que decidirem.

Poderia haver problemas inesperados ao se unir com Crimonia. Eu não queria ver confusão por causa disso.

— A gente não ia se opor ao que os velhos decidirem de qualquer jeito. E se é a garota que salvou o porto que está pedindo, então fechado.

Eles confiavam tanto assim em mim? Era bom… mas ao mesmo tempo, deixava uma pontinha de preocupação. Ainda assim, era melhor do que brigar por minha causa. Agora eu só precisava que Cliff fizesse a parte dele direito. Rezei para que ele conduzisse as negociações de forma tranquila… e fui pegar o monte de frutos do mar frescos que eles me deram antes de sair do porto.

Em seguida, fui para a guilda comercial. Eu precisava falar com o Jeremo.

Ao chegar lá, os funcionários estavam tão ocupados quanto sempre. Como a Milaine tinha dito, o trabalho estava acumulado — vários funcionários tinham sido presos pelos crimes anteriores, então tinha muita coisa pra fazer e pouca gente pra fazer.

Mas a Milaine estava no meio de tudo, dando ordens, um perfeito exemplo de mestra da guilda.

— Milaine, você parece ocupada.

— Oh, Yuna, o que te trouxe aqui? Você não veio ajudar, veio?

— Eu? Não entendo nada disso.

— Bobagem. Só de estar aqui você ajuda. Me acompanhe, isso já basta.

O duro trabalho de… ficar atrás dela?

— Brincadeira, Yuna. O que você precisa?

— Quero pedir algo para o Jeremo. Ele está aqui?

— Ele está enterrado em trabalho na sala dos fundos.

— Então não posso ver ele?

— Hmph. Acho que precisamos dar uma pausa pra ele não desmaiar. Você pode ver ele se ele quiser um descanso.

Isso era o suficiente para mim. Fui com ela até o fundo.

— Estamos entrando! — Milaine abriu a porta sem nem bater.

— M-Milaine?! Eu tô trabalhando, mesmo! Nada de folga aqui! — Jeremo falou rápido, juntando quatro pilhas de papel numa só e pigarreando.

— Eu estava pensando em te dar uma pausa, mas pelo visto você não precisa.

— O quê? Claro que preciso. Estou exausto.

— Ahh, bem… então você pode parar o que está fazendo e falar com a Yuna. Ela precisa de algo. Depois você volta ao trabalho.

— Sim, senhora.

Quando a porta fechou, Jeremo soltou um suspiro enorme. Trabalhar com a Milaine devia ser uma verdadeira montanha-russa.

— Então, senhorita, o que queria falar comigo?

— É sobre a Terra de Wa. Quero te pedir uma coisa.

— A Terra de Wa?

— Sim. Tem algo que quero que você compre quando chegar um navio de lá.

— Posso tentar, mas não sabemos quando outro navio virá. Não chegou nenhum desde que o kraken apareceu.

— Por que eles precisam vir até você? Não dá pra ir até eles?

— Impossível. Não temos navios grandes o bastante para aquelas águas, não aqui no porto.

Ah… então eles realmente não tinham.

Sem arroz, sem shoyu, e definitivamente sem missô. Eu enfrentei um kraken inteiro, mas… no fim… pelo que eu estava lutando? Claro, ótimo para o porto estar em paz e tal, mas… que droga.

— Como porto, dependíamos deles para grande parte da nossa comida. Por enquanto, podemos comprar comida de Crimonia graças a você, então ficaremos bem. Mas tem muita gente aqui que gosta da culinária da Terra de Wa, então será um problema se eles não aparecerem.

Certo. Eles… e uma certa garota-urso também.

— Quando souberem que o kraken foi derrotado — continuou Jeremo — existe a chance de eles voltarem. Tudo que podemos fazer é esperar.

— Ainda assim, pode comprar umas coisas pra mim, se eles vierem? — Coloquei uma bolsa cheia de dinheiro na mesa. — Por favor, compre arroz, shoyu e missô. E qualquer outra comida que puder. Não esqueça dos temperos também — tem que ter os temperos.

— Senhorita… você acha que isso não é dinheiro demais? — Jeremo arregalou os olhos ao olhar dentro da bolsa. Era muita grana mesmo… mas para mim, valeria cada moeda se eu conseguisse arroz, shoyu e missô.

— Ah, e se tiver algo raro — qualquer coisa que pareça especial — compre também, por favor.

— Senhorita, isso é muito dinheiro. Você não teme que eu roube?

— Eu não te conheço tão bem… mas Yuula, Damon, Atola e os velhos confiam em você. Se eles estiverem errados, aí eu só vou assumir que nenhum deles serve de bom avaliador de caráter.

— Ha ha! Então não é que você confia em mim… mas sim nas pessoas que confiam em mim.

— Acho que sim? Afinal, conheci você faz pouco tempo.

— Entendido. Vou cuidar bem do seu dinheiro. Veja só — aqui estão os registros das últimas negociações que fizemos com eles. — Ele me mostrou os papéis. Sim… arroz, shoyu, missô. — Da próxima vez que vierem, talvez as coisas estejam um pouco mais caras. O que quer que eu faça, caso isso aconteça?

— Não me importo se estiver o dobro ou o triplo do preço. Eu compro.

— Certo. E o que faço depois de comprar?

— Apenas envie tudo para a guilda comercial de Crimonia.

A partir de agora, as duas guildas estariam bem conectadas. Seria mais fácil mandar tudo por Crimonia. Dei algumas garantias, alinhei os detalhes e deixei a sala para a última etapa do meu plano:

Esperar — e torcer — para que navios da Terra de Wa aparecessem

 

Comentar

Options

not work with dark mode
Reset