Capítulo 41 – A Vila de Eld e o Dragão Negro.
A vila tava em chamas. Pessoas corriam desesperadas, enquanto um dragão negro voava soberano no céu, cuspindo bolas de fogo. Ele tinha membros fortes, uma cauda longa e asas enormes. Seus olhos vermelhos brilhavam na escuridão, como se estivesse se divertindo com o caos.
— Priorizem o resgate dos aldeões! Tirem os que não conseguem se mexer! — gritou Garun-san.
Os guardas ferinos correram pra ajudar, resgatando quem tava preso sob escombros ou ferido demais pra andar.
— Vamos ajudar no resgate! Não deixem ninguém pra trás! — ordenou Lyon-san, e os soldados de Belfast se juntaram ao esforço.
— Beleza, nosso trabalho é distrair esse dragão e tirá-lo da vila — falei.
O plano era simples: atrair a atenção do dragão e afastá-lo, dando tempo pra Garun-san e Lyon-san evacuarem os aldeões. Eles tinham a missão de proteger Olga-san, então não podiam arriscar lutar contra o dragão. E, como o bicho voava, só eu e Lindsey, que usamos magia, podíamos enfrentá-lo.
— Luz, perfure! Lança sagrada brilhante, [Javelina Brilhante]! — conjurei.
Uma lança de luz cortou a noite, mas o dragão negro desviou com um giro no ar e cuspiu uma bola de fogo na nossa direção.
— [Impulso]! — gritei, usando a magia de reforço físico pra pular pro lado.
A bola de fogo explodiu onde eu tava, espalhando faíscas. Mano, lutar aqui vai destruir a vila ainda mais!
— Kohaku! — chamei.
— Entendido! — respondeu ele, voltando ao tamanho normal de tigre gigante.
— Lindsey, sobe! — gritei.
— T-tá! — respondeu ela, hesitante.
Pulei nas costas de Kohaku, puxei Lindsey pra sentar na minha frente e saímos correndo pro sul da vila.
Olhei pra trás: o dragão tava nos perseguindo, cuspindo bolas de fogo. Kohaku desviava como um ninja, ziguezagueando pela mata. Isso, vem atrás da gente!
Levei Lindsey porque, contra um inimigo voador, só nós dois podíamos atacar. O plano era derrubar o dragão e cortar suas asas. Depois, a gente dava um jeito.
Saímos da floresta e chegamos a uma pastagem ampla, sem obstáculos. Perfeito pra lutar sem causar mais estrago. O problema é que não tinha onde se esconder…
— GRRROOOARRR! — rugiu o dragão, fazendo Kohaku rosnar em resposta.
— Você… ousa insultar meu mestre!? Um lagarto voador acha que pode com a gente!? — rosnou Kohaku, por telepatia.
— Pera, Kohaku, você entende o que ele tá falando!? — perguntei, descendo do tigre, surpreso.
— Ele disse: “Insetos insignificantes que atrapalham meu prazer, vou despedaçar seus corpos e devorá-los”. Esse moleque metido…! É por isso que eu não suporto os seguidores do [Imperador Azul]! — traduziu Kohaku, encarando o dragão com raiva.
— Prazer? Então ele tá atacando a vila só por diversão? Que cara egoísta! — murmurei.
Se fosse por comida ou vingança por invadirem o santuário, eu até entenderia. Talvez só déssemos uma surra e mandássemos ele embora. Mas atacar por pura diversão? Aí não tem perdão.
— Lindsey, vou derrubar ele. Aí você corta as asas — falei.
— Entendido — respondeu ela, com um aceno firme.
Concentrei minha magia e conjurei:
— [Múltiplo]!
Círculos mágicos pequenos começaram a aparecer ao meu redor, apontando pro dragão como plataformas de lançamento. Um virou dois, dois viraram quatro, quatro viraram oito… até passar de cem.
— Luz, perfure! Lança sagrada brilhante, [Javelina Brilhante]! — lancei.
Na hora, 128 lanças de luz voaram contra o dragão. Eu não domino feitiços de alto nível, mas, em quantidade, ninguém me bate. Não tenho um bazuca, mas uma metralhadora dá conta!
— GROAAAR!?
O dragão tentou desviar, mas não tinha como escapar de 128 lanças. Várias acertaram, fazendo-o sangrar e cair no chão. Ele tentou se levantar e voar de novo, mas Lindsey não deixou.
— Água, venha! Lâmina límpida, [Cortador Aqua]! — conjurou ela.
Uma lâmina de água comprimida cortou metade da asa direita do dragão com um som seco.
— GROOOARRR!
O dragão gritou de dor, tentando voar, mas perdeu o equilíbrio e caiu de novo. Perfeito, agora ele não voa mais.
Com um olho vermelho cheio de ódio, o dragão abriu a boca. Não era o mesmo movimento das bolas de fogo. Isso era ruim!
Puxei Lindsey e, com [Impulso], pulei pro lado. Um jato de fogo, tipo um lança-chamas, saiu da boca do dragão, tingindo tudo de vermelho. Ele alternava entre bolas de fogo e baforadas!?
Lindsey tentou outro [Cortador Aqua], mas o muro de chamas bloqueou o ataque, enfraquecendo-o. De repente, uma sombra caiu sobre a cabeça do dragão.
— Haaa! — gritou Yae, descendo com um golpe de espada que cortou o olho direito do dragão.
— [Impulso]! — gritou Elsie, saindo da mata e acertando um soco reforçado na lateral do dragão.
— GRRROOOARRR!
— Ai! Esse cara é duro demais! — reclamou Elsie.
— Pelo menos não regenera como aquele monstro de cristal, de gozaru — disse Yae, recuando.
Furioso, o dragão cuspiu bolas de fogo e baforadas contra as duas, que se esquivaram rápido.
— Cuidado! — gritei.
Aproveitei que ele tava distraído, saquei minha katana e pulei pra cima dele, mirando a cabeça.
— CLANG!
Mesmo com [Impulso], a katana quebrou ao meio com um som metálico. Mano, que bicho duro! Devia ter mirado o outro olho, como Yae. O dragão virou pra mim, erguendo a cabeça e abrindo a boca pra outra baforada. Tô ferrado!
De repente, uma faca voou de algum lugar e cravou no olho esquerdo do dragão. Ele balançou a cabeça, gritando de dor, e cuspiu fogo pro lado.
— [Escorregar]! — conjurei.
O chão sob o dragão ficou liso, fazendo-o perder o equilíbrio e cair de lado. Ufa, por pouco. O [Escorregar] é útil pra caramba, mas não funciona contra inimigos voadores. Quem jogou aquela faca? Yae? Não, ela tava do outro lado. Bom, deixa pra lá.
O dragão rugiu de raiva. Minha katana tava quebrada. Realmente, é um dragão. Preciso de algo com mais penetração.
— Yae, Elsie, ganhem tempo! Lindsey, faz uma barreira de gelo pra mim! Kohaku, protege a Lindsey! — ordenei.
Lindsey concentrou sua magia.
— Gelo, venha! Muro eterno de gelo, [Muralha de Gelo]! — conjurou.
Uma parede grossa e translúcida de gelo apareceu na minha frente. Perfeito.
— [Modelagem]! — conjurei, tocando o gelo.
Transformei a parede num lente de gelo gigante, com uma base pra não cair. O gelo mágico não derrete fácil, então daria certo.
— [Múltiplo]!
Círculos mágicos começaram a aparecer: 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512!
— Luz, perfure! Lança sagrada brilhante, [Javelina Brilhante]! — lancei.
As 512 lanças de luz foram sugadas pela lente, convergindo num único ponto. Usei [Modelagem] de novo pra ajustar a espessura da lente, focando no dragão.
— Toma essa! — gritei.
Um som abafado, tipo “BOOM”, ecoou, e um buraco se abriu no peito do dragão. Ele tombou pra frente, caindo com um estrondo que sacudiu o chão. Sangue escorreu, tingindo a terra de vermelho.
— Conseguimos… — murmurei, aliviado.
— Mandou bem, Touya-dono! — exclamou Yae, correndo pra mim com Elsie.
— Impressionante — disse Lindsey, chegando montada em Kohaku.
— Como esperado do meu mestre. Foi satisfatório — elogiou Kohaku.
Respirei fundo, aliviado, quando a lente de gelo desmoronou com um estrondo. Levei um susto.
De repente, uma sombra cobriu o chão. Olhei pra cima e vi, contra a lua, um segundo dragão, ainda maior, com escamas vermelhas, crina branca e chifres longos.
— Outro!? — exclamei, pasmo.
Enquanto a gente ficava em choque, o dragão vermelho falou.
— Não temos intenção de lutar. Parece que meu compatriota causou problemas. Peço desculpas — disse ele, com uma voz grave.
— Você fala!? — perguntei, surpreso.
— Sou o dragão vermelho, líder do santuário. Vim buscar o rebelde, mas cheguei tarde — respondeu ele, fechando os olhos dourados com um ar triste.
Então ele veio pegar o dragão jovem… Se tivesse chegado antes, talvez a gente tivesse evitado isso.
Num clima meio constrangedor, Kohaku avançou.
— Dragão vermelho, diga ao [Imperador Azul] pra educar melhor seus seguidores — rosnou ele.
— O quê…? Essa presença… Seria você o [Imperador Branco]!? Por que está aqui!? — exclamou o dragão vermelho, chocado.
Fiquei olhando pra Kohaku, boquiaberto. Mano, ele é importante assim?
— Então foi o [Imperador Branco] que derrotou o dragão negro…? Não é à toa que ele não teve chance… — murmurou o dragão vermelho.
— Não se engane. Quem derrotou foi meu mestre, Touya-sama. Esse moleque ousou insultá-lo, e pagou o preço — corrigiu Kohaku.
— O quê!? Um humano é o mestre do [Imperador Branco]!? — exclamou o dragão, me encarando com seus olhos dourados.
Ele desceu ao chão e baixou a cabeça.
— Peço perdão pela ousadia. Foi um incidente isolado, causado por esse dragão negro. Imploro clemência — pediu ele.
— Tá, entendi. Mas é só dessa vez. Diga pros mais jovens não fazerem isso de novo — respondi.
— Sim, prometo. Voltarei ao santuário e garantirei que isso não se repita. Adeus — disse ele, levantando-se, batendo as asas e voando pro sul.
— Que transtorno. É por isso que não gosto do [Imperador Azul]… — resmungou Kohaku, voltando ao tamanho de filhote com um “pop”.
Pelo visto, ele e esse [Imperador Azul] não se bicam. Faz sentido, já que dragões e tigres não se dão bem, né? Olhei ao redor e vi as meninas sentadas no chão, exaustas.
— Que foi, gente? — perguntei.
— Como assim “que foi”? Não conseguíamos nos mexer! — respondeu Elsie, com a voz rouca.
Entendi. Devia ser como Yumina ficou quando convoquei Kohaku. O dragão vermelho devia ser bem poderoso. Talvez aqueles olhos dourados fossem olhos mágicos.
— Touya-san, você… tá de boa? — perguntou Lindsey.
— Tô de boa, sim — respondi.
— Isso é meio injusto, de gozaru… — murmurou Yae.
Bom, deve ser efeito do “deus” que me trouxe pra cá. Eu sinto medo, mas não fico paralisado. Vai entender.
Enquanto pensava nisso, lancei [Recuperação] nas meninas pra ajudá-las a se levantar.