Bem cedo na manhã seguinte, usei o Portal do Urso para ir até a vila. Quando cheguei, um dos moradores me viu se aproximando e veio ao meu encontro.
— O que aconteceu? — ele perguntou.
— Gostaria de falar com o chefe da vila, se possível.
— Claro, acho que não há problema.
O morador me guiou educadamente até a casa do chefe da vila.
— Ora, se não é a Yuna. A que devo a honra? — disse o chefe com um sorriso.
— Bom dia. Preciso de um pequeno favor…
— Escutarei qualquer pedido seu.
— Sobre aquele kokekko que vocês me deram outro dia… É possível capturá-los vivos?
— Você quer vivos? Se montarmos armadilhas, deve ser fácil.
— Nesse caso, poderiam capturar alguns para mim? Quero os ovos, então gostaria de pegar as fêmeas, se possível.
— Um favor desses para quem salvou a vila? Quantos você gostaria?
— Quanto mais, melhor. Mas não quero comprometer o suprimento de comida da vila, então apenas o que não prejudicar vocês.
— Entendido. Vamos mobilizar quem estiver disponível para caçá-los imediatamente.
— Obrigada.
Se conseguisse kokekkos vivos, teria ovos fresquinhos.
— E enquanto isso, o que gostaria de fazer?
— Quanto tempo acha que vai levar?
— Acho que até a tarde já teremos alguns.
— Então volto mais tarde. Tenho outras coisas para resolver nas montanhas.
Com mais uma tarefa riscada da lista, voltei para a caverna onde estava o portal. Ao chegar lá, apaguei o portal temporariamente. Usei bastante magia de terra para ampliar o espaço e construir uma casa térrea em forma de urso, com cozinha, banheiro, quarto de banho e um quarto pessoal. Iluminei tudo com gemas de mana. Para finalizar, instalei o Portal do Urso ao lado da entrada da casinha. Base número um, concluída.
Quando voltei à vila, havia cerca de vinte kokekkos amarrados me esperando — mais do que eu esperava.
— Tem certeza que posso levar tantos?
— Os próximos filhotes vão crescer logo, e como não temos monstros por aqui, é um ambiente ideal. Pode levar sem se preocupar.
Será que a víbora negra desceu até uma vila humana porque não achava monstros para comer?, pensei.
Pedi para os moradores amarrarem os kokekkos no Kumayuru e Kumakyu para que não caíssem. Seria ótimo se eu pudesse guardar animais vivos no Armazém de Urso, mas não tinha esse luxo — tinha que aguentar.
— Vai embora agora?
— Quanto antes chegar em casa, melhor.
— Queríamos oferecer alguma hospitalidade…
— Já fizeram mais que o suficiente.
Tentei pagar pelos kokekkos, mas o chefe da vila não aceitou.
— De forma alguma. Não podemos cobrar da salvadora da nossa vila.
Mesmo assim, forcei o dinheiro nas mãos dele e fugi com meus ursos a toda velocidade. Voltei direto para a caverna e atravessei o portal até minha casa em Crimonia. Teria ido direto ao orfanato, mas não podia andar pela cidade com os ursos — causaria um escândalo. Decidi esperar até o anoitecer. Deixei os kokekkos amarrados nos ursos. Eles provavelmente não vão morrer por isso.
Quando anoiteceu, os ursos despertaram. Corremos pelas ruas escondidos pela escuridão. Usar o portal não seria mais fácil? Talvez… mas eu queria muito atravessar a cidade montada em um urso.
Passamos pelo orfanato e chegamos ao terreno que eu havia comprado. Desci do Kumayuru e avaliei o local. Acho que esse espaço serve bem.
Ergui um galinheiro com magia de terra e cerquei tudo com um muro de três metros de altura. Com essa altura eles não devem fugir, né?
Levei os ursos para dentro do galinheiro e soltei os kokekkos. Eles começaram a andar pelo espaço livre. Fiquei bem aliviada ao ver que ainda estavam vivos.
Na manhã seguinte, depois do café, fui até o orfanato. Encontrei as crianças reunidas do lado de fora do muro do galinheiro.
— Ursa! — gritaram ao me ver.
Correram em minha direção.
— Apareceu um muro da noite pro dia! — um deles gesticulava tentando explicar, todo empolgado.
Coloquei a mão na cabeça da criança.
— Eu que fiz.
— Sério!?
Todos ficaram de queixo caído.
— Enfim, preciso falar com vocês e com a diretora. Vamos entrar.
Lá dentro, encontrei a diretora junto a uma mulher com cerca de vinte anos — já imaginava quem era.
— Liz — disse a diretora —, essa é Yuna, aquela do outro dia. Mais uma vez, muito obrigada.
— Muito obrigada pela comida — Liz se curvou.
— A que devo sua visita hoje?
— Estava pensando se seria possível dar um trabalho para as crianças. Eu, claro, pagaria um salário justo.
— Vai dar emprego para elas?
— Não se preocupe, não é nada perigoso.
— Que tipo de trabalho seria?
— Viram o muro lá fora?
— Vimos. As crianças ficaram agitadas desde que apareceu.
— Fiz ontem à noite. Queria que as crianças cuidassem das aves que estão ali dentro.
— Você… fez aquele muro em uma noite?
— Você quer que cuidem de aves?
Expliquei que havia feito o muro e descrevi o trabalho: recolher ovos pela manhã, limpar o galinheiro e cuidar dos kokekkos. Falei também que não era para comer os bichinhos.
— Em outras palavras, vai abrir um negócio de vender ovos?
— Bom, considerando quanto custa um ovo por aqui… é, vou sim.
— Tem certeza que quer pagar por isso?
A diretora me olhou incrédula.
— Tenho outras tarefas planejadas pra mais tarde. Mas por enquanto, é isso. O que acham?
Ela olhou para as crianças.
— Bem, crianças? Parece que a Yuna tem um trabalho pra vocês. Se trabalharem, vão poder comer. Se não, voltamos àquela situação de poucos dias atrás. A Yuna não pode trazer comida sempre.
As crianças ouviram a gente atentamente. Depois de trocarem olhares, todas assentiram juntas.
— Eu faço!
— Por favor, me deixa ajudar!
— Também vou!
— Eu também!
— Eu também!
Fiquei feliz com a empolgação.
— Então posso contar com todos vocês?
— Sim!!
— Yuna, deixo as crianças aos seus cuidados — disse a diretora, fazendo uma reverência.
— Claro. Ah, posso contar com a Liz?
— Comigo?
— Isso. Quero que você coordene as crianças.
— Sem problema, se é isso que precisa dela. Liz, escute tudo o que a Yuna disser.
— Sim, diretora.
Fui direto ao galinheiro, com as crianças atrás de mim. Lá dentro, os kokekkos estavam cochilando.
— Aqui estão as tarefas de vocês:
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Em dias de sol, soltem as aves logo cedo.
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Recolham os ovos no galinheiro.
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Limpem o local.
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Dêem água e comida.
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Depois, tragam os kokekkos de volta.
— Conseguem fazer isso?
Todas concordaram prontamente.
— Certo, podem soltá-los. Os ovos que elas botarem vão virar seu dinheiro pra comida, então tratem com carinho, tá?
As crianças confirmaram que entenderam.
— Coloquem os ovos nessas caixas.
Conjurei dez caixas de ovos com magia de terra, cada uma com dez espaços. No primeiro dia, as crianças encheram uma caixa. Achei bom, considerando que eram só vinte kokekkos.
— Liz, tem restos de vegetais?
— Sim…
— Posso dar para as aves?
— Bom…
Mesmo sendo só restos, Liz tinha ido buscá-los com esforço, então era natural ficar hesitante.
— Não vou pedir pra confiar em mim ainda, mas esses vegetais vão alimentar as aves para que elas botem mais ovos.
— Entendi…
Não sei se ela realmente acreditou, mas deu permissão.
— Certo, Liz, posso deixar o resto com você?
— Vai sair?
— Agora que temos ovos, hora de vendê-los.
Peguei a caixa cheia e parti para a próxima parada da minha lista.