Capítulo 43 – A Capital de Mismede e o Combate contra o Rei Ferino.
— Então é assim… — murmurei, ao chegar à capital Berjue e ver o palácio branco reluzente.
Me lembrou o Taj Mahal, aquele mausoléu de mármore que um imperador indiano construiu pra sua esposa. Claro, não é idêntico, mas a vibe é parecida, com aquele branco brilhante destacando-se no meio da cidade.
Comparada às muralhas e ruas de tijolos secos, o palácio parecia deslocado. Era como se o mundo de As Mil e Uma Noites tivesse um pedaço da Índia no meio. A cidade ainda parecia meio rústica, menos desenvolvida que Belfast, mas a energia das pessoas era contagiante. Várias raças — ferinos, alados, cornígeros — circulavam, criando uma mistura vibrante de culturas. Essa era a cara da capital.
Nossas carroças atravessaram ruas cheias de prédios altos e cruzaram uma ponte longa sobre um canal, até chegarmos ao terreno do palácio. Descemos — eu, Olga-san, Yumina, Elsie, Lindsey, Yae, Garun-san e Lyon-san — e caminhamos por um jardim lindo, com pássaros voando e esquilos nos observando das árvores.
Subimos uma escadaria comprida e entramos no palácio. A luz do sol entrava pelos vitrais do teto, refletindo no mármore branco, quase cegando a gente. Seguimos por um corredor com colunas até uma porta enorme, decorada com detalhes intricados. Os guardas abriram a porta com um rangido, revelando uma sala de audiências com um tapete vermelho e luz entrando pelas janelas altas.
De cada lado, estavam os dignitários de Mismede: ferinos, alados, cornígeros, todos com uma presença imponente. No fundo, num trono elevado, sentava o rei.
Jamukha Blau Mismede, o rei ferino. Um ferino leopardo-das-neves, com uns 50 e poucos anos. Cabelo e barba brancos, ele exalava força e autoridade. Seus olhos afiados tinham um brilho meio travesso, como se estivesse tramando algo.
Nos ajoelhamos e baixamos a cabeça diante dele.
— Vossa Majestade, Olga Strand, retornando de Belfast — anunciou Olga-san.
— Bom trabalho — respondeu o rei ferino, com um leve aceno.
Ele olhou pra Garun-san e Lyon-san, que tavam atrás dela.
— Garun, e o cavaleiro de Belfast, fico grato por protegerem Olga tão bem — disse ele.
— Obrigado, Vossa Majestade — responderam os dois, em uníssono.
Então, o rei virou pra gente, com um sorriso sutil e olhos semicerrados.
— Vocês são os enviados do rei de Belfast, certo? Ouvi que, sozinhos, derrotaram um dragão que atacou a vila de Eld. É verdade? — perguntou ele.
— Sim, é verdade. Essas quatro pessoas aqui derrotaram o dragão negro que atacou a vila — respondeu Yumina, levantando-se com uma postura firme.
— E você é…? — perguntou o rei, intrigado, olhando pra garota que não parecia nem um pouco intimidada.
— Perdoe a demora em me apresentar. Sou Yumina Ernea Belfast, filha de Tristwin Ernes Belfast, rei de Belfast — declarou ela.
Um murmúrio percorreu a sala. Normal, né? Uma princesa aparecendo do nada! Olga-san e Lyon-san, que sabiam da história, ficaram de boa, mas Garun-san arregalou os olhos, chocado.
— A princesa de Belfast? Por que está em nosso país? — perguntou o rei.
— A aliança com Mismede é vital para Belfast. Aqui está uma carta de meu pai. Por favor, leia — disse Yumina, tirando uma carta do bolso.
Quando ela pegou essa carta? Ah, deve ter sido quando fomos pro palácio de Belfast durante o lance do dragão. Um dos conselheiros pegou a carta com reverência e entregou ao rei. Ele abriu, leu rapidamente e sorriu pra Yumina.
— Entendido. Vou considerar o conteúdo com atenção e dar uma resposta em breve. Enquanto isso, princesa e seus companheiros, fiquem à vontade no palácio — disse ele, passando a carta pro conselheiro.
— Bom, chega de formalidades. Tem uma coisa me intrigando… — continuou o rei, olhando pro Kohaku, que tava do meu lado.
Normal que ele chamasse atenção, né?
— Esse tigre branco é companheiro de vocês? — perguntou ele.
— Sim. Ele é, tipo, um… ajudante do Touya-dono — respondeu Yumina.
— Grr — confirmou Kohaku, com um grunhido curto.
Em Mismede, tigres brancos são sagrados. Chamar Kohaku de “ajudante” pode soar estranho, mas como ele não tá com coleira ou corrente, ninguém reclamou. O rei encarou Kohaku por um tempo, depois olhou pra mim.
— Entendi… Um guerreiro que comanda um tigre branco e derrota dragões. Heh, faz tempo que meu sangue não ferve assim. Que tal, Touya? Uma luta comigo? — propôs ele, com um sorriso empolgado.
— Hã? — soltei, completamente perdido.
Os conselheiros ao redor suspiraram, como se já esperassem por isso. Mano, o que tá rolando?
Atrás do palácio branco, tinha uma arena enorme, tipo o Coliseu de Roma. Esse país é uma salada cultural mesmo.
Fui arrastado pra cá pra lutar com o rei ferino. Como assim, cara?
— Desculpa, Touya-dono. O rei não resiste a desafiar quem parece forte. Tô sendo honesto, isso é um problema pra gente — disse Glatz-san, o primeiro-ministro, um alado com asas cinzas, na casa dos 40 e poucos, vestindo uma túnica cinza e com bigode.
— Acho que seria bom ele levar uma surra. Vai com tudo — acrescentou ele.
— Peraí, ele é o rei de vocês! Tá de boa com isso? — perguntei, atônito.
Os outros conselheiros começaram a reclamar também.
— Pode mandar ver! O rei acha que assuntos de estado são o quê? Sai por aí, invade os treinos dos guerreiros e deixa todo mundo no chão! — disse um.
— Outro dia, ele sumiu dizendo que teve ideia pra uma arma nova e foi correndo pra forja! Sabe o quanto atrasou minha agenda? — reclamou outro.
— Ele me falou de fazer um torneio de luta nacional! De onde vem o orçamento pra isso, hein!? — gritou mais um.
Mano, esses caras sofrem com o rei. Ele é excêntrico pra caramba. Quer dizer, o rei de Belfast também é meio doido, mas…
Peguei uma espada de madeira e fui pro centro da arena. Nos assentos, tavam minhas amigas, os conselheiros e os capitães dos guerreiros de Mismede. O rei já tava lá, com uma espada de madeira numa mão e um escudo de madeira na outra. Recusei o escudo, porque atrapalha meus movimentos e não tô acostumado.
— As regras: a luta acaba quando um golpe seria fatal com uma arma de verdade ou se alguém se render. Magia é permitida, mas ataques mágicos diretos no corpo são proibidos. Tudo claro? — explicou o juiz, um cornígero de pele morena.
Nada de ataques mágicos diretos, hein? Os conselheiros querem que eu vá com tudo, então acho que não preciso me segurar.
— Sério que vamos lutar? — perguntei, ainda meio incrédulo.
— Heh, sem piedade. Luta como se fosse pra valer e tenta me vencer! — disse o rei, rindo, todo empolgado.
Mano, ele tá a fim mesmo. Não parece ter 50 anos com esse físico de lutador. Beleza, se é assim, vou no modo combate real.
O juiz levantou a mão, olhou pra nós dois e a baixou com força.
— Começar! — gritou ele.
— [Escorregar] — conjurei.
— Opa!? — exclamou o rei, caindo de bunda com um tum épico.
Aproveitei e corri, apontando a espada de madeira pro pescoço dele.
— Acabou — declarei.
— Pera, pera! Isso não vale! Que magia foi essa!? — protestou ele, se levantando.
— Minha magia sem atributo, [Escorregar]. Disseram que magia de ataque direto é proibida, então tá de boa — expliquei.
— Não, não, não! Isso é fora das regras! Não é nem questão de luta! — insistiu ele, fazendo birra.
Entendo o sentimento, mas, num combate real, essa é a tática mais eficaz. Não funciona contra quem voa, mas contra o rei? Perfeito.
— De novo! Sem essa magia! — exigiu ele.
— Beleza, e aí, o que acham, Glatz-san e cia? — perguntei, olhando pros conselheiros.
Eles pareceram confusos por um segundo, mas logo abriram um sorriso malicioso.
— Sabe, mais que isso atrapalha os assuntos do reino — disse Glatz-san, com um tom debochado.
— Glatz, não fala assim! Só mais uma, vai! — implorou o rei, correndo até ele.
— Mesmo assim… — retrucou Glatz-san.
O rei começou a negociar com os conselheiros, dizendo coisas como “vou trabalhar direitinho!” e “não vou mais fugir!”. Eles impuseram várias condições, e o rei acabou cedendo, com os ombros caídos. Será que fiz algo errado?
— Touya-dono, por favor, mais uma luta com Sua Majestade! — pediu Glatz-san, com um sorriso satisfeito.
O rei voltou pro centro da arena, parecendo meio irritado.
— Beleza, sem aquela magia, hein? — disse ele, apontando pra mim.
— Entendido — respondi.
O juiz recomeçou a luta, baixando a mão.
— Começar! — gritou.