Kuma Kuma Bear Volume 2 – Capitulo 43

A Ursa se Mobiliza pelo Orfanato

Voltei para a Casa da Ursa e pensei nas três necessidades básicas do orfanato. As roupas podiam esperar; a comida voltaria a ser um problema em poucos dias; quanto ao abrigo, eles estavam bem por enquanto.

O maior problema com certeza era a comida. Assim como o vendedor da barraca havia dito, eu não poderia reabastecê-los todos os dias, mas também não podia voltar atrás com o que já havia oferecido. Enquanto refletia sobre isso, ouvi uma batida na porta e a voz da Fina me chamando.

— Fina, já terminou de cortar a víbora?
— Sim, e o Guildmaster está te chamando.

Como eu não estava fazendo progresso com a situação do orfanato, fui até o sindicato com Fina me acompanhando.

— Ah, você veio — o próprio Guildmaster me recebeu.

— E aí, como tá a víbora negra?
— Já está guardada na câmara fria.

Fomos até lá dar uma olhada. A pilha de pele, carne e presas estava empilhada como uma montanha.

— Quanto a guilda gostaria de ficar?
— Não existe isso de “demais”.
— Que tal metade?
— Um pouco mais.
— E se eu ficar com um terço?
— Hmm, acho que tá bom.

O Guildmaster assinou a papelada e eu armazenei minha parte garantida no Armazém de Urso.

— Aqui está a gema de mana. Na verdade, eu preferia que você tivesse vendido isso também.

Como se precisa de gemas de mana pra fazer um monte de coisas, eu andava guardando as que conseguia. Não fazia ideia do que faria com essa, mas vender não era uma opção.

— Vai demorar um pouco pra te pagar com esse volume todo.
— Pode me pagar quando der.

Ao sair, o sol já estava se pondo. Voltei direto pra Casa da Ursa, jantei, tomei banho e me deitei.

Não conseguia pensar em como ajudar o orfanato usando os materiais da víbora negra. Eu poderia vender tudo e doar o dinheiro, mas aí seria uma ajuda única.

Abri minha tela de status. Ultimamente só vinha enfrentando monstros de rank baixo, então não estava subindo de nível. A víbora negra parece que me deu o impulso necessário — subi de nível e ganhei uma nova habilidade.

Portal de Transporte do Urso
Criando portais, pode se mover entre eles.
Com três ou mais portais criados, pode viajar para um local específico apenas imaginando-o.
Esse portal só pode ser aberto com a pata de urso.

Oooooh, pensei. Isso sim era útil.

Mas eu teria que configurar os portais antes. Seria mais conveniente se eu pudesse só imaginar o lugar e me teletransportar direto. Ainda assim, a habilidade era mais do que útil, então fiquei grata. Quis testar na hora, então me levantei e instalei um portal no meu quarto. Uma porta dupla com relevos de ursos se instalou na parede vazia. Era bem maior do que eu imaginava — larga o suficiente pra Kumayuru e Kumakyu passarem com folga.

Fui até um cômodo no primeiro andar, instalei o segundo portal e liguei direto com meu quarto do andar de cima.

Se fosse instalar portais fora de casa, precisava escolher locais com cuidado. Eles não desapareceriam após o uso. Tinha que pensar se carregaria sujeira pra dentro, ou se estaria viajando com meus ursos… havia mais logística envolvida do que eu pensava. Se fosse só teletransporte simples, não teria esse problema. E seria ótimo poder escapar de lutas assim, mas fazer o quê.

Desinstalei o portal e me deitei, pensando quando a Fina apareceria.

Hmm… “Portal de Transporte do Urso” era meio longo. Talvez só “Portal do Urso”?
Senti um arrepio. Talvez estivesse resfriada. Decidi deixar o nome pra depois e fui dormir cedo.

Na manhã seguinte, preparei de novo um sanduíche com ovo frito e legumes. Enquanto mordiscava o pão, o deus das boas ideias me abençoou.

Claro! Eu já sei o que fazer! Dei uma mordida decisiva.
Ovos. Se eu pudesse produzi-los e vendê-los…

Depois do café da manhã, fui até o sindicato dos comerciantes. Parecia haver muito mais gente lá do que da última vez. Não — com certeza havia muito mais. Estavam entupindo a entrada. Me perguntei se conseguiria entrar com aquela confusão.

Enquanto esperava a multidão abrir caminho, ouvi algumas vozes conhecidas:

— É a urso.
— A urso mesmo?
— A urso que matou a víbora negra?

Quando dei um passo, as pessoas abriram caminho como se eu fosse Moisés partindo o Mar Vermelho. Entrei sem hesitar e procurei por Milaine, que havia me ajudado da última vez. A encontrei, mas ela estava ocupada. Justo quando comecei a reclamar em voz baixa, ela terminou e me notou.

— Yuna! — chamou. — O que houve?

— Queria te perguntar uma coisa, Milaine.

Olhei para a fila de pessoas esperando atendimento e me perguntei se ela podia mesmo me atender.

— Eu te escuto.
— Tem certeza?
— Tá tudo bem. Vou chamar alguém pra me substituir. Vamos conversar ali.

As pessoas na fila me lançaram olhares bem duros. Ok, tecnicamente eu furei fila, mas não foi por mal, certo?

Milaine chamou uma funcionária e me levou a outra sala.

— Está bem cheio aqui. Aconteceu algo?

Você tá perguntando isso?

Ela me olhou como se estivesse exausta.

— …?
— Ahh…

Ela suspirou.

— Parece que você tá falando sério. Todo mundo aqui veio pra comprar os materiais da víbora negra que você matou. Desde ontem tá um caos. Temos pouco, mas todos querem demais.

— Sério?
— As peles e as presas são super populares. A carne também é de primeira, tem comerciantes levando pra capital pra vender.

— É tão popular assim?
— Sim, tudo graças a você. Estamos lucrando horrores por sua causa.

Ela fez uma reverência leve.

— Então, o que você queria perguntar? Faço até um esforço extra, se for o caso.

Agradeci internamente e fui direta:

— Tem um orfanato, né?
— Aquele nos arredores da cidade?
— Isso. Você pode me vender o terreno ao redor dele?

— Terreno perto do orfanato? Vou verificar os registros, me dê um momento.

Milaine saiu da sala e voltou com documentos num piscar de olhos, como sempre.

— Sim, tudo certo. Ninguém usa aquela terra.

— Ninguém usa por causa do orfanato?
— Sendo bem direta, são crianças sem educação. Mesmo que alguém quisesse construir lá, ficaria com receio de que causem problemas. E como é afastado, pouca gente se interessa.

— Então posso comprar?
— Pode sim, sem problema.

— Nesse caso, quero comprar um pedaço.
— Com licença, mas… pra que você vai usar?
— Hmmm, é segredo.
— Segredo?

— Ainda não sei se vai dar certo.

Paguei o valor que ela indicou e recebi a escritura do terreno ao redor do orfanato. Voltei à Casa da Ursa e instalei um portal no depósito. Com isso pronto, saí da cidade e chamei Kumayuru. Se fosse agora, conseguiria chegar antes do pôr do sol.

Cavalguei de volta até a vila onde derrotei a víbora negra. Foi uma viagem mais rápida, agora só com um passageiro. Me arrependi de não ter checado meu status antes — poderia ter instalado um portal já naquela ocasião e evitado essa segunda viagem. Mas agora era tarde pra reclamar.

Dessa vez, não entrei na vila; fui direto para as montanhas próximas. A luz do dia já estava indo embora.

— Será que aqui é bom?

Depois de alguns minutos procurando, achei o lugar perfeito, debaixo de um penhasco. Talvez funcione… Pensei. Provavelmente ninguém passaria por ali.

Desci o penhasco e cavei um túnel. Fiz largo o bastante para Kumayuru e Kumakyu passarem, e escavei uma caverna no fundo. Criei algumas luzes de urso para continuar o trabalho no escuro.

Deixei os detalhes para depois, fechei a entrada com um feitiço de terra e instalei um portal.

— Estou em casa.

Voltei instantaneamente para o depósito da Casa da Ursa. Essa habilidade era mesmo maravilhosa.

 

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